Paula Toller: confissões sobre casamento, maternidade, anseios e verdades

Ela surge no salão e desarma os argumentos proferidos à boca pequena de que atrás da bela se esconde uma fera. Paula Toller é um caso raro de estrela com aura de melhor amiga. Dona de uma personalidade forte que compactua com a simplicidade inerente em cada gesto, é vazia de qualquer pretensão. Paula tem uma gargalhada deliciosa e um senso de humor todo particular. Usa e abusa da fina ironia – e a utiliza, sobretudo, para lançar mão de uma das virtudes mais valiosas do ser humano: rir de si mesma.

Aos 55 anos, sintetiza a máxima de que o tempo só lhe faz bem. A forma física espetacular, os 55 quilos distribuídos em 1,70 metro de altura, é apenas a parte mais visível dessa constante metamorfose. Por dentro, aprendeu a domar angústias do ofício de compor. “Tive crises de inspiração quando era jovem”, admite, a voz em algum acorde imaginário entre o doce e o agudo. “Hoje, tenho outra cabeça. Falta de inspiração é imaturidade do artista. A maturidade me ensinou que compor é o que eu sei fazer. O medo do branco não existe mais.”

paulatoller1PAULA TOLLER, 55 ANOS: O MEDO DO BRANCO NÃO EXISTE MAIS

A aparente tranquilidade, um pouco de timidez até, não retrata um comportamento passivo – ao contrário. Determinação é pauta constante na vida e na obra. “Cedo fácil, mas também sei ser teimosa quando tenho certeza de que o que eu quero é o melhor”, garante.

A chegada ao céu em 35 anos de estrada como líder de uma banda que ultrapassa gerações exigiu algumas descidas ao inferno. Paula foi tachada de desafinada, amargou o apelido de Q.I. de Abelha, mas seguiu em frente. Digeriu a crítica e buscou a perfeição. Estudou canto lírico, encontrou seu timbre particular e transformou-se em referência feminina no cenário da música pop brasileira.

Desde 1982, quando o grupo nasceu, é ela quem assina a maioria dos sucessos. Suas composições espelham a constante observação do mundo ao redor. A ideia do próximo hit pode vir de repente: atravessando a rua, lendo um livro, ouvindo de relance uma conversa. “São sempre palavras, frases curtas. Quando as ideias vêm, gosto de escrever. Poderia ter um gravador, mas não gosto de gravar minha voz.”

Paula sente orgulho da família que construiu. Casada há 29 anos com o cineasta Lui Farias, é mãe de um filho só, Gabriel, de 26. “Não quero mais filhos”, decreta. Permanece linda porque aprendeu que em matéria de beleza é melhor prevenir do que remediar. Submete-se a tratamentos preventivos desde os 20 anos. “Sempre tive acne e pele oleosa, o que evita rugas, mas dá muita espinha”, conta.

“Nunca fiquei sonhando em ser mãe. Não tive deslumbramentos com a maternidade. Só despertei realmente para o negócio quando o Gabriel nasceu. A partir daí, curti todas as fases. Eu era natureba em relação a remédios. Com o Gabriel, deixei de ter devaneios mirabolantes, fiquei mais prática. Hoje, se me dá dor de cabeça, mando vir logo um Tylenol. Mãe não tem tempo para dores de cabeça.”

Joga tênis, faz musculação e pratica corridas na esteira. Nessas horas, o walkman é parceiro indispensável e a acompanha naquilo que ela de melhor sabe fazer: cantar. Músicas do Kid Abelha? “Não!!”, exclama, às gargalhadas. “Já seria demais, né?”, diverte-se, em mais um show de espontaneidade que permite espiar a mulher por trás do mito

paula-luiAO LADO DO MARIDO, O CINEASTA LUI FARIAS

Nesta entrevista, propus a Paula Toller refletir sobre a vida e a obra baseada em letras de músicas do Kid Abelha.

Pintura Íntima
“Não tenho medo de envelhecer. Fisicamente, claro que não vou gostar. Já não gosto. Envelheci bastante. Sei a diferença de quando tinha 20 anos e agora. Aos 35, passei a sentir na pele. Não faço mais essa conta (risos).”

“Rezo o Pai Nosso em várias situações, mas não tenho religião. Os dogmas e tabus religiosos confundem as pessoas. Se por um lado a religião conforta, por outro cria problemas que poderiam ser resolvidos com mais conversa e afetividade”.

Fixação
“Sou básica. Gosto de camiseta e jeans. Ah, e adoro comprar sapatos! Mas não sou uma Imelda Marcos (risos). Bolsa é uma mania que adquiri faz pouco. Vira um vício, né? Você vai criando um monstro (risos).”

“Casamento é para pouca gente – e muita gente casa. Saber conviver é uma vocação. É uma medida humana, não tem lógica nem matemática. As pessoas se precipitam em casar e em descasar. Como você não pode se separar de si mesmo, culpa o outro pelo fracasso. Para estar casado, o principal é querer estar. Planejar a vida e gostar de ficar junto daquela pessoa. Eu gosto muito.”

Educação Sentimental
“Se sou muito ciumenta? (risos) Depende do dia. Sou bastante ciumenta. Mas não sou histérica, sei me controlar. A gente aprende, né? Não sou daquelas que ficam em casa roendo as unhas porque o marido não está.”

“A análise é uma malhação mental necessária. É tão vital quanto os exercícios físicos. Não deixa a cabeça enferrujar. É essencial no meu trabalho como compositora. Foi o Lui quem me convenceu a fazer análise, no início do namoro. Disse que eu ficaria mais atenta e inteligente para a vida. Meu analista é um intelectual, me indica livros. Não fica só no papo de culpar o pai ou a mãe.”

Strip-tease
“Não me vejo como as pessoas me veem. Essa história de símbolo sexual é baseada em uma imagem que você passa. É muito truque. No palco, acho legal brincar com esse personagem, mas não acredito, não me vejo assim. É algo que não faz parte de mim.”

“Não atraio paparazzi porque não faço merchandising da minha vida. No começo da carreira, dei muitas entrevistas sobre minha vida pessoal. Foi ruim, me senti retratada como uma boba, coisa que não era. Hoje, prefiro aparecer menos, ser menos famosa. Não tenho mais essa vaidade.”

Tomate
“Não sou fera na cozinha, mas, outro dia, fiz um carneiro com uma porção de temperos exóticos que ficou bem legal. Lá em casa, o criador é o Lui. Ele abre a geladeira e pá, pá, pá… Sai um negócio maravilhoso e com uma forma linda! Já eu prefiro os comidões que não exigem muito enfeite.”

“Já abdiquei de shows e viagens para estar com a família. Jamais deixei de saber o que acontecia em casa. Nunca fui mãe de celular. Quem faz as compras no supermercado sou eu. Gosto de escolher, de apertar os produtos, ter certeza de que as batatas estão do mesmo tamanho… Adoro!”

Paula Toller apresenta a turnê “Como Eu Quero” neste sábado, 14 de julho, no teatro Bourbon Country em Porto Alegre.

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

1 Comentário
  1. Acompanho o trabalho da Paula a mais de 25 anos e também adoro o seu senso de humor refinado e a sua perspicácia. Sinto saudades especialmente dos textos que ela escrevia para o blog.
    É uma delícia tê-la como ídolo, acompanhá-la nas redes sociais e aguardar meses para revê-la sobre algum palco, o que sempre me deixa totalmente extasiada!

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