Olha, eu só ouço dizer que o calor que faz em Porto Alegre é algo insalubre. Não faço ideia do que seja. Porque não paro de sentir frio. Não posso saber de onde saiu essa temperatura em SP em pleno janeiro, mas, enfim, faz frio na rua e faz frio na sala de desfiles. E a minha gripe que começou no ar-condicionado do Fashion Rio já virou uma coisa crônica.

(Momento lamúrios de Mariana encerrado, vamos aos desfiles do dia)

Segunda-feira começou com Gloria Coelho. E eu preciso contar uma historinha antes: quando morava no Rio, tinha uma turma de amigos de Bagé (tenho, aliás), que eram minha família. A gente estava sempre junto, fazíamos funções juntos. Um dia, estávamos na casa da Renata e recebemos o amigo de um de nossos amigos, carioca. Conversa vai, conversa vem, ele me larga, no meio da roda de gaúchos que amam comer churrasco:

– Eu sou vegetariano por isso, por isso e por aquilo. E também porque os gases das vacas estão destruindo a camada de ozônio do planeta.

Fez-se, então, um silêncio na sala.

E uma gargalhada geral. Vamos combinar que não era um assunto prórpio pra uma turma de gaúchos de Bagé.

Daí, quando a Gloria Coelho apresentou a coleção com peças em couro de vaca e disse a mesmíssima coisa, eu tive que soltar um risinho só meu e lembrar dos meus queridos amigos.

GLORIA COELHO

Bom, não foram só as camadas de ozônio à beira do caos que inspiraram a estilista mais ligada em astrologia que conheço. Mas os Neutrinos também, “a matéria subatômica que tem leveza e energia, além de ser mais veloz do que a luz”, explicou ela.

Tradução: transparências, uma gama de cores suaves e o que mais gostei e o que mais gosto sempre na Gloria: os casacos. Ah, e o sapato inspirado no… mouse!

MARIA BONITA

O papo-cabeça seguiu com Maria Bonita. Agora,com a estilista Danielle Jensen inspirada na turma de viajantes liderada por Mário de Andrade e com trilha-sonora de João Gilberto para mostrar a ideia de uma coleção que celebrou a região Norte do país. As roupas não me conquistaram muito, mas não posso deixar de aplaudir de pé toda a concepção do desfile. As tranças dos cabelos das modelos que lembravam tressê, o tressê feito em lã, as cores da terra. A silhueta é meio desabada, longe do corpo, não muito fácil de conquistar a brasileira média que ama o culto ao corpo.

Achei lindo o sapato, um oxford masculino em tressê que tinha o salto feminino. E o chapéu todo construído em tressê de cabelo pra dar uma continuidade ao cabelo que parecia uma esteira, uma trança em tressê.

UMA RAQUEL DAVIDOWICZ

E, então, eis que surge Uma Raquel Davidowicz para meu maior deleite. Explico: acho interessante inspirações e tal, neutrinos, gases de vaca, andarilhos, Mário de Andrade… Mas prefiro não ter que pensar em nada disso e ver a vida, ou melhor, a roupa como ela é. E foi isso que a Uma mostrou num desfile cheio de emoção, cheio de mulheres reais. A alfaiataria impecável, alguma pegada de sportswear, Denise Stoklos, mulher de verdade, cliente da marca, na passarela.

Eu ando com mania de falar em roupa-investimento, mas é que acredito mesmo nisso de comprar uma bela peça, bem cortada e fazer dela uma extensão de mim mesma, de saber que estou adquirindo algo que será para sempre, que eu carregarei comigo e depois será herança para alguém. Roupa com sentimento, com memória, com história. E a Uma oferece isso.

JOÃO PIMENTA

O papo-cabeça voltou com a bela – sempre bela, aliás – coleção masculina de João Pimenta. Ele foi buscar a estética do século 19, os laços, as cores, as golas, os arredondados das peças. O preciosismo de João Pimenta levou o estilista a confeccionar praticamente todos os tecidos, tecidos quase artesanais. Criou uma muita mistura de fios, peças que apresentavam diferentes texturas até nos fios.

As máscaras lembravam máscaras dos médicos do século 19, que usavam esse tipo de acessório no rosto para não contaminar – e nem se contaminar com o paciente.

LINO VILLAVENTURA

E a noite foi dele: Lino Villaventura foi ovacionado, reverenciado, aplaudido de pé pela sala inteira. Os aplausos aliás, já começaram no meio do desfile e vou dizer que raramente vi isso. Merecido. O trabalho de Lino é uma obra de arte. Ele colocou em cena vestidos lindamente feitos com materiais nobres como tafetá de seda pura, organza e gaze de seda. Um trabalho em moulage de mestre, com muito volume

Agora, logo abaixo, vocês vão poder ver uma galeria com as fotos desse post e mais todos os looks da UMA, minha preferida. E vocês devem estar pensando: “Mas como a Mariana, que no Fashion Rio não conseguia postar uma foto, agora faz uma galeria??? Não fui eu! Hahahahaha!!! A Gabi Chanas querida me mandou um torpedo:

– Mari, qual foi o desfile que tu mais gostou? Vou fazer uma galeria com ele.

E eu:

– Uma!!

E aqui está. É bom ter amigas, vai dizer?