Lembram que comentei sobre o livro que estava lendo durante as férias de janeiro em Punta del Este? Chama-se A Morte na Visão do Espiritismo, de Alexandre Caldini Neto. Contei em detalhes no post UM INCRÍVEL LIVRO PARA QUEM QUER COMPREENDER A VIDA E A MORTE. Lembram? Não lembram? Pois então cliquem ali no link do post em letras maiúsculas e leiam para que eu possa continuar.
EU ESPERO, SEM PROBLEMAS
Vou até a cozinha fazer um cafezinho, daí vocês ficam mais à vontade para ler. Vão lendo que eu já volto. (Mariana levanta-se, recolhe o prato do animal todo lambido, animal comeu toda a sua comida matinal, vai até a cozinha preparar o segundo café preto da manhã).
NÃO TENHAM PRESSA
Muito bem, de volta: todas a par do que eu estou falando, certo? Então continuamos. Bem, este livro vive na minha mesa de cabeceira e me serve de guia para a compreensão de muitas coisas e para diversas ações nesta vida. Dia desses, fiquei sabendo que o autor ficou sabendo do meu post. Quase não acreditei. Como se não bastasse, ele gostou tanto e ficou tão grato que me enviou um exemplar autografado. Quase morri.
Olha!
OOOOOOOHHHHHH!!!
FIQUEI MUITO FELIZ
NÃO FALAVA EM OUTRA COISA
Morte é um assunto que me interessa bastante. Não entendo o porquê da maioria das pessoas terem medo do assunto. Se há uma coisa certa na vida de todos nós é que vamos morrer um dia. Então, como diz meu amigo Ney Matogrosso, que saibamos sair do nosso corpo sem sofrer e sem lamentar. Com coragem, clareza e lucidez. Entender a morte faz com que a gente entenda a vida – e entendendo a vida conseguimos direcioná-la para o bem. Ontem, fui ao cinema com minha sobrinha de 5 anos, a doce Marina. Fomos assistir a CINDERELA. Marina comportou-se de forma exemplar. Comeu seu saco de pipocas, tomou seu suco de uva e ficou quietinha vendo todo o filme. Eu, a tia velha, fiz um fiasco.
CHOROU DO INÍCIO AO FIM DO FILME
ACHEI QUE NUNCA MAIS IA PARAR DE CHORAR
Comecei a chorar com a morte da mãe da Cinderela, continuei chorando com a morte do pai da Cinderela, chorei mais ainda quando a Cinderela conhece o príncipe que ela não sabe que é príncipe, desatei chorando quando o pai do príncipe morre e liberta ele para casar por amor e não por interesses do reino, caí em prantos quando príncipe e Cinderela dançam na festa do reino, puxei um lencinho de papel da bolsa quando o sapatinho de cristal serve no pé da Cinderela e cheguei a colocar a cabeça entre as pernas de vergonha da minha sobrinha no final, quando uma voz diz: “… Então, com amor eles governaram o reino, e Cinderela foi feliz seguindo o conselho de sua mãe: ‘Tenha coragem e seja gentil. E veja o mundo não como ele é, mas como deveria ser. E, se puder, com um pouco de magia'”.
TENHA CORAGEM E SEJA GENTIL
VEJA O MUNDO NÃO COMO ELE É, MAS COMO DEVERIA SER
Não é lindo? Só consegui me recuperar hoje de manhã. E agora já nem sei mais sobre o que estava falando. Ah, sim! Morte. Pois então. Comecei este post porque li uma notícia na Folha de S.Paulo de sábado que muito me chamou a atenção: o Death Café Sampa. Eis o relato inicial de Camila Appel, que escreveu sobre o assunto:
É sábado à tarde. Entro numa pousada nos Jardins e cumprimento de leve algumas mulheres sentadas nas cadeiras da entrada. Será que elas estão aqui para falar de morte, também? Imagino que todos se perguntem isso sobre cada um que chega. Difícil não olhar os rostos e pensar porque ele ou ela saiu de casa em pleno sábado de sol para se unir a desconhecidos e conversar informalmente sobre um tema tão obscuro e incomum. Uma senhora à minha frente me faz questionar se ela tem sentido medo de envelhecer e por isso está se dispondo a esse diálogo. Um rapaz, jovem, levou minha imaginação para uma possível perda familiar recente, ou um parente muito doente em casa, necessitando de cuidados especiais, a cargo dele. Nem faço ideia sobre o que pensavam os que olhavam para mim. Abri mesmo o sorriso quando vi bandejas de doces e sanduíches sendo levadas às salas de conversa. Nosso grupo foi logo dividido em dois: os veteranos, que já participaram de um encontro, e os novatos. Cada um com aproximadamente dez pessoas, idade média de 45. Era a quarta reunião do Death Café Sampa.
