Diário da Mari: “Foi preciso 18 meses de adaptações para entender a rotina de home office”

JHá exatamente um ano e meio, deixei para trás uma rotina de 22 anos trabalhando em redações de jornais e revistas. Durante este período de mais de duas décadas, incorporei hábitos um tanto esdrúxulos, como almoçar qualquer coisa na frente do computador (de omelete com 4 ovos e espinafre a bolacha de água e sal; de wrap de salmão defumado a barra de cereal; de pão de queijo a yakissoba de camarão) e levantar a cada meia hora para tomar café fervendo em copinho de plástico.

cafe-por-aiA FOTO NÃO DEIXA MENTIR
Eis o registro de um desses momentos: café em copo de plástico com bombom Sonho de Valsa para ajudar a revisar a coluna na revista Donna

A urgência da profissão e a notícia que tem pressa de ser publicada (da Queda do Muro de Berlim à separação do casal Jolie-Pitt) me obrigou a desaprender hábitos saudáveis que mamãe e papai tanto ralaram para ensinar. Entre eles, sentar à mesa, colocar o guardanapo no colo e comer de garfo e faca feito gente – e não agarrada em um bauru feito diabo-da-Tasmânia tentando despedaçar com os dentes aquele contrafilé nervoso, enquanto alface, tomate e a gordura do queijo pingavam e caíam despedaçados feito defuntos sobre o teclado.

tasmania_300_NHAM NHAM

Há exatamente um ano e meio, na nova rotina, agora de home office, ganhei o alvará de soltura para almoçar o que quisesse, na hora que quisesse e bem entendesse em uma mesa de 500 talheres que poderia montar calmamente no conforto do meu lar doce lar. Quem disse que consegui?

Com aquelas duas décadas de maus hábitos enredadas na minha alma, não raro me peguei abrindo e fechando a geladeira de casa, olhando com preguiça para a mesa da sala de jantar e passando a mão no telefone para pedir um bauru com ovo e rúcula, um wrap de atum sem passas ou o prato do dia de uma das mais de cem tele-entregas que constam na minha agenda telefônica. Como se não bastasse, o divino ato de agradecer pelo alimento e ingeri-lo dava-se na frente do computador. Na frente do computador da minha casa.

business-woman-under-stress-1DÁ PRA ACREDITAR?

Neste um ano e meio de home office, posso dizer que só agora, 18 meses mais tarde, consegui compreender a engrenagem da nova rotina que criei para mim. Foram 18 meses de pequenas adaptações, muitas culpas e confusões até chegar ao modelo que hoje considero ideal e finalmente funciona. Escrevo sobre este assunto porque muita gente me pergunta como é meu dia a dia de trabalhar em casa e como fiz para me adaptar a este modelo – e até o presente momento eu não tinha resposta, pois não tinha modelo algum. Agora tenho.

bento1125NÃO ERA SEM TEMPO

Como nos últimos anos trabalhava à tarde nas redações, me obrigava a cumprir todos os compromissos durante a manhã – e a maioria incluía atividade física. Fazia academia, ioga, pilates, terapia, levava e buscava os cachorros no banho… Tudo sempre de manhã. Quando passei a trabalhar em casa, comecei a perceber que qualquer motivo era motivo para matar os exercícios físicos. Eu queria escrever, eu estava inspirada de manhã, de manhã os pensamentos fluíam e eu não queria perdê-los enquanto me submetia a três malditas séries de 20 abdominais.

Entendi, enfim, que precisava fazer esta troca de turno, que a minha rotina urgia por mudança (e demorou pra cair a ficha, viu?). Passei a trabalhar de manhã – sento aqui por volta de 8h30min – e a me exercitar à tarde – depois das 16h. Tudo mudou para muito melhor.

Woman looking crazy.TIRANDO OS ABDOMINAIS

Entendi também que o fato de interromper meu processo criativo por volta de 13h porque “é a hora do almoço” não funciona para mim. Sim, eu poderia almoçar feito uma nobre inglesa e não mais como uma indigente. Mas não precisava ser no horário que toda a humanidade senta à mesa. Como agora eu havia me tornado, enfim, dona do meu tempo, nada mais justo do que aproveitá-lo da forma mais produtiva para mim. E qual é a minha fórmula?

Tomar um excelente café da manhã (suco verde + café preto + fatia de pão com ovo), beliscar algumas oleaginosas três horas mais tarde e almoçar quando sinto fome, lá pelas 15h30, e sempre algo leve, pois comer me dá sono e em casa o sofá quer abraçar a gente para em seguida nos engolir feito areia movediça.

areia1MARIANA NO SOFÁ PÓS-ALMOÇO
Piora quando tem arroz e feijão

Nos primeiros dias de home office, não sabia se escovava os dentes, tomava café e sentava de pijama na frente do computador. Ou se me vestia. Ou se tomava banho e me vestia. Ou se não tomava banho, mas tirava o pijama. E qual roupa botar? Abrigo? Roupa de sair? Roupa de ficar em casa? E o que é uma roupa de ficar em casa? É uma roupa que eu possa abrir decentemente a porta, caso alguém bata no interfone? Ou é um mulambo travestido de “estilo home office”?

Hoje, não há dúvida: pijama não dá. Mulambo também não. Me visto sempre com algo que, caso precise sair correndo porta afora, só precise trocar o Crocs pelo tênis.

Do Crocs em casa eu não abro mão. Daí já é pedir demais.
Tá bom, confesso: às vezes até saio de casa com eles.

BENTO4VAMOS?

Em maio de 2016, escrevi um post sobre como vivia esta nova rotina até aquele momento, apenas nove meses após a mudança para o trabalho em casa. Se quiser ler, aqui está!
O QUE ESTOU APRENDENDO (A ALGUM CUSTO…) COM A ROTINA DO HOME OFFICE

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

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