Dia desses andei pensando alto e minha voz desabafou: “Não aguento mais essa mania de food truck”. Para minha surpresa, quem estava na volta concordou no ato.
Vamos combinar que a moda de food truck passou um pouco do ponto. Está uma overdose. Já estão alugando food truck até para festas de casamento (o que não deveria causar qualquer espanto, já que festa de casamento virou sinônimo de pirotecnia). Tudo agora é food truck.
TUCANARAM A CARROCINHA, MARIANA!
Food truck é a repaginação das carrocinhas que sempre existiram, mas foi recebido neste ano de 2014 como a última descoberta do planeta Terra. Food truck existe desde os meus tempos de guria em Bagé. Saíamos esfomeadas das festas de madrugada, pedíamos um Xis Coração na carrocinha da esquina e sentávamos encantadas na calçada.
Estrogonofe com batata palha era o ápice do prato fino. Hoje em dia, temos que lidar com cardápios que oferecem “cuisses de grenouilles em espuma de kinkan com pistache” e fazer cara de paisagem, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Dia desses, assisti a um programa cômico no YouTube que faz uma paródia a respeito desta realidade que estamos vivendo de cardápios engomados, pratos com nomes impronunciáveis, apresentação impecável e preços cada vez mais elevados. O programa apresentou a personagem Julia, que lutava para curar-se de um vício que já ganhou até nome.
Julia conta que começou experimentando um petit gateau por influência dos amigos. “O nome me atraiu bastante”, confessa. Ela, então, levou a gourmetização para todos os lanches e refeições. “No cinema, só como pipoca gourmet”. E admite: “Sou uma gourmet dependente”. A ironia fica ainda mais afiada: “Ouvi dizer que agora tem um pão com manteiga gourmet e fiquei com vontade de experimentar”, ela comenta.
O texto cômico do programa diz que a gourmetdependência causa um aumento repentino dos gastos mensais do viciado – e é na Gourmetlândia que sobrevivem pessoas que abdicaram de tudo, viciados que gastam seus salários comendo pão de queijo gourmet e chocolate belga. A gourmetização está onde a gente menos espera, avisa o apresentador da atração. “Antes eu comia em qualquer carrinho de rua. Agora é só food truck mesmo”, debocha outro personagem viciado do programa.
O QUE TEM NOS FOOD TRUCKS, MARIANA?
Como diria José Simão, a tucanização do Xis. No último que frequentei, havia hambúrguer com chutney de manga, queijo de cabra e abobrinha grelhada no azeite com pimenta dedo de moça e ceboulete ou hambúrguer de picanha e gorgonzola, queijo gruyère, crispy de bacon, abacate, tomate caqui, cebola assada, alface americana emincé e maionese especial.
AGORA ME DIGAM SE VIVER JÁ NÃO FOI BEM MAIS SIMPLES?