Sempre fui das amigas que ouviu mais e falou menos. À primeira vista, me tiram para tímida. Não sou tímida, sou quieta. Do contrário, não sairia me apresentando por aí cada vez que enxergo um microfone pela frente, só pra ficar na minha frustrada vertente cantora com predileção por “Vento Negro”. Gosto do silêncio e de observar, traço este da minha personalidade que levou mamãe a ter a certeza de que jamais vingaria como jornalista.
VINGOU?
ALGUÉM LEVA O ANIMAL PRA DAR UMA VOLTA
Tampouco sou de sair dando opinião e conselhos para as amigas – a menos que minhas palavras sejam solicitadas, claro. Quando assim acontece, não economizo em análises, fatos, todos os lados da história. Gosto de tentar ser útil e muitas, mas muitas vezes mesmo algumas delas me pediram que escrevesse conselhos – o que fiz ainda em papéis de carta (quem não colecionou nos anos 1980?). Escrever sempre me ajudou a entender os motivos e os “comos” de tudo, tanto interna quanto externamente.
+DIÁRIO DA MARI: Cada uma de nós sabe melhor do que ninguém quais são as nossas urgências
Desde que meu blog foi lançado, em 2011, desde que ainda era apenas Por Aí, sem querer transformei o hábito de escrever em diários de papel para o costume de dividir meu universo na internet. Talvez essa verdade que sempre traduzi em palavras tenham levado a que muitas leitoras me escrevam pedindo conselhos. Sobre vida, sobre trabalho, sobre carreira, sobre moda, sobre filhos, sobre estilo e mais recentemente…. Sobre amor!
FALAR DE AMOR, EU?
Não sou muito boa nessa coisa, acho. Não sou muito romântica. Faço a linha prática e objetiva, sabe assim? Sou sonhadora, como toda sagitariana, mas meus pés não sobem muito a rés do chão – e quando acho que qualquer vento pode me levar, me agarro na primeira corda e volto a caminhar em terra firme. Os dois últimos e-mails que recebi traziam dois assuntos distintos relacionados a amor e pediam minha opinião:
1) Mari, gostaria que tu escrevesse algo sobre como lidar com o fato de que nunca seremos felizes ao lado do amor da nossa vida.
2) Mari, como se faz pra esquecer alguém?
QUE PERGUNTINHAS, HEIN?
Faz algumas semanas que esses dois emails me olham cada vez que abro a caixa postal e eu finjo que não vejo eles. Daí estava aqui hoje, uma chuvinha lá fora, e decidi começar a escrever este post para ver aonde tudo ia dar. E agora cheguei no ponto de responder as duas perguntas.
SOCORRO
Do fundo do coração, acho que poucas pessoas neste universo têm a felicidade de conhecer o grande amor de suas vidas. Menos pessoas ainda são afortunadas com a chance de dividir suas vidas com este grande amor. Acredito que a maioria vive o amor duas, três, quatro estrelas. Mas aquele verdadeiro, aquele amor cinco estrelas, é privilégio de poucos.
Vivemos de encontros e desencontros com pessoas legais, bacanas, com algumas afinidades, mas isso não quer dizer que seja o grande amor. E quando este grande amor acontece, às vezes chega cedo ou tarde demais; às vezes não acerta a hora. Pessoas certas passam muito pela vida da gente. A grande matemática está neste encontro acontecer com a pessoa certa na hora certa. O grande amor na hora certa: não é presente para todas as almas.
A mensagem que qualquer pessoa deveria carregar consigo é que podemos ter a chance de conhecer um amor realmente grande e poderoso, aquele amor que pode ser o mais importante e definitivo no sentido de realmente dar algum significado extra à nossa vida. Mas isso não quer dizer necessariamente que vamos envelhecer ao lado deste alguém. Nem todos os grandes amores, apesar de grandes amores, conseguem encaixar-se na realidade e nas ambições que escolhemos para nós – e exatamente sobre isso, se eu puder deixar a dica de um filme baseado em um livro, aqui está!
A PELE DO DESEJO (1992)
A história retrata a vida de uma mulher rica que mora e pretende estudar em Paris. Seu grande amor é pobre, pescador e não tem grandes ambições. Os dois se conhecem e se apaixonam durante um verão, na Escócia, onde ele sempre morou. O filme é dos mesmos produtores de “O Nome da Rosa” e está baseado no romance “Les Vaisseaux du Coeur”, de Benoite Groult, que vendeu milhões de exemplares em cerca de vinte países.
Agora a segunda pergunta: “como esquecer alguém?”. Olha, se eu soubesse, estava vendendo este conselho e vivendo de renda. E se eu disser que tem gente que a gente nunca esquece? Será que conforta? Será que o que realmente dói não é ficar lutando, brigando conosco e tentando arrancar do nosso coração pessoas que fatalmente jamais sairão dali? Ou que pela importância que têm ou tiveram exigirão um longo prazo para partir? Será que não é mais confortável compreender a situação, ser grata pelos bons momentos juntos e encontrar dentro do peito uma gavetinha para guardá-la ali, quietinha, sem nos machucar, apenas como uma bela lembrança de um tempo que foi bom, mas que não voltará – e que a vida anda pra frente?
+DIÁRIO DA MARI: O aperto no peito é ansiedade. Não sou a única, somos muitas!
Talvez ali, quietinha, em silêncio, com o passar dos anos ela vá ficando amarelada, envelhecida… Enquanto damos cabo da nossa vida, das nossas escolhas, enquanto caminhamos para nos abrir para outras experiências e outras pessoas, ela vai ficando em um passado cada vez mais distante. Até o dia em que nada mais tem a dizer. Então, sem dor, sem traumas, abrimos aquela gavetinha, damos de cara com aquele alguém agora estranho e deixamos que se vá. Será que não pode ser assim? Dar tempo ao tempo, com serenidade e sabedoria; com mais raciocínio e menos emoção. Afinal, o tempo não é o senhor da razão?
SERÁ QUE AJUDEI?
ACHO DIFÍCIL
Perfeito!!!!!
Adorei!!!