A escritora e jornalista americana Kate Bolick decidiu que não quer casar e não está nem aí para o termo “solteirona” que passou a ouvir na roda de amigos. Não só isso. Percebeu o filão que o assunto rende e a forma pejorativa como ainda é tratado. O que fez? Reuniu suas reflexões em Solteirona, o Direito de Escolher a Própria Vida (Spinster: Making a Life of One’s Own, no título original em inglês), um ensaio em que mistura experiência própria com dados históricos e estatísticas sobre o tema. A obra tornou-se instantaneamente fenômeno editorial nos Estados Unidos (100 milhões de americanas preferem ser solteiras) e foi lançada recentemente no Brasil.
Kate tem 35 anos e pensava diferente quando era adolescente. Acreditava em um futuro com marido e filhos. Só que o tempo foi passando, ela foi namorando e aquela ideia inicial acabou não acontecendo. Até o dia em que percebeu que bom mesmo era ser solteira.
– Ia crescendo e nada acontecia, não encontrava ninguém. Até cheguei a pensar que o problema fosse eu. Aos 35 admiti que, provavelmente, não me casaria nunca. Mas já não me importava com isso, porque percebi que eu gostava. Eu gosto da vida que tenho – contou ela ao jornal espanhol El País.
SOLTEIRONA – O Direito de Escolher a Própria Vida
Kate Bolick, 320 páginas, Editora Intrínseca, R$ 49,90
Kate diz que um dos principais objetivos ao escrever o livro foi livrar as mulheres do “peso” da solteirice e desmitificar a ideia de que ser solteira é feio, ruim, ou qualquer outro adjetivo negativo. Ela atenta: ser solteira não é ser sozinha. São coisas bastante distintas. Solidão, aliás, não é sua bandeira. Após uma década solteira, hoje a escritora namora e divide o mesmo teto com o parceiro. Diz Kate:
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– Depois de dez anos vivendo sozinha, estou acostumada a ter todo o tempo do mundo para mim. O que permite estarmos bem juntos é que meu namorado também necessita de muito tempo para si. Procuramos negociar as diferentes necessidades de cada um. Vejo isso como resultado das conquistas da segunda onda do feminismo dos anos 1970. É uma circunstância que nunca houve antes: o número de mulheres que trabalham e estudam é maior que nunca. Quando as mulheres tiveram menos acesso à educação, tenderam a casar-se mais. Hoje, se tomam a decisão de viver sozinha, acredito que seja, fundamentalmente, porque agora podem ter experiência, uma visão do mundo muito mais ampla que o matrimônio. Não é egoísmo, como muitos argumentam.
KATE B”MUITAS MULHERES TÊM FILHOS COAGIDAS PELA PRESSÃO QUE A SOCIEDADE IMPÕE”
Também não é egoísmo, na visão da escritora, a decisão de não ter filhos. Sobre maternidade, finaliza ela:
– É muito curioso que a percentagem de mulheres que realmente querem ter filhos é muito pequena. O mesmo com as mulheres que não querem ter. A maioria fica no meio. Não sabemos realmente se queremos ou não, depende de como funciona nossa vida, em que momento estamos. Muitas mulheres têm filhos coagidas, uma vez mais, pelos papéis e estereótipos que a sociedade impõe. É uma pressão real, que existe e provoca muito estresse. E ela também atinge os homens, porque o mundo está organizado em torno da família e do casal.
Intensamente pessoal e bem embasado, Solteirona é ao mesmo tempo um inquietante livro de memórias e uma ampla análise cultural dessa encruzilhada que não deveria, mas tanto interfere no universo feminino. Uma defesa da liberdade da mulher de ser autêntica e fiel às inúmeras possibilidades de futuro que ela pode e deve projetar para si mesma. Se será um futuro construído a duas ou a quatro mãos, só a ela cabe decidir.
Muito bom esse artigo, obrigado por compartilhar essas informações