Susana Vieira: energia, bom humor, espírito jovem e sem paciência para a burrice

Minissaia floreada, regata de malha, salto anabela – assim chega Susana Vieira, esbanjando energia. “Vim prontinha”, avisa. “Pensa que eu não sei o teor da sua entrevista?”. O espírito alegre e bem-humorado serve como filosofia de vida da atriz de 75 anos (ela completa 76 em 23 de agosto), avó de dois meninos. Há uma autenticidade nas declarações de Susana que lhe permitem oscilar entre o riso e a irritação sem fazer pose – com o privilégio de dispensar qualquer tipo de máscara.

Susana integra o pequeno e cada vez mais seleto grupo de atores que tem contrato com a Rede Globo. Seu trabalho mais recente na televisão foi na minissérie Os Dias Eram Assim, em 2017. Nosso encontro aconteceu no escritório da assessora da artista, na Barra da Tijuca, no Rio – e ela chegou chegando. A seguir, os principais trechos.

SUSANA VIEIRA: “NÃO SOU CELEBRIDADE, SOU UMA ATRIZ FAMOSA E RESPEITADA”

No teatro, quando termina de encenar uma peça, você chora muito. Por quê?
As relações são mais profundas – e isso aconteceu principalmente com o monólogo Água Viva. (Água Viva é um longo texto ficcional em forma de monólogo, que foi publicado pela primeira vez em 1973, poucos anos antes da morte da autora, Clarice Lispector, e encenado por Susana em turnê por todo o Brasil). É uma peça dificílima porque a personagem é densa, tensa, polêmica. Me apavorei, tive dor de barriga, achava que não conseguiria estrear. Me sinto sozinha para caramba em cena, o que é muito deprimente. Teve momentos que quis desaparecer.

Há uma outra Susana Vieira, muito oposta à esta, que entra em cena nos carnavais do Rio de Janeiro. Como você se prepara para desfilar feliz e faceira com o corpo à mostra  na Marquês de Sapucaí?
Antes de tudo, vou para uma clínica fazer um pouco de lipo em vários lugares. Ahhh… eu cismei. O padrão de beleza do Rio de Janeiro é 38, amor… Se você não veste 38 e não tem 20 aninhos, não é nada.

Você ofuscou várias musas na avenida em um Carnaval em que foi Rainha de Bateria da Grande Rio.
É que nunca tinham visto uma mulher da terceira idade entrar na avenida como rainha da bateria, né? (risos). Fui aplaudida devido à popularidade e ao amor que as pessoas têm por mim. Isso vale mais do que uma bela coxa.

Incomoda ser uma celebridade sempre observada?
Eu não sou uma celebridade. Sou uma atriz famosa e respeitada. A palavra celebridade não existia no meu tempo.

Celebridade para mim é algo muito rápido. É fútil demais! É passageiro, rasteirinho, babaca. Hoje, o que se dá de valor a essas pessoas que aparecem e desaparecem é algo absurdo. O Faustão recebe em seu programa eu, a Glória Menezes e o Tarcísio Meira com o mesmo grau de importância que dá a todo o outro mundinho que está chegando. Coloca a gente no mesmo nível. É absurdo.

Como você lida com a cultura dos paparazzi?
Tenho ótima relação com os paparazzi. Combino tudo com eles. Quando vejo um paparazzo, chamo e pergunto: “O que você quer?”. Uma vez, estava em um motel e resolvi pedir uma garrafa de água mineral fora do gelo. Como estava demorando, fui até o corredor e chamei a camareira. Ela se aproximou e disse: “Ih, dona Suzana, vou lhe contar uma coisa… Quando a senhora sair, se esconda. Porque eu vi um garçom ligando para uma revista dizendo que a senhora está aqui”.

Você se escondeu?
Me escondi…(risos). Porque o homem estava em um processo de separação e não podia ser visto comigo (gargalhadas). Eu podia ser vista, mas ele não! Das outras vezes, levei ele para a minha casa para não ter mais esse problema.

“Tenho saído pouco à noite. Acho excessiva a cobertura jornalística que se faz dos eventos. As pessoas que frequentam as festas são sempre as mesmas, e os fotógrafos acabam criando histórias para inovar, buscando uma calcinha que aparece aqui, um beijo roubado ali.”

Você já foi vista na feira e em atividades corriqueiras de pessoas não famosas. Faz questão que a vejam como alguém com uma vida “normal”?
Não quero que me vejam como alguém normal. Eu não sou como qualquer outra pessoa. Eu sou uma personalidade neste País. Quando estou na rua, sou tratada como a Susana Vieira.

“Não passo despercebida e não quero que pensem que sou simples. Isso não existe. As pessoas me acham gentil, mas sabem que sou a Susana Vieira. Não faço a menor questão de parecer simpática. Tenho um gênio fortíssimo, não escondo minha irritação e por isso nunca faço tipo para ninguém.”

Você é uma das poucas atrizes com mais de 50 anos que interpreta personagens com uma vida afetiva que os autores costumam dispensar a atrizes mais jovens…
(Interrompendo) Todas as mulheres com mais de 60 anos que estiverem gostosas como eu, poderão fazer papel de mulheres que transam! É só isso. Até parece que ninguém está transando depois dos 20 anos! Na vida real, todas nós estamos beijando muito na boca.

“Estou sempre disposta a ter meu coração ocupado, a amar e a fazer sexo. Tem muita gente dando em cima de mim, está tudo uma delícia. Não estou negando nada nem ninguém. São amores passageiros, efêmeros, tesões proibidos. Estou livre, leve e solta. E quem não está, também dá em cima de mim”.

O que você come?
Empada, carne assada, macarrão, café com leite, pão com manteiga, panqueca… Eu só não como açúcar. Sofro de uma doença chamada sugar repulsion. Meu aparelho digestivo rejeita todos os tipos de açúcar. Vivo há mais de 70 anos sem açúcar. Está provado que o açúcar não faz falta. Não como fruta, não tomo suco de fruta, nem beterraba eu boto na boca. Qualquer coisa com gosto de açúcar me faz vomitar.

Malha muito?
Depois dos 50 anos, comecei a fazer hidroginástica. Comprei uma esteira e montei uma academia em casa. Mas achei tão solitário, que levei a esteira para o quarto e coloquei em frente à TV. Faço uma hora de caminhada todas as manhãs.

“O meu vigor físico vem da minha genética, que é fantástica. Comecei a fazer balé com cinco aninhos. Aos 21, me formei professora. Isso aqui que você está vendo (mostra o músculo da coxa), isso aqui (mostra a panturrilha) é do balé. Isso não é academia, não”.

De onde vem toda essa disposição?
Existem pessoas predestinadas ao sofrimento. Não faço parte desse time. Abro meu coração para pouquíssima gente.

“Esse meu vigor e alegria não é clínica de cirurgia plástica que dá, mas meu espírito jovem. Vejo mulheres lindíssimas, retocadas, cheias de botox e que parecem mortas. Tenho pavor de parecer entediada.”

O que a faz perder o senso de humor?
Burrice. Em qualquer departamento – no pessoal, social, profissional. Burrice me tira o senso de humor.

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

1 Comentário
  1. Está certo que ela é uma boa atriz mas….meio convencidinha ela, não?
    “Eu sou uma personalidade nesse país”
    “Não quero que me achem comum”….
    Sinceramente, respeito seu trabalho como atriz, mas acho ela meio sem classe…

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