Todas as manhãs tenho o compromisso de passear com o Bento. Faça chuva, faça sol, faça frio, faça um calor desgraçado, não há maneira de convencer o animal do contrário. Ele espera por isso – e eu acho bacana e saudável que seja assim. Acredito que Bento chegou bem aos 14 anos de vida, com fôlego de atleta, em função dessa volta de quase uma hora em que o tempo é ele quem faz. Eu vou atrás. Apenas obedeço.
EU QUE MANDO
Durante essas voltas, tento tirar algum proveito para minha vida também (além do prazer de testemunhar a felicidade do animal com o nariz enfiado nas mesmas gramas de sempre). Descobri que é um momento único para aliviar a mente, não ler nada, não pensar em nada, apenas reparar na plantinha, na arvorezinha, no céu, no sol…. Um momento quase bicho grilo de desligar de tudo e de todos. Mas é preciso disciplina para levar isso a cabo. Disciplina, não. Muita disciplina.
NEM SEMPRE É POSSÍVEL
Houve um dia, na terça-feira de manhã, se não estou enganada, em que tive uma recaída e peguei o celular enquanto Bento fazia aquilo que mais gosta: cocô na frente da casa do ex-governador Tarso Genro.
ELE FAZ PRA PROVOCAR
É A MELHOR PARTE DO PASSEIO
Há um labrador muito simpático, o PACO, que vive na casa do ex-governador – e um dos programas prediletos do Bento é esperar o Paco sair de casa furioso para, então, fazer um cocozão na cara dele. Daí começa aquele estardalhaço do Paco latindo do lado de dentro da grade, o Bento gritando do lado de fora e eu com uma mão agarrada no animal e outra mergulhada em um saquinho plástico para não deixar vestígios.
É A PIOR PARTE DO PASSEIO
Na terça-feira passada, como contava, tive uma recaída e peguei o celular. Havia um e-mail que precisava ser respondido e resolvi usar alguns minutinhos para me livrar do compromisso. Só que caí na armadilha de tentar usar aquele tempo que deveria ser de prazer e desopilação para checar a caixa postal. O que encontrei? Um mil e quinhentos e sessenta e três e-mails para serem lidos.
SABE O QUE É ISSO?
Isso é o resultado de um dia sem abrir a caixa postal. Mais um dia e esses 1.563 e-mails se multiplicariam por dois – e assim sucessivamente. Moral da história: não vi mais o Bento passear, não tive mais a chance de olhar para a plantinha, para a arvorezinha, para o céu, para o sol… De desopilar, enfim – garantia que deveria ser dada a todo ser humano. Fui tomada por um sentido de urgência e fiquei ali, agarrada naquele maldito celular, andando para lá e para cá atrás do animal, fissurada nas teclas do smartphone, tentando dar conta de uma urgência que não era urgência nenhuma. Dos 1.563 e-mails, calculo que uns 10, no máximo, eram endereçados a mim. O resto não fazia nenhum sentido
LIXO ELETRÔNICO
Passei os 40 minutos seguintes de passeio, agarrada naquele celular tentando me livrar daquele peso, lendo, deletando, respondendo. Cheguei em casa vesga, com uma certa dor de cabeça e muito, mas muito mau humorada, com a sensação de ter tido meu tempo roubado, sabe assim? Foi então que tomei uma decisão drástica, mas imprescindível para quem deseja preservar um pouco da sanidade neste mundo digitalmente ensandecido de e-mails, Messenger, Whats App, Facebook, Linkedin e toda essa parafernália tecnológica. Passei a deletar sem pena. Se o título do e-mail não diz a que veio, lixo.
VAZA!
Nada mais ando fazendo do que seguir a orientação do especialista em produtividade David Allen, autor de Getting Things Done e Making It All Work, dois livros ainda não publicados no Brasil. Afirma ele: “Oitenta por cento dos e-mails podem ser excluídos sem ser lidos após uma simples olhada no assunto. Daí a importância de títulos explicativos”. Quanto ao celular durante o passeio com o Bento, ando preferindo deixar em casa. Outro exercício e tanto para evitar esse verdadeiro vício de achar que o mundo vai acabar se ficarmos 40 minutos desconectados por dia.
UM VIVA À LIBERDADE!
ELA ME DEVE ESSA