Ainda não sinto dor nos ombros nem na região lombar. Meus olhos estão um pouco vermelhos, mas isso é efeito imediato do computador, não tem jeito. Fato é que passados meus 20 e poucos dias de férias, aqui estou sentada na frente de uma tela neste primeiro dia de volta à redação de Donna. Tomei pé mais a fundo de vários assuntos que gostaria de me dar meu pitaco, já que o blog é meu e dou pitaco no que bem entender. O problema é que são assuntos de maior profundidade e que requereriam de mim momentos de silêncio e reflexão para a escrita – e não estou podendo ter esse silêncio neste momento.
Se deste silêncio e desta reflexão pudesse eu usufruir nessa segunda-feira de calor insano em Porto Alegre, me manifestaria a respeito do fuzilamento do brasileiro na Indonésia, do promotor que denunciou os Kirchner e foi encontrado morto em Buenos Aires e do aumento que o governador Sartori promoveu ao próprio salário 9acabo de saber que ele voltou atrás). Pretendo me deter em cada um desses assuntos assim que colocar em dia o que os 20 dias fora daqui trataram de acumular na minha ausência.
Enquanto esse dia não chega, falo de algo que requer menos silêncio e reflexão. Estou me referindo à moda Kawaii. Já ouviram falar? Trata-se de uma tendência forte que vem tomando grandes proporções. Ela brinca com o universo das cores pastel, das roupas de contos de fadas. Sem tradução para o português, kawaii tem a ver com o que é doce, terno, bonito, com o lúdico.
HELLO KITTY, A MUSA DAS BALZAQUIANAS, É KAWAII
A NOVELA MEU PEDACINHO DE CHÃO FOI KAWAII
TANTO QUE ELE É AMIGO DA HELLO KITTY…
E ILUSTRA ATÉ CARTÃO DE CRÉDITO NO JAPÃO!
É um estilo que ganha adeptos além do Japão. Kawaii também é Angelic Pretty, grife de moda que foi uma das marcas mais mencionadas nas redes sociais em 2014, de acordo com o relatório Tumblr. Detalhe: mais do que Prada e Yves Saint Laurent.
MUITO PRAZER, SOMOS A MARCA ANGELIC PRETTY
É uma tendência nascida claramente no Oriente. Disse o jornalista Kazuhiko Sato em uma entrevista para a Businessweek: “Aqui no Japão, sempre esteve presente, independentemente de ser a tendência do momento”.
Sato foi o diretor de redação da Cawaii, uma revista feminina criada no final dos anos 1990 para condensar este estilo infantil e terno. Fechou em 2009, mas durante a década em que esteve em funcionamento, a Cawaii manteve uma tiragem de meio milhão de exemplares.
MUITO PRAZER, SOU UM EXEMPLAR DA CAWAII
“Nos fins de semana, os centros comerciais em Tóquio são um mundo onde os adultos foram relegados. Como se tivessem limpado as ruas de pessoas que ultrapassam os 30 anos”, publicou a revista New Yorker em um artigo dedicado a Harajuku, distrito de Tóquio que condensa as novas subculturas. Obrigados durante séculos a roupas tradicionais e práticas institucionais de respeito à linhagem e à família, o Japão se faz valer do boom financeiro (entre outros fatores) do país para ver crescer novas gerações que se rebelam contra os rigorosos códigos que regeram e ainda regem a vida dos seus pais e avós.
PRECISA SE VESTIR QUE NEM DEBILOIDE?
Kawaii funciona, portanto, como uma resposta à norma. É um símbolo de rebelião que permite aos jovens se oporem a imperativos sociais como responsabilidade, obrigação ou trabalho. “É a imaturidade em oposição à maturidade, a imaginação como uma forma de libertação das restrições da vida adulta”, observa o jornalista Kazuhiko Sato. O curioso é que parece uma rebelião água com açúcar, já que o “uniforme” dos rebeles é cor de rosa, com pirulitos na boca, laços de fita e aparentemente pura inocência.
Há estudos acadêmicos que analisam a difusão desse estilo de vida além Oriente. Alguns estudiosos observam que o país está focado em exportá-lo como vitrine publicitária – e consequentemente promover a impulsão de centenas de grifes locais para outros países (aquela coisa do dinheiro sempre por trás de tudo). Outros analistas comentam que essa tendência kawaii não se limita a um contexto particular (a moda) e manifesta-se em diferentes partes do globo. Pode haver uma tendência geral para bonitismo, kitsch e infantilização e talvez algumas culturas sejam o terreno fértil para essas modas. Seria o caso do Brasil? Será?
TU PODE JURAR UMA COISA PRA GENTE?
O que foi agora, seu xerife e sua projeto de piolho de xerife?
PROMETE NÃO SAIR POR AÍ COM UMA SAIA DE TULE
Não se preocupem, queridos.
Eu tenho noção de que só a Carrie Bradshaw pode usar certas coisas