O aperto no peito é ansiedade. Não sou a única. Somos muitas!

Conheço Adriano Silva de longa data. Trata-se de um jornalista genial. Trabalhei uma única vez com Adriano, à distância, quando vivia em Barcelona. Na época, setembro de 2003, Adriano era diretor de redação da revista Super, da Editora Abril, e entreguei para ele um texto enorme intitulado Visto, Logo Existo (se tiverem curiosidade de ler, basta clicar no título!). Eis o resumo da reportagem: Mais do que um artefato no mercado das vaidades, a roupa ajuda tanto a definir um indivíduo quanto a explicar a humanidade.

Dia desses, estava aqui trabalhando e senti uma tontura. Parei de escrever, me joguei para trás na cadeira, respirei fundo, tentei levantar e o chão parecia uma areia movediça. Fui me escorando nas paredes até a cozinha para tomar um copo de água (hidratação é sempre bem-vinda) e quase não consegui chegar na porta da geladeira.

verigemTUDO GIRAVA

Coloquei sal embaixo da língua, deitei com os pés pra cima e fiquei respirando fundo e só pensando em coisas boas, tentando eliminar qualquer ideia de que eu ia morrer sozinha, feito uma indigente em meu próprio apartamento, que estava sendo vítima de um ataque cardíaco ou AVC iminente.

bento1124ELA É MUITO DRAMÁTICA

A sensação passou, a vida voltou ao normal, mas dois dias depois… Pimba! Tudo girava de novo, agora no meio do Shopping Iguatemi. Três dias depois, de novo. Procurei o médico. Fiz exames e tirei nota 10 em todos eles. Diagnóstico: ansiedade.

galvaoPODE ISSO, ARNALDO?

Sim, pode. Neste mesmo dia, retomei um texto do Adriano Silva sob este tema da ansiedade, que em outra ocasião, em outra crise, me deixou aliviada. A ansiedade não é um mal que acomete apenas a mim. A ansiedade é uma das maiores doenças deste século de toda a humanidade. Estímulos externos, redes sociais, o tempo que voa, os compromissos que surgem, atenção à família, aos amigos, ao trabalho, ao nosso interior, ao nosso exterior… Tudo urge e, se não tivermos domínio pleno de nossa mente e de nossas prioridades, sim, seremos acometidas por crises de ansiedade – a menos que passemos os dias enfiando um Rivotril debaixo da língua, o que pode resultar em uma demência precoce. Coisa que não recomendo.

Mantras-For-Meditation-For-Beginners-9PREFIRO YOGA E MEDITAÇÃO

Então, me deu uma vontade louca de compartilhar o texto do Adriano, que tanto alento me trouxe. Escrevi para ele, que hoje é publisher do Projeto Draft – um dos sites brasileiros mais bacanas que conheço e sugiro muito a todos vocês, se ainda não conhecem, visitarem e colocarem entre os favoritos. Adriano gentilmente liberou o artigo, que está publicado em seu último livro.

prefacio_ansiedadecorporativaVALE A LEITURA
“Ansiedade Corporativa – Confissões sobre estresse e depressão no trabalho e na vida” (Rocco, 2015), o segundo episódio da série O Executivo Sincero.

adriano_silva_projeto_draft_confeitaria_magOBRIGADA, ADRIANO SILVA!

shouting-woman1APROVEITEM A LEITURA!!

Ansiedade é pior que câncer
Por Adriano Silva

É ridículo, é estúpido, é cruel. Mas é verdade. A ansiedade é um processo doentio que pode fazer o sujeito sofrer mais do que uma doença física.

O ansioso não sofre com a realidade, mas com a expectativa. O ansioso se lastima menos com uma situação real, ainda que terrível, do que com a antecipação dessa situação, que ele sofre terrivelmente.

O ansioso prefere a falência do seu empreendimento, uma situação concreta para ele enfrentar, do que uma possibilidade de sucesso, de onde advém toda sua angústia e sua insônia.

E qual é a primeira coisa que o ansioso fará, logo depois de resolvida uma situação que atiçava a sua ansiedade? Vai recusar o momento de relaxamento e procurar, ou engendrar, tão logo quanto possível, outra situação que lhe sirva de fonte de desassossego, para voltar a roer as unhas e produzir suco gástrico.

Mal atingem uma determinada meta, os ansiosos já se impõem um novo desafio. De preferência mais espinhoso e inexequível. Ou seja: já começam a sofrer de novo. Sofrimento non stop. Ansiosos são estoicos. Mais do que isso: são masoquistas.

Eis o que o ansioso não percebe: o sucesso não é uma meta, é um processo. Estamos sempre em movimento e o êxito não é senão continuar caminhando com alegria, esperança e serenidade em direção a ele. O sucesso não é um patamar fixo a ser alcançado – mas um movimento diário, em que a única coisa garantida é a necessidade de continuar em movimento, andando, um passo de cada vez, um tombo hoje, uma vitória amanhã.

