Havia algum tempo, Murphy não passava o dia inteiro me fazendo companhia. Lembram do Murphy? Murphy é aquele cara das melhores tiradas pessimistas do mundo e compiladas em um livro de leis, as Leis de Murphy. Murphy, o criador das leis, existiu. Foi um capitão da Força Aérea americana. Chamava-se Edward Murphy. Como só poderia acontecer, foi a primeira vítima conhecida de sua própria lei.
Edward Murphy era um dos engenheiros envolvidos nos testes sobre os efeitos da desaceleração rápida em piloto de aeronaves. Para poder fazer essa medição, construiu um equipamento que registrava os batimentos cardíacos e a respiração dos pilotos. O aparelho foi instalado por um técnico, mas simplesmente ocorreu uma pane, com isso Murphy foi chamado para consertar o equipamento, descobriu que a instalação estava toda errada, daí formulou a sua lei que dizia: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”.
SE ALGUMA COISA TEM A MAIS REMOTA CHANCE DE DAR ERRADO, CERTAMENTE DARÁ
Como havia escrito no post ALTERNATIVAS PARA O DRESS CODE “TRAJE RECEPÇÃO”, eu tinha na agenda de ontem o compromisso de comparecer a um evento no Barra Shopping Sul. Tratava-se de um evento anual que concede uma homenagem aos funcionários do Grupo RBS que completam 10, 20, 30, 35 anos de casa. Eu tenho seis, não iria receber homenagem alguma. Mas tinha a incumbência de subir ao palco ao lado do Neto Fagundes para entregar uma parte das premiações.
Faz exatamente um ano neste dezembro de 2014 que uma sacola de roupas minhas que casariam perfeitamente com a ocasião jaz esquecida num canto do meu closet. É inacreditável, mas faz exatamente um ano que eu tenho quatro vestidos e um macacão que resolveriam perfeitamente a minha vida enfiados em uma sacola sem ir para a lavanderia. Em três momentos, neste período de um ano, eu tentei levar para a lavanderia, mas ou a fila era enorme ou a lavanderia estava fechada. Assim sendo, durante este ano a sacola habitou diferentes cômodos da casa: o closet, o hall de entrada, a despensa, a cozinha, o porta-malas do carro e o closet novamente.
Assim sendo, pedi um help para minha amada mãe e fui até a Bob Store escolher o figurino para a ocasião. Como tinha em mente calça e blusa, acabei optando por uma calça branca de alfaiataria e uma camisa amarela de seda. Coloquei um máxibrinco e um scarpin em tom café. Poderia ter tirado uma foto do look completo? Poderia, claro. Se Murphy não tivesse montado no meu cangote ontem, eu teria tirado várias fotos do meu figurino.
MAS O ESPÍRITO DE EDWARD MURPHY NÃO ME DEIXOU EM PAZ
A célebre frase “se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”, deu-se. E eu cheguei à conclusão definitiva (já havia comentado no post OS TRUQUES E PRODUTINHOS DA MAQUIADORA PREFERIDA DAS TOPS) que não posso mais ser refém de maquiadores e salões para aprender a me arrumar para uma ocasião. Dois mil e quinze será o ano da liberdade.
ELA PEDIU PARA A ROSA LIMPAR OS PINCÉIS
Já dei até meus pincéis de maquiagem para a Rosa lavar e higienizar agora de manhã. Estou decidida a aprender a me maquiar como ninguém mais saberá fazer – a fim de evitar a catástrofe que se abateu ontem sobre mim, com um Murphy me dando laço no costado. Resumo da ópera: fiquei sem luz para passar minha roupa, corri até uma lavanderia mais próxima, supliquei para furar a fila, saí de lá correndo para o salão de um maquiador, deixei o salão parecendo uma boneca de porcelana (com todas as sardas do meu rosto escondidas sob um reboco de maquiagem), dirigi desesperada para casa a fim de me enfiar embaixo do chuveiro e começar tudo de novo, lembrei da Bê, a salvadora da pátria, que agora está com um liiiiindo salão na Felipe Néri, mandei um Whats App pra Bê, Bê disse que me ajudaria, atirei o carro na Felipe Neri e corri feito uma boneca de porcelana histérica até o salão; removi toda a maquiagem, fiz tudo de novo, Bê me colocou na pia, arrumou todo meu cabelo de novo.
JÁ ERAM 4H E EU PRECISAVA ESTAR NO BARRA ÀS 3H
Telefonei para o Barra, falei que perderia o ensaio, saí da cadeira da Bê, vim para casa, enfiei a roupa, cheguei toda amassada por causa do cinto de segurança, fui até o banheiro me recompor, achei melhor fazer um rabo de cavalo, na última volta do rabo de cavalo a borrachinha arrebentou, saí correndo até a Pente Fino do Barra para comprar outra borrachinha, a borrachinha que eu gosto (aquela beeeem fininha de silicone) tinha acabado, comprei meia dúzia de grampinhos, voltei para o banheiro, prendi uma lateral do cabelo com três grampinhos, passei na Saraiva, almocei um pão de queijo com café, me despenquei até o centro de eventos e pedi:
CHEGA DE PROVAÇÃO, SENHOR, POR FAVOR
AFASTE MURPHY DE MIM QUANDO EU SUBIR AO PALCO
Acho que sim. Porque das 19h, hora que subi ao palco, até às 22h, quando já estava sentada com minha querida família em uma das mesas do Le Bistrot para comemorar o aniversário de casamento dos meus queridos pais, senti uma trégua de Edward Murphy. Então, pensei em chegar em casa e, passada toda a tormenta, poder mostrar o figurino que havia escolhido para o dress code Traje Recepção. Mas foi então que de repente, não mais que de repente….
A bandeja do garçom ameaçou virar para a direita, para a esquerda, para a direita, para a esquerda… E virou para a direita. E assim dois cálices cheios de vinho tinto, que em nenhum momento deveriam ter sido retirados de cima da mesa, desabaram sobre Mariana. A cor roxa do vinho promoveu uma espécie de tie-die na calça branca da Mariana; a uva roxa do vinho pintou de roxo uma das mangas amarelas da camisa de seda amarela da Mariana. Uma lágrima escorreu pelo canto do olho esquerdo da Mariana. A calça branca e a blusa amarela jazem neste momento em um balde com Vanish.
E eu juro duas coisas aos céus:
1) Me torno garota-propaganda voluntária de Vanish se ele resolver o desastre que ficou minha roupa.
2) Vou caçar Edward Murphy até o fim do mundo e nas próximas encarnações.