O adorável Caminhos de Pedra

A preguiça me impede de sentar neste momento, 19 horas e 48 minutos da noite de domingo, em frente ao computador do meu escritório-bunker. Então, de pijama, estou confortavelmente acomodada no sofá em frente à TV, com umas pessoas que nunca vi na vida debatendo o futuro do Brasil na Globonews e o Bento me encarando com aqueles olhos esbugalhados que dizem: “Já jantei, já comi dois dos brancos e o que vem agora?”

13 por ai 9NÃO VEM MAIS NADA, QUERIDO…

mulher-doidissima-300x187DEITA E DORME OU TU VAI EXPLODIR

Ao falar isso para o animal, ele imediatamente começa freneticamente a se coçar. Coça as patinhas, coça o lombo, coça o rabo… E eu já não sei mais se está com crise alérgica, com crise emocional, se quer chamar atenção ou me tirar do sério.

bento1SÓ QUERO MAIS UM DOS BRANCOS

Mas não vai levar. Tu pesa 7 quilos, o que já acho muito para um lhasa, acabou de jantar ração com guisadinho, comeu dois dos brancos e está de bom tamanho. Não estou a fim de testemunhar a explosão de um lhasa.

bento1ELA SEMPRE EXAGERA

Exagero foi o almoço de ontem. Como comentei, na sexta-feira subimos a Serra rumo a Caxias do Sul. Eu havia sido convidada pela Academia Caxiense de Letras para fazer uma palestra no último dia da Semana do Escritor sobre meus dois livros, Peregrina de Araque e Vida Peregrina. O convite era para falar sobre meu processo de criação e os bastidores da escrita de ambos. Como comentei também, ficamos sabendo que, desde o dia primeiro deste mês, a rede Ibis de todo o Brasil passou a receber animais de pequeno porte como hóspedes. Assim sendo, o animal subiu a Serra junto conosco.

bento1FUI DOS INCLUÍDOS

Pegamos um engarrafamento monstro na saída de Porto Alegre. Lamento muito por todos aqueles que precisam passar diariamente por esse caos que é sair e entrar em Porto Alegre pela BR-116 e por aquela outra rodovia nova, que, se não me engano, atende por 448 e que já nasceu engarrafada. Saímos às 16h15 de casa e só conseguimos sair da primeira e segunda marchas uma hora e meia depois. Eu tinha que estar às 19h30 na Casa da Cultura de Caxias. Por milagre, chegamos às 19h45.

bento1EU FIQUEI NO HOTEL

Preferimos nos atrasar um pouco, mas deixar o animal descansando no Ibis. Ele não chiou. Tudo o que mais queria era ficar de pelotas no quarto. Levamos sua cama, a carteira de vacinação (sim, é preciso levar a carteira de vacinação para o check-in), falamos que voltávamos logo e ele apenas pediu que colocássemos a plaquinha de “não perturbe” na porta.

SERRA IBIS BENTOESTA MESMO!

A palestra foi ótima. A biblioteca de Caxias, localizada na Casa da Cultura, estava cheia de gente muito curiosa e atenta. Fui recepcionada pela querida Marília Galvão, autora do convite. Momentos antes de começar o evento, Marília, Chico e eu conversávamos enquanto as pessoas chegavam e iam se acomodando. Então, Marília perguntou do Bento, respondemos que ele havia ficado no Ibis – e ela contou do seu poodle de 18 anos que havia morrido de velhinho pouco tempo atrás.

– Ele já não enxergava, não queria comer nem beber. Para que tomasse um pouquinho de água, eu precisava pegar um conta-gotas e colocar na boca dele. Mas nem engolir ele queria. Era como se me dissesse: “Deu, já vivi o que tinha para viver, agora só quero descansar em paz”. Então, numa noite, enrolei ele em seu cobertorzinho e levei ao hospital. O veterinário disse: “Não há mais o que fazer, Marília. Ele está velhinho e só quer descansar. Tu tem duas opções: deixá-lo aqui comigo, eu te prometo que vou tornar essa passagem a mais delicada e suave possível, ou levá-lo de volta para casa e prolongar sua agonia”. Foi então que eu resolvi deixá-lo. E uma das piores sensações do mundo foi voltar para casa apenas com o cobertor, foi abrir a porta de casa e enxergar ele em todos o cantos, foi recolher sua cama e seus brinquedos, foi me dar conta que dali em diante ele seria apenas uma doce lembrança”.

E de repente… Não mais que de repente….

crying-children-jill-greenberg-4EU TIVE UM ATAQUE DE CHORO

crying-babyNÃO CONSEGUIA PARAR DE CHORAR

crying-300x205ENXUGAVA AS LÁGRIMAS E ELAS CONTINUAVAM SALTANDO DOS OLHOS

Chico olhou para mim e eu estava em frangalhos. Marília desculpou-se:
– Ai, Mariana, fui te fazer chorar justo agora… Não era a minha intenção.

crying-photoshopped-babies-end-times-10NÃO TEM PROBLEMA

CRYING CHILD2ONDE TEM UM TOILETE??

