Filipa Pato: a enóloga de destaque mundial apresenta seu novo vinho para o site MK

Mesas arrumadas finamente, com cristais brilhando e delicadas flores, música ambiente e convidados ansiosos. Tudo pronto para receber a celebridade a quem o almoço festivo é dedicado, no salão principal da importadora Porto a Porto, no Shopping DC Navegantes. Em função de um atraso no voo, a estrela do dia chega um pouco atrasada, mas já disposta a atender a imprensa, a conversar com os convidados, a falar sobre suas obras de arte.

Usando um moletom com estampa de Mickey, calça jeans, tênis e o cabelo ainda amarrotado pela poltrona do avião, ela sentia-se pronta para dar entrevistas e ser fotografada. Era Filipa Pato sendo… Filipa Pato. A enóloga portuguesa de 42 anos que é uma das maiores celebridades do mundo do vinho na atualidade vive conforme a filosofia que emprega em seu trabalho: “vinhos sem maquilhagem”. Só o que é de verdade cabe na vida e na obra de Filipa.

Lisa Roos FotografiaFILIPA PATO: A SIMPLICIDADE DE UMA DAS MAIORES DO MUNDO

Depois de insistentes pedidos da assessoria de imprensa, Filipa topou trocar o moletom por uma blusa mais sóbria e dar uma ajeitada no cabelo. Mas foi só. Alguns minutos depois ela reapareceu sorridente, simpática e amável. Exatamente como eu me lembrava dela, de uma entrevista feita há cinco anos, no mesmo local. Era a mesma Filipa sem um pingo de maquiagem, com ainda mais certeza do que estava fazendo, ainda mais fiel a si mesma e à arte do vinho, a qual escolheu devotar sua vida.

filipa-pato-mostrando-fotos-pra-mommyPATI LIMA, AUTORA DESTA MATÉRIA E FILIPA: CONHECENDO DE PERTO A MAIS NOVA CRIAÇÃO DA ENÓLOGA

A enóloga esteve no Brasil para lançar sua mais nova criação: o tinto Port-Quercus, que quer dizer algo como “após a madeira”. Elaborado com uvas da casta baga, autóctone da região da Bairrada, provenientes de plantas centenárias, o vinho é fermentado e envelhecido em ânforas de barro, que substituem as barricas de carvalho.

– Era assim que os romanos faziam vinho nesta região. A baga gosta de solo de barro, então eu quis ver como ela ia se comportar com o barro também no envelhecimento – comenta Filipa.

Lisa Roos FotografiaPOST-QUERCUS: DELICADO E COM BAIXO TEOR ALCOOLICO

O resultado é um vinho delicado, super aromático, com baixo teor alcoólico e muito rico em sabores. Muito diferente até mesmo dos demais vinhos portugueses com os quais estamos acostumados, produzidos em regiões mais badaladas como o Alentejo ou o Douro. A produção é pequena, já que depende inteiramente da safra colhida nas velhas videiras compradas por Filipa em 2014, de um camponês idoso.

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A fim de distribuir melhor a sua menina dos olhos pelos mais de 30 países para os quais exporta, ela escolheu garrafas de 500ml para acondicionar a bebida. Assim mais gente poderia adquirir alguma das cinco mil joias que saíram da vinícola, que fica no coração da Bairrada, entre as cidades de Coimbra e Aveiro.

Eventos como o que ocorreu em Porto Alegre são cada vez menos frequentes na rotina da enóloga, apesar de ser requisitada no mundo todo pelo prestígio que adquiriu, especialmente depois de ganhar o Oscar do Vinho, em 2011, quando foi reconhecida como Enóloga do Ano pela revista alemã Feinschmeker, uma das mais prestigiadas do segmento. O que Filipa mais gosta, mesmo, é de estar em casa, junto das vinhas e da família. Há alguns anos, adquiriu uma velha quinta na qual sua avó arrendava terras. Ali implantou a adega, fez sua casa e construiu um espaço para receber os visitantes, cada vez mais frequentes. Ao lado do marido, o chef e sommelier belga William Wouters, recebe grupos pequenos para almoços e jantares que são verdadeiras celebrações.

Lisa Roos FotografiaJANTAR HARMONIZADO: VINHOS DE FILIPA À MESA

– Ele faz essa parte de harmonizar o vinho com a comida. E fica tudo muito bom. Vão me visitar! – diz Filipa, enquanto mostra, em um pequeno álbum de fotografias de papel, as imagens dos dois filhos em meio à horta, entre os vinhedos e até segurando ovos recém apanhados no galinheiro.

Na relação com a natureza está o segredo da enóloga não apenas para produzir bons vinhos, mas para ter uma vida mais autêntica e feliz. A paixão pelo vinho ela herdou do pai, Luís Pato, um dos viticultores mais conhecidos de Portugal, e aprimorou no curso de Química, concluído na Universidade de Coimbra. O caminho percorrido por Filipa, no entanto, foi aberto por ela própria, com base em suas convicções e aprendizados. Desde que se instalou na Bairrada, tem trabalhado para recuperar os solos em que estão os seus vinhedos, apostando no cultivo biodinâmico. Hoje, nenhuma gota de agrotóxicos, pesticidas ou adubo químico são utilizados.

Lisa Roos FotografiaSELEÇÃO FILIPA PATO: EXCELÊNCIA NA PRODUÇÃO E APRESENTAÇÃO

– O solo precisa estar vivo para que o vinho seja bom. E para que isso dê certo, é preciso muito mais dedicação. O ciclo da minha vida é o mesmo ciclo do vinhedo, ou seja, somente quando o vinhedo dorme é que eu descanso – garante.

Não só a enóloga, mas toda a família segue o ciclo da natureza. Os filhos, Francisco e Fernão, já estão acostumados à vida no campo e brincam em meio às hortas e vinhedos. O marido, William, adaptou seu trabalho de chef aos produtos locais, colhidos ali mesmo, na propriedade, ou obtidos com os produtores vizinhos. Tudo para valorizar o solo, o terroir e o estilo de vida da Bairrada. Ao falar de sua rotina entre os parreirais, Filipa abre seus melhores sorrisos. E volta a convidar, com insistência:

– Vão me visitar!

Ah, a gente vai, Filipa!

  • Texto: Patrícia Lima, especial para o site MK
  • Fotos: Lisa Roos, Divulgação Porto a Porto
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