Blog da Mari: “Você fica triste? Parabéns! A felicidade virou obrigação de mercado”

Está entediada? Eu também. Está desesperançosa da vida. Eu também. Tem vontade de chorar do nada? Eu também. Acha que aquela luz no fim do túnel é um trem que vem em sua direção em alta velocidade? Eu também. Parabéns! Bem-vinda à vida como ela é – e ela não tem nada desta felicidade sem prazo de validade exibida nas redes sociais.

No Facebook, no Instagram, ninguém chora, ninguém sofre, ninguém tem crise de ansiedade, ninguém tem dúvida a respeito de nada, todo mundo tem razão, ninguém expõe fraqueza alguma. Para completar, ainda existe esse mundo bizarro dessas blogueiras de barriga negativa, de look do dia, de viagem 5 estrelas, de vida que se resume a cabeleireiro, Snapchat, bolsa de centenas de milhares de dólares, olho-tudo-boca-nada, must-haves, peças-desejo e blablablá. Quem ainda suporta isso, me diz?

crying2-425x499QUEM?

Pois vem cá, amiga, me diz uma coisa: está triste? Chateada? Desesperançosa? Com vontade de sumir? Com ganas de largar tudo exatamente agora e se enfiar sozinha dentro de uma sala escura de cinema, com o maior balde de pipoca à venda, desligar o celular e viver outra história por pelo menos duas horas sem ser incomodada? Junte-se a mim!

wonder-woman-1JUNTAS SOMOS MAIS

Eu não tenho problema de dizer que choro, que fico triste, que perco a esperança, que não tenho dinheiro, que preciso fazer o maldito imposto de renda, que faltou o detergente e preciso voltar ao supermercado. Não tenho bolsa Chanel, sapato Prada, casaco Gucci, não viajo de first class para a semana de moda de Paris, não posto selfie em elevador, não tiro foto em rooftop de Nova York em clima de happy hour numa terça-feira à tarde nem em lancha pelos mares de Maimi. Não compro essa felicidade – e quer saber? Se tivesse dinheiro, também não compraria.

Como diz minha colega jornalista Mariliz Pereira Jorge, cheguei à conclusão que dá para trocar várias blogueiras por linhaça e ter uma vida mais saudável emocionalmente.

linhaca-douradaOI, BONITONA!

A felicidade virou uma obrigação de mercado. Estar triste, entediada, ter alguma ansiedade, uma depressãozinha até (por que não?) não é “comercial”. Não “vende”, sabe assim? Como sempre sabiamente diz Arnaldo Jabor em tudo o que escreve e comenta, “a infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória”. Só que é impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Esta “felicidade” infantil da mídia, dos blogs, das redes sociais se dá num mundo cheio de tragédias aparentemente sem solução.

+MARI KALIL: De Mariana para Mariana: uma carta para lembrar dos reais valores da vida

Você não sofre quando vê terroristas explodirem metrôs mundo afora? Eu sofro. Não sofre quando a politicagem corrupta ri da tua cara? Eu sofro. Não sofre com a intolerância racial, sexual, animal? Eu sofro. Não sofre por não poder ir até a esquina com medo de levar uma facada nas costas ou uma arma na cabeça? Eu sofro. Não sofre por chegar ao final do mês com teu salário contado, quando você sabe que trabalha para ganhar muito mais? Eu sofro. Não sofre por dar a metade deste mesmo salário para o governo que rouba na cara dura e nada oferece em troca? Eu sofro. Pois então! Esta é a vida real. O mundo também é feito de baixos – e a gente sobre também. Eu, ao menos, sofro. E você? Então sorria! Alivie-se!

shouting-woman1SOMOS NORMAIS!

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

9 Comentários
  1. Bom dia Mari!!
    Sim eu também sofro….sofro ainda mais por não sobrar dinheiro nem mesmo para ir ao cinema e poder me desligar por duas horinhas, pois pagando a faculdade e a conta da luz já não sobra mais nada…

  2. Vou tentar essa tua ideia Mari! Os servidores públicos aqui no Rio de Janeiro não recebem mais o salário na data certa e este mês de abril ele será ainda parcelado em duas vezes. E tende a piorar. Já tivemos casos de suicídio, tu acredita? Bjs.

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