Desci as escadas até o andar de baixo, onde havia um toilete. Chico foi me fazer companhia. Na metade do percurso, entre lágrimas, tive um ataque de riso.
– Que vexame…. – eu dizia, rindo e chorando ao mesmo tempo
– Eu também me emocionei, se isso te consola – tentava me consolar o Chico.

A noite foi ótima. A Casa da Cultura estava lotada, durante uma hora e meia contei sobre o processo de criação dos dois livros, respondi a perguntas e bati papo com o público. Fomos embora às 11h da noite. No dia seguinte, acordamos para fazer o check-out e percorrer o Caminhos de Pedra. Não sem antes posar para a posteridade.

Olha!

SERRA IBIS NOSXIS!
A gerente do Ibis nos contou que Bento foi o primeiro hóspede quatro patas do hotel

Se tem um programa que havia muito tempo tínhamos vontade de fazer era percorrer sem pressa o Roteiro Caminhos de Pedra. O problema foi encontrar a entrada vindo de Caxias em direção a Porto Alegre. O percurso podia muito bem ser melhor sinalizado – como tudo nesse país. Vai e volta na estrada, enfim, achamos a entrada. Nossa primeira parada foi no Restaurante Casa Vanni.

SERRA IBIS VANNIAQUI ADENTRAMOS

A casa de madeira tem porão em pedras regulares e foi construída em 1935, por Pietro Strapazzon. Pertence atualmente à família Vanni e, depois de sofrer a retirada do andar superior em 1975, retomou as características originais em 1996, quando foi totalmente restaurada pelo projeto Caminhos de Pedra.  O subsolo foi transformado em restaurante durante o ano de 2008. Serve um cardápio italiano à base de risotos e massas. Desde 2009, o primeiro piso da casa foi adaptado para atender como cafeteria e loja. Como ainda estava cedo para o almoço, apenas conhecemos e demos uma volta no imenso gramado nos fundos da casa.

Olha!

SERRA IBIS VANNI BENTO E CHICOCHICO E BENTO PASSEANDO NO GRAMADO

SERRA IBIS VANNI DE LONGEVISÃO DA CASA DE ONDE ELES ESTAVAM
Aquela portinha é a entrada do restaurante, que fica no porão e é muito acolhedor

Pegamos o carro e seguimos viagem. Próxima parada: Casa da Ovelha.
Olha!

SERRA IBIS CASA DA OVELHA FACHADAUM AMOR DE LUGAR

Se eu fosse uma pessoa consumista, teria deixado todas as minhas economias na Casa da Ovelha. Teria comprado todos os queijos, todos os iogurtes, todos os molhos pesto, todos os sorvetes, todos os cosméticos, tudo, tudo, tudo. Dá realmente vontade de levar tudo pra casa. Mas me contive, porque já cansei de fazer esse tipo de coisa, de trazer tudo ao mesmo tempo aqui e agora e não conseguir dar conta de consumir. Já conhecia de outros carnavais os queijos e os iogurtes, mas os sorvetes e os cosméticos foram absoluta novidade para mim.

Olha!

SERRA IBIS CASA DA OVELHA SORVETES O FREEZER DE SORVETES
A foto está ruim, mas eu estava meio sem paciência de buscar o melhor ângulo e a melhor luz. Estava preocupada com o Bento que me esperava do lado de fora. Os sabores eram incríveis: framboesa, mirtilo, amora e uma infinidade de outras frutas vermelhas

SERRA IBIS CASA DA OVELHA COSMETICOSCANTINHO DOS COSMÉTICOS
Minha sogra (sim, tivemos a querida companhia dos meus sogros) comprou um creme para as mãos que ela disse ser maravilhoso

A parada seguinte foi na Casa do Tomate, ou italianamente falando, Il Cantuccio del Pomodoro. Quando eu fiquei sabendo que existia a casa do tomate com tudo que podia existir com tomate, quase tive um surto de felicidade. Sou uma apaixonada por tomate e não poderia vislumbrar programa melhor. A dona da casa, Maristela, é uma figura e uma pessoa que merece todas as reverências, já que faz um trabalho maravilhoso de explicar aos visitantes todo o roteiro do Caminhos de Pedra e não apenas a história da casa dela. Bento sentiu-se em casa.

Olha!

SERRA IBIS CASA DO TOMATE BENTO DEITADONO JARDIM, SEM NENHUMA CERIMÔNIA

Após as devidas explicações da Maristela, fomos convidados a uma mesa de degustação com trocentos tipos de molhos de tomate, suco de tomate, tomate desidratado, tomate seco, extrato de tomate, geleias, sucos e o mundo de tomate.

