Devo confessar que participei da febre que, há alguns anos, tomou de assalto o mercado da moda brasileira. Ter no guarda-roupa produtos antenados com as tendências e a preços bem mais em conta foi uma tentação. Mas algumas compras a mais, alguns erros de percurso, algumas peças mal calculadas sobrando depois me ensinaram que eu não funciono por aí. Mudei a rota.
Hoje, sou uma pessoa que compra pouco, muuuito pouco. Mas compro bem. Compro aquele casaco mais caro (se possível aproveito sempre as liquidações), mas que será meu casaco para o todo e sempre. Abri mão de dois cabides de bolsas e bolsinhas que tinha para ter em casa umas cinco, no máximo, e que já estão comigo há uns bons anos.
Sou mais feliz assim. Porque não entro mais em frenesi diante de blusinhas, shortinhos, sabe assim? Paro, olho, penso no meu guarda-roupa enxuto e calculo se vale a pena e se combina com o que tenho em casa. Fora que arrumar a mala se tornou facílimo, uma vez que tudo combina com tudo.
Foi por isso que assisti de forma tão feliz ao desfile de Walter Rodrigues. Walter criou uma coleção atemporal, de peças trabalhadas no tecido, de peças investimento, como eu gosto de chamar. Vamos aos desfiles do penúltimo dia de Fashion Rio? Ó!
Sua inspiração veio de um livro de retratos em preto e branco, o People of the 20th Century, do fotógrafo alemão August Sander. A alfaiataria de corte irrepreensível do estilista se fez bastante presente, e ele apresentou também uma inovação que gostei muito: casacos de manga curta. Esses casacos formaram sobreposições bem interessantes.
Outra marca que gosto muuuuito. E que gostaria muuuito que aceitasse o convite que ainda pretendo fazer para desfilar no próximo Donna Fashion Iguatemi. A geometria serviu de ponto de partida para a coleção, e as de estampas e recortes vieram em forma de losangos, retângulos e círculos. A grife mineira tem um trabalho de excelência no bordado e nas aplicações e se utiliza disso para tornar ricos os detalhes das peças, como golas e punhos de camisas. A mente brilhante por trás da Printing é a mineira Márcia Queiroz, que apresentou um trabalho incrível de lã prensada com renda, couro vazado com organza, seda bordada. Uma aula de estilismo.