Será que consigo assistir ao filme “Truman” sem chorar a semana inteira?

Qual foi o destino do feriado? Pegaram a estrada, os céus do Brasil, ou estão feito eu, embutidas em suas casas, porém felizes da vida? Deus me livre me mover para algum lugar neste feriado. Tudo o que mais queria era ficar quieta no meu canto. Desejo, claro, mas obrigação também. Estou devendo alguns vários textos para uns credores aí – não devo dinheiro; devo textos mesmo – e preciso estar concentrada pelos próximos três dias pelo bem de conseguir passar dos primeiros parágrafos.

Levantei sem pressa na manhã desta quinta-feira, fui com a dupla dinâmica até a esquina, fazia um calor dos infernos e a dupla resolveu voltar pra casa – o que agradeci de bom grado. Já estava sem ar e suando. Agora, começam, enfim, os primeiros respingos de chuva, e eu espero que ela venha com toda sua força para refrescar a vida de quem, como eu, sonha com a chegada do outono-inverno 2016.

Somos quatro seres dividindo os poucos metros quadrados do bunker-escritório e acabo de receber de meu querido marido uma xícara de café. Sim, eu vou ficar aqui falando o que me dá na telha, afinal de contas fiquei em casa e estou a fim de conversar com vocês.

baby-kiss3MINHAS MIGUES QUERIDAS

Terminei agora há pouco um post sobre o Madero Porto Alegre, o novo restaurante que vai inaugurar na ala nova do Shopping Iguatemi na semana que vem, levantei, fui até a geladeira, peguei oito uvas e uma castanha (meu lanche da manhã; a castanha contribui para baixar o índice glicêmico da fruta) e me atirei de costas na minha bola de pilates para alongar a carcaça. Então, fiquei ali, de barriga pra cima na bola mentalizando a próxima tarefa da quinta-feira de feriado: correr na esteira.

crying2-425x499O QUE PODE SER PIOR?

Então, levantei da bola, sentei no sofá – e meu respectivo marido perguntou que tanto eu fazia ali, imóvel, sentada na beira do sofá e olhando para o infinito.
– Estou mentalizando que terei que correr na esteira – respondi.
– Isso não se mentaliza – ele respondeu.
– Como assim?
– Se tu fica aí pensando, sofre mais. Levanta, liga a esteira e corre! Sem pensar muito – ele sugeriu.

crying2-425x499NÃO CONSIGO

Então, entrei no aplicativo Cine Mobits do celular para ver quais são os filmes que estão em cartaz. Resolvi parar de pensar na esteira e pensar em algum programa tipo recompensa pós esteira. “Cinema, claro!”. Entre todos os blockbusters que não me pegam, achei um que me interessou bastante e que tinha ouvido falar meio por cima: Truman, com meu querido e amado ator Ricardo Darín.

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Fui ler a sinopse: “Julián (Ricardo Darín) está doente e não quer fazer disso um drama nem quer revelar isso para todos. Ele recebe a visita do amigo Tomás (Javier Cámara) e juntos relembram grandes momentos. Julián não sabe quanto tempo tem de vida e por isso se preocupa com quem vai ficar com seu cachorro, Truman”.

Agora chego ao problema do filme que quero ver: o cachorro Truman. Tenho seríssimos problemas com filmes sobre animais em geral e cachorros em particular. Saio acabada do cinema. Choro, choro, choro, choro, soluço, quase penso em levantar e ir embora de tão mal que eu passo. Mas quero muito ver este filme. Só que sei que vou chorar muito também.

bento1123LEVA KLEENEX

Adoro a simplicidade do raciocínio dos animais: “Leva Kleenex”. E o que eu faço depois, toda inchada e sem ânimo para nada? Só querendo voltar para casa e chorar o resto da noite? Terei arrasado com meu feriado, vou passar três dias chorando, lembrando do Truman e sem conseguir escrever os textos dos meus credores. Vou olhar o trailer. Peraí que vou buscar no YouTube.

Olha!

Até que não aparece muito o Truman, vai dizer? Me animei mais agora… Li mais sobre o filme na matéria do jornal O Globo. Me acompanhem. Separei alguns trechos:

O filme é quase um manifesto pelo direito de cada um decidir sobre a própria vida. “Somos muito exigentes, pouco compreensivos e estamos muito condicionados pelo que se chama de senso comum. O senso comum diz que uma pessoa como esta (Julián) deveria cumprir uma série de normas, mas ela toma uma decisão polêmica, e, com isso, o diretor busca provocar”, disse Darín em entrevista a O Globo.

O pai do ator morreu de câncer quando ele tinha 30 anos. Na mesma época, sua mulher, Florencia, estava grávida do primeiro filho do casal. Ao ler o roteiro, foi impossível Darín não se lembrar da última etapa de vida do pai, quando ele preferia falar sobre o neto que estava a caminho e mostrava-se hermético na hora de fazer qualquer comentário sobre sua doença. Ricardo avô morreu quatro dias após o nascimento de Ricardo neto. “O personagem (Julián) tem o senso de humor ácido de meu pai. Não tive opção, me senti dentro do filme desde o primeiro momento”, disse Darín em entrevista ao jornal “Clarín”.

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Tão especial foi o vínculo que quando o ator foi informado de que Troilo (o verdadeiro nome de Truman) havia morrido, confessou ter chorado durante uma semana inteira.

— Ficamos muito amigos, ele era um cachorro especial, trabalhava com crianças autistas — diz Darín, com lágrimas nos olhos. – Quando brincamos de ser outra pessoa, viver circunstâncias alheias, sempre aprendemos a ser mais amplos, mais tolerantes. Somos muito críticos, julgamos e prejulgamos o tempo todo, nos dá mais trabalho e nos cansa compreender o outro. Esta é uma história que pode nos deixar, como plus, a tentativa de pensar um pouco mais antes de criticar alguém.

manaELA JÁ ESTÁ CHORANDO

bento1123É MUITO FIASQUENTA

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

5 Comentários
  1. Mariana, vai tranquila! Eu sou a pessoa mais chorona do universo, ainda mais quando envolve cachorro e não rolou nenhuma lagriminha quando vi Truman. O filme é maravilhoso, bonito sem ser piegas ou apelar para o sentimentalismo barato e Ricardo Darín dá show – como sempre. Beijos!

  2. Sim, prezada Mariana, peludos são um tema que te emociona bastante. E graças a essa emoção, consegues emocionar teus leitoras.

    E digo isso à conta de uma das tuas crônicas do teu livro “tudo tem uma primeira vez”, o qual tenho orgulho de ter na minha estante devidamente autografado, na qual relatas como foi a vida e convívio com teu primeiro cãozinho.

    Terminei de ler com os olhos marejados, confesso…

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