Não me queixo de estar encerrada no bunker nesses dias de completo dilúvio em Porto Alegre. Por mais estafada mentalmente que me encontre, olhar para fora, ver a chuva caindo, o frio que sopra, olhar aqui para dentro, ver a estufa quentinha e meu corpo acomodado em um pijama é o que se pode chamar de luxo. O animal não pensa muito assim. Basta a chuva dar uma trégua para o animal aparecer com aqueles olhos esbugalhados ansiando pelo passeio.
ELA SAI DE PIJAMA
Óbvio. Só também não saio de Crocs para não molhar minhas pantufinhas queridas. Domingo, após três semanas vivendo de pijama encerrada no bunker, tive que colocar uma roupa para o aniversário da minha cunhada. Não lembro de ter sofrido tanto em um passado recente. Tive que lembrar como era pensar em que roupa usar – e acho isso muito chato. Não por acaso, adorei uma nova tendência escrita pela querida e adorada Roberta Weber sobre a moda uniforme, que vem a ser usar sempre a mesma roupa todos os dias. Claro que não a mesma, mas ter várias peças iguais no armário. Roberta dá o exemplo da diretora de arte da revista Harper’s Bazaar, Matilda Kahl.
MUITO PRAZER, SOU MATILDA
Matilda usa o mesmo look para trabalhar há TRÊS anos. Comprou QUINZE versões da mesma blusa e SEIS versões da mesma calça e as usa DIARIAMENTE. O detalhe especial, para marcar sua personalidade, é o laço de couro amarrado na gola da camisa branca.
Olha!
MATILDA E O ARMÁRIO DE CAMISAS COM LAÇO DE COURO
MATILDA, CAMISA COM LAÇO E JAQUETA DE COURO…
MATILDA, CAMISA COM LAÇO E BLAZER DE LÃ
GÊNIA!!!
Sofri no domingo para colocar uma calça de couro, um cashmere verde água e um casaco. Imagina se fosse um casamento! Tinha cortado os pulsos e me jogado de cabeça no poço de água parada cheio de mosquito da dengue do prédio aqui ao lado. Fora que já tinha sofrido no sábado à noite para tirar o pijama e sair para jantar com George e Paulinha. Sofri para botar a mesma calça de couro e só mudar o cashmere. Já andam me dizendo que minha situação é bastante preocupante. Eu não acho. Estou a fim de lançar uma grife de home office e ser minha própria garota-propaganda.
ELA ENCASQUETOU COM ESSA IDEIA
Sábado à noite, George e Paulinha, Chico e eu fomos comer hambúrguer no Bife. Fazia horas que queria ir ao Bife já que, sempre que tento ir ao Bife, dou de cara com uma hora de espera na porta. Como não sou adepta de filas e longas esperas em restaurantes (não espero nem em fila de banheiro), nunca fiquei para experimentar os pratos da casa. Pois dessa vez combinamos de chegar cedo, 8 horas em ponto. Tinha mesa para escolher. Sentamos no andar de baixo e fui logo pedindo uma das minhas entradas preferidas onde quer que eu vá e encontre: batatas bravas. No cardápio do Bife, intitulada batatas rústicas.
Olha!
NHAM NHAM!!!
Com alho e alecrim! Croc por fora, macia por dentro. Uma delícia!
Chico nunca esteve tão feliz de ter esquecido os óculos de grau. Como não enxergava lhufas do cardápio, delegou para mim a tarefa de escolher qual hambúrguer comer entre as dezenas de opções distribuídas em quatro páginas. Por sorte, eu sabia mais ou menos o que queria, um hambúrguer sem muitas invencionices, com sabor convencional. Optei pelo.. pelo…. pelo….
ESQUECI O NOME
QUANDO EU DIGO QUE ESSE BLOG É UM DESSERVIÇO, ELA BRIGA COMIGO
COMEÇA COM B…
ESQUECI O NOME
Boleiro, Bagual, Baguete, Be… Esqueci o nome. Bom, mas tirei foto. Não ficou lá essas coisas, pois a luz do ambiente não é de farmácia (graças a Deus). Mas dá para ver alguma coisa.
Olha!
MUITO PRAZER, SOU O HAMBÚRGUER SEM NOME DA MARIANA!
Dá para escolher entre batatas rústicas, batatas fritas ou cebola frita de acompanhamento. Eu escolhi batatas rústicas, óbvio. Posso comer batas rústicas até explodir. Esse molho que veio junto do meu hambúrguer sem nome é à base de chimichurri.
UM CLOSE NELE!
Pedi que a cebola, em vez de crua, como estava descrita no cardápio, viesse… Como se diz mesmo? Dourada? Grelhada? Viesse essa coisa não crua
ACHO QUE NÃO ESTOU MUITO BEM DA CABEÇA
QUE NOVIDADE
Eis, minhas impressões do Bife e do hambúrguer (embora eu não ande muito bem da cabeça, vou comentar).
1) Adorei o ambiente de baixo. Chegamos a sentar no andar de cima, mas não achei tão aconchegante e pedimos para trocar assim que vagou uma mesa na parte de baixo, mais intimista e com cara de hamburgueria. Me senti meio empoleirada lá em cima e não achei as mesas e cadeiras confortáveis.
2) Amei as batatas rústicas. Comeria, como disse, até explodir.
3) Gostei muuuito da carne do hambúrguer. Estava mal passada, vermelhona mesmo, bem como eu gosto. Se você, cara leitora, não gosta de gado mugindo no seu prato, quando for ao Bife, deixe-os saber.
4) Voltaria para experimentar a opção de hambúrguer sem pão porque achei o pão a parte fraca de tudo. Muito pálido e servido gelado. Aqui não entro no mérito se pão de hambúrguer tem que ser gelado ou não ser gelado. A questão principal é que era muito branco mesmo, sabe? Não me apeteceu.
E O LIVRO, MARIANA?
TERMINOU?
NÃO
Quer dizer, sim e não. Sim porque terminei todas as 28 crônicas (neste primeiro momento, serão 28, com possibilidade de aumentar, o que espero não precisar). Não porque falta revisar todas e reescrever partes de algumas. Tenho ainda uma semana de bunker pela frente. Uma semana de pijama, uma semana de sopa no almoço para não ter sono e não correr o risco de terminar a tarde no sofá, uma semana de cara de louca, escabelada, de Crocs e à mercê de todos os caprichos do animal durante as 24 horas por dia.
ESSA É A MELHOR PARTE DELA TRABALHAR EM CASA