Os ansiosos se esfalfam pelo caminho. Colocam toda a recompensa pessoal pelo sacrifício na linha de chegada. Não apreciam a frase, muitas vezes bonita, que vão escrevendo pela vida – estão sempre afogueados por cravar o ponto final na sentença, como se só ele importasse. Uma coisa maluca. Ansiosos aceleram tanto que se esquecem de apreciar a paisagem. De olho da bandeirada final, nem sabem direito por onde passaram. Sempre haverá lacunas em nossa trajetória. Espaços vazios a serem preenchidos só somem da vida da gente quando a vida da gente termina.

Mas o ansioso não reconhece o quanto já conquistou. Não celebra o tanto que caminhou. Está sempre em dívida consigo mesmo, se sentindo atrasado. A ansiedade cobre a visão do sujeito com uma névoa de pessimismo – ele passa a enxergar somente as tragédias possíveis, só o que pode não dar certo, e as decepções e rejeições que ele tem certeza que pontuarão seu caminho.

O ansioso é um escravo das expectativas que há sobre ele. Seja a que vem dos outros. Seja a que brota dele mesmo – aquela que ele imagina que os outros nutrem e que, assim, incorpora ferozmente à sua rotina. Dê muita responsabilidade a um ansioso crônico e você terá fabricado um depressivo. Deposite grandes expectativas num ansioso limítrofe e você terá criado um suicida em potencial.

Peraí… ansiosos são depressivos? Se uns sofrem por querer antecipar tudo e por acelerar até o limite, enquanto outros sofrem pela letargia diante da vida e pelo desgosto diante das oportunidades, eles não seriam diametralmente opostos?

Aprendi esses dias: o ansioso é um cara adrenalinérgico (nome oficial de quem vive se bombarbeando com adrenalina). Só que uma hora o sujeito desaba com tanto hormônio. Funciona como uma espécie de botão de desligar do corpo, devastado pelas descargas químicas. De tanto ficar ligado, o sujeito cai em depressão. Como uma compensação do organismo, o sono letárgico depressivo vem como reação aos píncaros de atenção e de vigília para onde o sujeito se levou com a sua ansiedade.

Nessa perspectiva, a depressão não seria a tristeza absoluta, vinda do espaço sideral como um castigo cósmico aos muito melancólicos, mas como uma resposta do organismo a estados de alerta e de tensão elevadíssimos, sustentados por um tempo longo demais.

A ansiedade é o novo mal do século. Há psicólogos dizendo que quase todos os males psicológicos têm na base a ansiedade. Eis o nome completo da loba: ansiedade antecipatória. Algozes como depressão e crise do pânico seriam faces diferentes desse mau hábito da mente de olhar para o futuro e para a vida ao redor com a sanha de controlá-los, de imunizá-los, de ordená-los, de castrá-los, de securitizá-los.

A ansiedade antecipatória aflige dez entre dez pessoas, impactando-as com níveis diferentes de sofrimento psíquico. Vai desde quem dorme mal por conta de um compromisso no dia seguinte até quem desiste em definitivo da vida por sentir que não é mais possível suportar o grau de incertezas que ela impõe.

Os psicólogos ensinam alguns exercícios bacanas para quem quiser olhar esse bicho cabeludo nos olhos – e enfrentá-lo. Exercícios que passam por mudanças no funcionamento do indivíduo no seu dia a dia. Sim, é possível vencer a ansiedade. Mas para deixar de sofrer você terá de estar disposto o alterar de verdade alguns hábitos. Porque a ansiedade advém do comportamento – e é lá que você precisa debelá-la.

Um dos pontos é focar no processo e não na falta. Trata-se de não jogar a satisfação somente na conclusão da tarefa, ou as alegrias apenas no atingimento de uma meta, mas obter prazer durante, e compreender que não há ponto final em nada que vivemos – tudo é fluxo.

Uma coisa conecta na outra, um evento se entrelaça ao próximo, pessoas e problemas e soluções estão sempre gerando intersecções que se formam, e que desaparecem no momento seguinte, à medida que vamos vivendo. Então, só é possível ser feliz se percebermos esse movimento ininterrupto e decidirmos obter prazer no próprio processo. Ainda que muitas vezes ele pareça – e seja mesmo – um redemoinho.

O ansioso foca sempre no que ainda não está ganho e garantido. E essa conta será sempre negativa. Porque nada está ganho e nada está garantido. Daí o negativismo do ansioso, que só consegue ir adiante fazendo essa conta – e se desesperando diante das variáveis incontroláveis, e dos riscos inevitáveis, que sempre serão maiores do que as certezas.

O que ainda falta realizar representará sempre um campo maior do que aquilo que já foi realizado. Se esse for o parâmetro, estaremos fadados ao sentimento eterno de frustração – mesmo tendo construído obras magníficas por onde passamos.

A vida não é chegar, a vida é caminhar. Então curta o andar da carruagem, a grandeza da trajetória. Aprenda a extrair prazer e compensações do seu dia-a-dia. De que vale passar a vida toda agastado, sempre chutando a felicidade e a satisfação para o dia seguinte?

Viva hoje. Aproveite a jornada. Enjoy the ride. É aqui que a vida acontece.

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

3 Comentários
  1. O artigo é muito interessante e acrescenta de forma fantástica considerações importantes na vida de todos nós e principalmente aos que sofrem mais desta “terrível ansiedade”.

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