Onde estão os pais?!

Já tornei público meu pavor de avião, já admiti que lanço mão de medicamentos ansiolíticos para suportar o fato de estar amarrada a uma poltrona a 11 mil metros de altura, já contei sobre todas as manias que tenho aprisionada dentro da jerigonça. Como se não bastasse, 99% das vezes em que pego o avião, dou o azar de topar com um infeliz sentado na fileira de trás, que fica dando joelhadas no encosto da poltrona em que estou sentada.

angry-woman-1SEQUER IMAGINA MEU INSTINTO HOMICIDA

Numa das últimas vezes, o passageiro de trás era um garoto de uns cinco anos que não parava quieto. Viajou o tempo todo em pé na poltrona dando bofetões no meu encosto. Eu estava acompanhada do meu marido, e ele logo percebeu a ira misturada ao pavor de voar que foi tomando conta do meu espírito.

the_incredible_hulk_bill_bixby_imageFUI FICANDO VERDE

– Dá uma olhada e vê se ele está acompanhado dos pais? – pedi ao meu marido, uma vez que não consigo me mexer, só viajo na janela e fico olhando o tempo inteiro para baixo.
– Está com o pai e com a mãe – ele respondeu.

mulher-doidissima-300x187POR QUE ELES NÃO FAZEM NADA?!!

O tum tum tum na minha poltrona continuou. Bofetão atrás de bofetão. Meu marido pediu umas três vezes ao garoto, com toda a calma e didática do mundo, que parasse de esmurrar o assento em que eu estava – sempre observado pelo pai, que lia um livro, e pela mãe, que estava achando tudo uma gracinha. Foi então que resolveu partir para um outro tipo de vocabulário. Chamou o garoto na fresta entre as poltronas.

vol_bernardinho_efe62VEM AQUI, BONITINHO

– Está vendo esta moça? – ele disse, apontando pra mim.
– Estou – respondeu o garoto.
– Ela sofre de um problema.
– Qual?
– Quando ficam batendo na cadeira dela, como você está batendo, ela vai ficando enjoada. Daí ela vomita.
– No saquinho do avião? – o garoto quis saber.
– Não, e foi por isso que eu te chamei. Ela só sabe vomitar pra trás.
– Ela vai vomitar em mim, então?
– Provavelmente. E o vômito dela é bem escuro e fedorento.
– Eu não bato mais.

woman-looking-crazy-feature-280x1253DEMOROU

O episódio ilustra que há nos nossos dias uma terceirização na educação dos filhos – e este é o maior drama das famílias, segundo o pediatra Daniel Becker, Pioneiro da pediatria integral no Brasil, que une a medicina convencional a saberes tradicionais como a acupuntura, a osteopatia e a homeopatia.

2MUITO PRAZER, SOU O DR.BECKER

Se pais com nível universitário e boa condição socioeconômica se mostram incapazes de educar os filhos, não é razoável argumentar que lhes falta informação. O problema é outro. Segundo Becker, a maior carência dos nossos tempos é o bom senso.

4oliviaBENTO NÃO TEM NENHUM

“Os pais perderam a intimidade com os filhos”, diz Becker. “Por culpa, falta de jeito ou ansiedade, supervalorizam a criança. Acham que devem fazer todas as vontades  e evitar frustrações. Nessas famílias, a criança vira Deus. Não pode ser contrariada”.

reiSURGEM OS REIZINHOS

bento1COMO EU

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Sem comentários ainda.
  1. Oi, Mari!
    Esse teu assunto é muito importante…
    Sabe, sou Conselheira Tutelar da minha cidade, Capão da Canoa, e teria mil exemplos de casos como este que mencionastes… alguns em famílias mais pobres outras em famílias com melhores condições. E, sobre esta última “classe” citada, vi algo que me deixou pasma: num determinado evento que reuniu muitos jovens no litoral, uma gurizada bebeu demais… e o Conselho foi chamado para localizar os pais destes jovens. Uma menina estava totalmente alcoolizada, havia feito todos fiascos possíveis e, quando os pais dela chegaram (pensa bem: tu estás na tua casa dormindo e o Conselho Tutelar te liga na madrugada para buscar tua filha, menor de idade, que fora expulsa de uma festa pois bebeu demais e tu tens que viajar 120km para chegar ao local) fizeram sabes o que?? Chegaram abraçando e consolando a guria!! Ok, óbvio que como Conselheira não poderia querer que espancassem ou chegassem berrando, mas uma repreensão já de cara seria o mínimo, não achas?? Depois criam filhos sem limites, mal educados, e não sabem pq… Triste isso!

  2. Concordo muito com o texto. Não sei o que esses pais pensam. Será que não conseguem ver que estão criando monstros? Isso não é amar: amar é dizer não quando é preciso.

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