Olha a mesa de degustação!

SERRA IBIS TOMATE DEGUSTACAOTORRADINHAS COM TOMATE!!

Neste momento sentimos que estávamos com fome. Já eram quase 3h da tarde e fomos informados que nossa última chance de um bom almoço era na Nona Ludia, ali pertinho. Mas tínhamos que chegar até às 3h. Deu tempo e foi um banquete. O Nona Ludia é um dos restaurantes mais famosos do Caminhos de Pedra. Funciona em esquema de rodízio e tudo é uma delícia. Sim, eu sou uma pessoa que me incomodo um pouco com garçom passando e oferecendo de tudo um pouco quando ainda estou de boca cheia, mas estava de sangue doce e tudo foi uma festa.

bento1EU FUI DOS EXCLUÍDOS

Pois é. Bento não entrou, era a proibida a entrada de animais. Mas o cara já tinha passeado bastante e ficou dormindo no carro (com a janela aberta, claro, pois não sou do tipo que esquece filho sufocado dentro do carro). Combinamos que levaríamos rango para ele quando o almoço terminasse.

E começou assim!

SERRA IBIS NONNA ANTIPASTOOOOOOOHHHHH!!!!
Mal sentamos e nos trouxeram as entradinhas: um pão colonial maravilhoso, pimentão e cebolinha em conserva, copa, queijo, salame e piem (esse embutido ali da esquerda que vem quentinho e é uma delícia!!)

Na sequência, ofereceram sopa de capeletti e foi colocado na mesa salada de maionese, salada de folhas verdes fresquinhas, polentinha e queijo à milanesa. E os garçons iam passando galeto, vitela, picanha, spaghetti ao molho branco, ao molho alho e óleo, ao molho sugo com carne e nhoque.

bento1DEPOIS SOU EU QUE VOU EXPLODIR

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

10 Comentários
  1. Mariana! Já fiz este passeio e realmente é demais! Quando fui, também almocei no Nonna Ludia! A refeição é “dos deuses”!!!! E os iogurtes de ovelha são realmente umas delícias!

  2. Mari!
    Quase nos encontramos! Estava em Bento no finde, e fiz o Caminhos de Pedra na sexta, junto com marido e filho.
    Fomos direto na Casa da Ovelha – dá pra amamentar os cordeirinhos! Foi incrível. Deixei vários pilas por lá, nos queijos, molhos e iogurtes. Queria um sorvete, mas tava chovendo e não achei propício ter q explicar pro filhote q eu podia tomar sorvete, mas ele não.
    Depois fomos almoçar no Nonna Ludia, e também adorei o Piem (embutido quentinho q tu falaste). Continuamos na Casa do Tomate (queria o confit, mas não tinha; então comprei a cerveja), na Casa da Erva Mate (a da roda d’água, tinha um chimarrão incrível, com erva recém moída, que tb trouxe), na Casa da Uva (sucos e cuca maravilhosos), na Casa dos Salames (salame com erva doce) e na Casa dos Doces (melado).
    Imagina o tamanho do estrago! Em cada casa, uma degustação! Muitas compras deliciosas e uma bela lembrança.
    E não fomos em várias casas, que ficaram pra um próximo passeio.
    Diz pro Bento q eu tb quase explodi.
    bj e boa semana!

  3. Oi Mariana, chegando no trabalho, ligo o computador e logo vou olhar teu blog.
    Me fizeste chorar também, já passei por isto.
    Passeio lindo, bj

  4. Oi Mariana, adorei as dicas, estou indo para o Vale dos Vinhedos com marido e filho no feriadão de Corpus Christi e já estava em nosso roteiro visitar o Caminhos de Pedra, bjs Lize.

  5. Mariana, se te consola eu também chorei só de ler… Sei bem o que é isso. Tive um gatinho, o Biti, por 23 anos. Me acompanhou desde o colégio, a faculdade, a vida profissional… foi o meu amigo mais querido e no dia que ele teve que ir, eu fiquei com ele. Não sei se por desespero de não querer deixá-lo ali sozinho ou por me apegar a ele até o último minuto, segurei o meu amigo no colo enquanto a veterinária praticava a eutanásia. Foi a maior dor que eu já senti. Já se passaram cinco anos, mas ele sempre vai estar presente de alguma forma.

  6. Depoimentos de Marília da Biblioteca+ Alessandra dos comentários = abri o berreiro também. Só quem tem bichinho sabe a dor de perder um. Nunca estamos preparados. O que me consola é que o gato da Alessandra durou 23 anos, portanto, espero que os meus durem no mínimo isso, é muito amor… Amei o post!

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