CAFÉ PRA FALAR DE MORTE, MARIANA?
Mais ou menos por aí. O Death Café é uma iniciativa mundial para incentivar grupos de discussão sobre a morte. Seu objetivo, como consta no site, é “aumentar a conscientização da morte com a visão de ajudar as pessoas a fazer o melhor de suas vidas” – mais ou menos aquilo que eu estava falando que o livro de Alexandre Caldini Neto ajudou ainda mais a despertar em mim. O modelo do Death Café foi elaborado a partir das ideias de Bernard Crettaz, um sociólogo e antropólogo suíço, pioneiro na ideia de formar espaços para falar sobre o morrer. Ele diz que sua missão é liberar a morte do que ele chama de “tyrannical secrecy” (sigilo tirânico).
Explica a Camila em seu relato que, desde setembro de 2011, já foram oferecidos 1.774 Death Cafés pelo mundo. São reuniões para falar sobre a morte, usando o nome e as diretrizes do Death Café. Os organizadores centrais o chamam de uma franquia social. Qualquer pessoa pode abrir um em sua cidade, ou seja, organizar um grupo de discussão sem agenda determinada, utilizando o nome, a metodologia, e os meios de divulgação do Death Café. Como pré-requisitos, colocam a necessidade de ser uma atividade não lucrativa, não ter tópicos pré-definidos, não “vender ideias”, não ser filiado a instituições e não se apresentar como um espaço de terapia.
FALA DOS COMES
Uma recomendação é ter bolo ou algo doce na mesa para contribuir para um clima informal, indicado para se falar de tópicos aparentemente pesados. No momento, a organização trabalha para abrir um Death Cafe físico em Londres – “um local para conversas e eventos destinados a facilitar o engajamento com a morte”, justificam. Por enquanto, os grupos do Death Cafe se encontram em cafés ou outros espaços como pousadas, que cedem o local, organizam chá, café, quitutes e cobram apenas pelo custo dos alimentos. Em dezembro de 2014, o Death Café chegou ao Brasil com a iniciativa de Elca Rubinstein, economista formada pela USP. Elca trabalhou dezoito anos no Banco Mundial, em Washington, e conheceu os organizadores do Death Café numa conferência enquanto morava nos Estados Unidos: “Conversations on Death” (Conversas sobre a Morte). Interessou-se pela iniciativa e resolveu trazê-la ao Brasil.
Em seu relato sobre a experiência, Camila Appel conta que conheceu Elca neste dia em que resolveu participar do Death Café Sampa. Relata Camila: “Ela se apresentou dizendo ‘venho ao Death Cafe porque eu entendi que vou morrer, e eu estou curtindo a ideia de que essa consciência me possibilita planejar o futuro e, assim, viver melhor'”. Elca convidou todos a se apresentar e dizer o porquê de estarem ali. Dessa rodada introdutória, surgiram diversos questionamentos e o debate se desenvolveu naturalmente, com depoimentos pessoais e reflexões que realmente não têm espaço para ocorrerem no dia a dia.
Relata Camila: “Isso me pareceu o grande triunfo do Death Cafe, deixar com que a informalidade e a falta de agenda conduza estranhos a se abrirem e aprenderem com as experiências dos outros. Uma troca sem objetivos específicos, sem a busca por determinados resultados, apenas aceitar o simples ato de compartilhar.Na saída, perguntei aos participantes do outro grupo, dos veteranos, porque eles participam do Death Cafe. O principal motivo foi o fato de poder falar de forma leve sobre um tema tabu. Usaram frases como “desmitificar a morte” e “ter um espaço para uma conversa que não posso ter em casa”. Uma participante me disse que nunca conta para a família e para os amigos que está indo para um Death Café, “porque eles não iriam entender, achariam perda de tempo e as pessoas associam o falar da morte com negatividade, com mau agouro. Mas lidar com a realidade não é negativo, é necessário e produtivo”.
FALOU E DISSE