Bronzeado que vicia

Quando eu era pequena, tinha uma bronca com a minha mãe. Em todas as férias escolares de julho, ela nunca nos deu opção de escolha entre praia ou neve. Era sempre praia. Praia, praia, praia. Quando novembro chegava, e a temperatura já convidava para um mergulho na piscina, ai da gente se resolvesse ficar dentro de casa.

– Já para o sol! Já para a piscina – ela dizia.

E saía pela casa tirando livros da nossa mão, desligando a TV, recolhendo brinquedos.

– Vocês têm que aproveitar o sol!!

Eu até hoje odeio piscina.

Bom, fato é que cresci e, já mais velha, em um belo dia de primavera, enquanto minha mãe se estatelava no pátio de casa após o almoço para pegar sol (e eu lembrava de todos esses episódios da infância diante daquela cena), disse:

– Mãe, acho que tu é viciada em sol.
– Tu acha? – ela levantou a cabeça. – É óbvio que sou viciada em sol. O sol tem relação direta no meu humor, na minha vida.
– Nossa… – pensei. – A relação mãe-sol é mais séria do que eu imaginava.

Lembrei do caso de amor da minha mãe com o sol ao ler hoje a notícia do New York Times de que bronzeamento artificial pode ser viciante. Diz a reportagem que as máquinas de bronzeamento artificial podem provocar experiências negativas na atividade cerebral e que tais reações são similares ao efeito gerado pelas drogas no cérebro, já identificadas em dependentes químicos.

Um estudo realizado em 2005 mostrou que grande parte das pessoas que gostam de tomar sol apresentam um comportamento similar ao de alcoólatras. A conclusão foi gerada por meio de testes similares aos que são aplicados para identificar a dependência alcoólica.

A descoberta mostra que várias partes do cérebro envolvidas na dependência química, foram ativadas quando os participantes foram expostos aos raios UV – daí porque muita gente não consegue se livrar do vício das câmeras de bronzeamento

Diz Bryon Adinoff, um dos autores da pesquisa e professor de psiquiatria da Southwestern Medical Center, na Universidade do Texas, nos EUA:

– O que o estudo mostra é que o cérebro responde à luz UV. Tal interação é vista em áreas que estão associadas ao mecanismo cerebral de recompensa.

Minha mãe também foi viciada em máquinas de bronzeamento artificial. Mas isso é coisa do passado. O vício que permanece é o do cigarro. Mas livrá-la desse, hummmm…. É beeeeem mais complexo.

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

Sem comentários ainda.
  1. Sabias que foi criada uma palavra, em inglês, para definir esse vício em bronzeamento artificial? Tanorexia.
    Alguns famosos tanoréxicos assumidos são Donatela Versace e Giorgio Armani.

  2. Sabias que foi criada uma palavra, em inglês, para definir esse vício em bronzeamento artificial? Tanorexia.
    Alguns famosos tanoréxicos assumidos são Donatela Versace e Giorgio Armani.

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