Costumo usar All Star e salto alto, camisas sóbrias e camisetas engraçadas. Meu armário contém jeans, abrigos, leggings, calças de alfaiataria, shorts, saias e alguns vestidos. Me visto conforme meu humor (cinza e preto quando ele não está lá essas coisas) e não tenho problema com fronteiras imaginárias: vou do restaurante mais fino (e gosto de comer um bom prato com um bom vinho) ao boteco mais pé sujo (e adoro uma cerveja gelada com batata frita). Acredito que a base de tudo está em se sentir bem com quem somos e, claro, ter bons amigos como companhia.
OBRIGADO PELA PARTE QUE ME TOCA
Dia desses, ao pisar pela primeira vez em um novo bar aberto próximo da minha casa, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre – sempre acompanhada da minha alegre turma de amigos -, pedi ao garçom o favor de ter as garrafas de cerveja colocadas em um baldinho com gelo.
A novela que aconteceu da decorrência desse simples pedido não vem ao caso agora. O que vem ao caso é que, pelo simples pedido de um balde com gelo, fui acusada por um nobre frequentador deste mesmo bar, um “iniciado” no local, como ele mesmo se definiu, de ser uma “coxinha”.
Por ser considerada “coxinha”, eu e meus amigos, chamados de “perus de fora” pelo tal moço “iniciado”, não deveríamos ter o mesmo tratamento dele e da turma de iniciados no bar. “Os perus de fora que fiquem de fora. Vasa (sic)! Você e sua turminha de panacas porque este é um bar de gente da publicidade porto-alegrense que dispensa burgueses que comem sardinha e arrotam salmão”, ele falou.
Fui pesquisar a origem da expressão “coxinha”. Uma vertente diz que o apelido foi inspirado nas coxas brancas dos homens arrumadinhos que usam bermuda ao tomar sol. “Essa me parece a mais plausível”, comenta Antonio Carlos Pereira, professor de Psicologia da PUC-SP. “O time Coritiba ganhou o codinome ‘Coxa’ por causa da torcida, que era composta por descendentes alemães em sua maioria e tinham coxas brancas. Pode ter alguma conexão”, diz ele.
Em minha pesquisa descobri que a palavra coxinha também é usada para descrever os novos “mauricinhos” ou “engomadinhos”, que se destacam por seu estilo de vida peculiar, acompanhado de gírias e modo de vestir específicos. “Cabelo engomado e impecável e camisa polo não podem faltar – se tiver um número, um brasão ou o desenho de um cavalo, melhor”, diz uma das definições.
TU USA POLO COM BRASÃO, MARIANA?
Não, não uso. Não tenho nenhuma camisa com desenho de cavalo ou brasão no guarda-roupa. Também não uso bermuda para tomar sol; tampouco meu cabelo é engomado. Mas não tenho absolutamente nada contra quem faz suas escolhas, têm seus gostos próprios, se veste e vive a vida da maneira que mais se sente bem – e é feliz assim. Não trato mal nem ofendo os diferentes. Muito menos determino quais lugares devem frequentar ou não – e, se isso é ser coxinha, manifesto grande orgulho da minha condição.
Qual é o nosso hino mesmo, Bento?
EU SOU COXINHA
COM MUITO ORGULHO
COM MUITO AMOR!