A cena repete-se nas melhores famílias: chega o fim do mês e muita gente não consegue explicar onde foi parar o salário. Enquanto as despesas maiores são conhecidas e recorrentes, as menores acontecem de forma tão espontânea e rápida que fica difícil controlar. E mesmo que o consumo seja ponderado racionalmente, ele acaba sendo validado por meio de algumas brechas psicológicas: as mentiras que as pessoas contam para si mesmas.
Uma pequena mentira pode ser o jeito encontrado pelo cérebro para esconder uma verdade inconveniente. Apesar de não ser tarefa fácil, detectar e tentar mudar este comportamento é um importante passo para alcançar uma vida próspera e economicamente sustentável. Fomos ouvir o especialista Jó Adriano da Cruz, educador financeiro e diretor da Unidade DSOP Porto Alegre, para conhecer as cinco mentiras que podem estar sabotando a saúde da vida financeira.
1. Eu mereço
Embora essa frase possa ser verdadeira, ela tende a minar a realização de algo que ela realmente deseja – como um sonho, que mesmo adormecido, nunca deixou de existir. É preciso ter em mente que atingir uma grande meta é viver algo mais desejado e merecido do que qualquer outra experiência do dia a dia, e que quanto mais dinheiro se aplica em compras esporádicas, menos é destinado à merecida realização dos sonhos.
MAIS COMPRAS ESPORÁDICAS, MENOS REALIZAÇÃO DE SONHOS
Segundo Jó Adriano da Cruz, as pessoas costumam ser as primeiras a sabotarem a sua verdadeira felicidade.
– Grandes sonhos não são realizados por conta do hábito de destinar boa parte dos recursos financeiros às pequenas despesas diárias não essenciais e, por vezes, desnecessárias – explica.
2. Eu preciso
Uma das principais mentiras que as pessoas contam a si mesmas é que precisam de determinado produto ou serviço. É necessário ponderar se há mesmo uma necessidade e se há condições de usufruir daquilo no momento da aquisição.
CONSUMO CONSCIENTE = VIDA FINANCEIRA SAUDÁVEL
De acordo com Jó Adriano, é importante que o consumo venha após o planejamento financeiro e a pesquisa de preços em, no mínimo, três locais diferentes.
– O consumo consciente é o principal responsável por nos proporcionar uma vida financeira saudável – aponta.
3. Estou infeliz
A felicidade advinda do consumo esporádico e sem planejamento tende a ser pequena e momentânea. Realizar sonhos, por sua vez, gera a felicidade genuína e duradoura que todos almejam. Quem reconhece que está infeliz precisa, ao invés de buscar a satisfação em compras esporádicas, equilibrar o momento presente com a projeção de um futuro de realizações.
– Estabelecer os sonhos é fundamental para se criar o hábito de fazer reservas financeiras. O ideal é que eles se dividam em curto, médio e longo prazo, ou seja, tenham o objetivo de ser realizados em até um ano, de um a 10 anos e acima de 10 anos, respectivamente – ressalta o especialista.
DESORGANIZAÇÃO LEVA AO RACHA NA ECONOMIA PESSOAL
4. Não consigo resistir
Mais do que contestada, esta mentira aparentemente inofensiva deve levar à reflexão sobre o porquê de, ao invés de planejar e consumir com consciência, a pessoa prefere se deixar levar pelo momento. É possível que esteja faltando organização.
– Para vencer a desorganização, o primeiro passo é projetar e seguir um orçamento pessoal, seja ele mensal ou semanal – aponta Jó Adriano.
5. Eu tenho condição
Assim como a falta, a sobra de dinheiro é um sinal de que a administração não está sendo eficaz, pois a melhor forma de utilizar os recursos financeiros é seguindo um bom planejamento. Quem tem dinheiro sobrando no final do mês deve rever se há sonhos que podem ser realizados mais rapidamente com o acréscimo deste valor ou se há novos objetivos de vida a serem priorizados. Afinal, o dinheiro deve trabalhar em favor das pessoas, não o contrário.