O Carnaval é a última trincheira. Tão logo terminar, tão logo a semana do dia 10 de março começar, seremos assolados, atropelados, patrolados por um assunto só: Copa, Copa, Copa, Copa…
Eu faço parte do time que não aguenta mais ouvir sobre Copa, não aguenta mais DRs da Copa, não aguenta mais a frase “Imagina na Copa”. Mas não sou contra a Copa e não fico perplexa com a roubalheira que ela vem ocasionando – até porque nenhuma roubalheira mais me deixa perplexa neste Brasil, o país da corrupção endêmica como um dia bem definiu o ex-ministro Rubens Ricupero. Perplexa eu fico, sim, com um certo comercial de tevê metido a engraçadinho que faz uso de todo o talento engraçadinho do Camisa 10 da Seleção.
NÃO ACHEI GRAÇA, VIU, NEYMAR!?
Não achei graça de ver o camisa 10 da Seleção Brasileira, um dos maiores ídolos do país, referência para milhares de crianças e adolescentes, sacaneando estrangeiros em horário nobre. Podem me chamar de mau-humorada, de pessoa sem espírito esportivo, podem me chamar do que for. Mas eu não achei graça. Acho que não precisava, sabe assim? Essa imagem de brasileiro espertinho já me cansou há um bom tempo.
De outras coisas menos engraçadas, eu confesso que acho graça. Me refiro às duas camisetas lançadas pela Adidas, causadoras da ira do governo brasileiro.
A primeira apresenta a frase “Lookin’ to score”, que pode ser traduzida por “em busca dos gols”. Mas também é uma expressão que significa “pegar garotas” de uma maneira mais sexual. A imagem da garota de biquíni reforça a intenção da mensagem. A segunda coloca um coração amarelo (que também pode ser enxergado no formato de nádegas) com um fio dental verde – e também passa uma mensagem de duplo sentido.
Claro que eu concordo com a fúria do governo brasileiro ao ver uma patrocinadora da Copa do Mundo reforçar o apelo sexual num momento que tudo que se busca é lutar para não passar essa imagem internacionalmente. O que eu acho engraçado é essa energia toda dispensada na tentativa de fazer o mundo esquecer que nos conhece há milênios como o país do samba, da mulher pelada e do futebol. Não foi sempre esse o motivo de maior orgulho da nação?
Quem é visto como vencedor neste país não é o malandro agulha e a peladona do BBB? E agora, a menos de cem dias da Copa do Mundo, vem o presidente da Embratur Flávio Dino querer promover uma lavagem cerebral coletiva e dizer que “nosso esforço é voltado para a promoção do Brasil pelos atributos culturais”.
Nada mais me resta a dizer ou fazer a não ser me solidarizar com o senhor, Flávio Dino, nesta sua árdua e insana batalha de convecimento.
Bento tem mais alguma coisa a declarar?
EU ACEITO A AMARELA DE PRESENTE
Maravilhosa crônica, Mariana! Falaste tudo o que milhares de brasileiros gostaria de dizer. Sua crônica deveria de estar em cada transporte público, em cada departamento público do país,enfim, tu lavaste minha alma e de muitos leitores do ZH. É por isso que amo o que escreves. Parabéns!!!
Mariana concordo contigo em gênero, número e grau, assino cada palavra escrita por ti….Tem muita coisa absurda nesse nosso Brasil…Abçs
Oi, Mari! Concordo contigo, o comercial para mim soa de péssimo gosto… Ainda que seja uma “brincadeira”, pegou mal, achei desnecessário! Bjs!
Olá, Mariana! Concordo com a tua crítica com relação ao comercial do Neymar.
Entretanto, achei correta a atitude do presidente da Embratur. No primeiro mandato do FHC, a Ruth Cardoso modificou substancialmente a divulgação do turismo no Brasil, de modo que não fossem veiculadas mulheres nuas ou mensagens de conotação sexual, como forma de coibir a prostituição na orla brasileira. Desde 1994, essa é a política adotada e a prostituição de menores, ainda, é um problema seriíssimo e difícil de ser combatido, pois agências internacionais vendem clandestinamente roteiros para turismo sexual no país.
Concordo que esse “exército de bundas desnudas” no carnaval em nada ajuda, mas são de mulheres adultas que o fazem por opção e por cultura (ou falta dela, enfim?!), mas o trabalho da Embratur não tinha em mente essas mulheres livres e adultas, mas meninas indefesas que sustentam a família explorando o próprio corpo.
Gosto muito do teu blog e quis contribuir com a minha opinião.
Nem o malandro, nem a pelada por opção, nem as meninas vítimas da exploração sexual nos representam… Acho nossa parcela da população precisa melhor o marketing pessoal.
Bj.