Amiga, não visitá-la na maternidade não significa que não ame você

Eu sigo incomodada com o mundo lá fora. Eu sigo incomodada com a vida que se posta e não necessariamente com a vida que se vive. Isso continua me incomodando – e eu levei este assunto hoje para a minha terapia. Comentei que havia desabafado publicamente sobre o assunto no texto Pelo Direito de Chorar e só ser Feliz com o que a Vida de Verdade pode Comprar. Foi bom ter desabafado e foi melhor ainda ler os comentários que chegaram aqui no site e na página do Facebook. Não estou sozinha. Como já imaginava, somos maioria. E somos mais!

O que disse a minha terapeuta? Ela disse que eu, você e todas nós, amigas e leitoras,  estamos cobertas de razão. Que ninguém aguenta mais este mundo de falsas aparências – e agora cheguei exatamente na palavrinha mágica que ela mencionou e que eu queria chegar: falsidade. O mundo está falso demais; nossa sociedade anda falsa demais. Tão, mas tão falsa que as pessoas mentem até para si mesmas.

Mentem que gostam de comer essas coisas lindas e insossas que vivem postando no Instagram; mentem que pão sem glúten com tofu é muito melhor do que cacetinho com manteiga; mentem que a vida está ótima, o trabalho está bárbaro, o casamento é romance puro e filhos… Ora, filhos são a razão da existência, são perfeitos e não dão trabalho nenhum.

shouting-womanMENTIRA!

Filho dá trabalho, custa caro, mata no cansaço. É preocupação para o resto da vida, a menos que você não seja minimamente responsável pela vida que gerou. E quer saber? Está tudo certo. Quem embarca na maternidade e na paternidade tem que estar disposto a essa eterna doação. Ou melhor não tê-los.

Conversei também sobre certas convenções da sociedade que me incomodam – incomodam muuuito. Por exemplo: visita em maternidade. O assunto veio à tona porque tenho uma querida amiga que deu à luz uma linda menina. Eu estava voltando de viagem do feriado de Páscoa e cheguei meio resfriada a Porto Alegre. Nada de mais, mas espirrando um pouco. Logo ponderei que hospital era o último lugar que deveria passar perto, sobretudo tratando-se de um quarto de recém-nascido.

Mandei uma carinhosa mensagem para minha amiga, desejando saúde, vida longa, felicidade à primogênita – e falei, que assim que ela estivesse tranquila com sua nova rotina em casa, assim que ela se sentisse pronta para receber a visita de amigas, que me avisasse, que adoraria conhecer o bebê e dar-lhe um beijo pessoalmente.

Então, me peguei pensando: “Sabe que, se eu não estivesse resfriada, também teria feito o mesmo?”. Depois que enviei aquela mensagem, me dei conta do alívio que senti, do quão lúcida considerei ter sido minha decisão e do quão à vontade me senti com ela – muito mais à vontade do que se tivesse batido na porta do quarto com um presentinho na mão para fazer uma visitinha, enquanto minha amiga estaria lá querendo ouvir o que o pediatra tem a ensinar, o que a enfermeira tem a ensinar, o que a mãe dela tem a dizer, o que as irmãs têm a orientar.

Pensei que estaria dando uma demonstração muito maior de carinho, amor e afeto deixando minha amiga em paz, junto da família e do marido, para entender que vida nova é essa que se apresenta. Para aproveitar os poucos dias com médicos e enfermeiras a fim de aprender ao máximo a lidar com aquele pedacinho de gente que acabara de chegar.

bad-baby-photographyBEM-VINDO, PINGUINHO DE GENTE

Eu sei, eu já li que tem mães que até contratam bufê para receber visitas na maternidade e exibir a criança como um troféu. Tem pais que chamam os amigos para beber cerveja e fumar charuto no hospital. Não estou aqui para julgar ninguém e me abstenho de divagar a respeito do que penso disso tudo. Tampouco quero dizer que condeno quem faz visitas ou gosta de recebê-las. Apenas estou expondo um sentimento que vive dentro do meu coração – o sentimento de preferir pensar antes no outro (no caso, aquela mãe muitas vezes ainda com dor, que sequer aprendeu a amamentar) do que em mim.

Tenho o hábito de pensar em como gostaria de ser tratada para, a partir daí, tratar as pessoas da mesma forma. A tal história “não faço com os outros o que não gostaria que fizessem comigo”. Não tenho filhos e não os terei (já escrevi sobre o tema e posso voltar a ele, visto que leitoras têm me pedido para tratar do assunto).

No entanto, conhecendo como me conheço, tenho absoluta certeza de que não gostaria de estar de camisola numa cama de hospital, com um bebê que começo a conhecer, tendo que aprender a amamentar, dar banho, trocar fralda, me dar conta de que eles nem sempre reproduzem na vida real aquilo que lemos nos livros e, simultaneamente, sorrir, tirar fotos, fazer sala e fingir que não estou virada numa morta-viva e necessito dormir um pouco – condição natural que toma de assalto todas as mulheres no começo da carreira de mães. Pode não ser fácil. Aliás, não é nem um pouco. Mas isso sim é vida real e deveria ser mais compartilhada.

Deixo o convite para seguir minha vida real no Instagram: @mari_kalil

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

10 Comentários
  1. Isso ai Mari vamos cair na vida Real… assim como você levo ao pé da letra o ditado ” não faço com os outros o que não quero que façam comigo”, e isso tem funcionado muito bem . Quando nasceram meus 2 filhos senti na pele, a dificuldade de não magoar as pessoas, eu naquele momento não estava nada bem , sob efeitos de anestesia, remédios mais de 32 horas sem me alimentar , como poderia receber visitas? Mas ao mesmo tempo não podia “tocar” as pessoas embora , tive que fazer cara de feliz e agradecer o carinho, para não magoar. Mas agora quando alguma amiga tem bebê, penso muito no que passei e respeito este tempo e só visito a nova mamãe quando o bebê já está com quase 1 mês. A ansiedade em conhecer o rebento de alguém que amamos muito é grande , mas só quem é mãe sabe o pesadelo dos primeiros dias … Eu praticamente não dormia, 24 horas ligada na respiração dos filhos, nos movimentos, no cheiro , no choro, em tudo, parecia uma zumbi. Não venham me dizer que tudo é doce e lindo porque não é , ainda mais na primeira vez. Minha amada vó que teve 12 filhos nunca me disse que ser mãe era maravilhoso e fantástico, ela me dizia assim : o dia que tu tiver um filho vai aprender a cuidar muito melhor de ti e dos outros, ser mãe é cuidar . Beijos Mari .. tudo de bom.

  2. Perfeito! Concordo contigo em todos os motivos que colocastes! Eu tive duas filhas e na primeira, tive visitas que esqueceram o horário de voltar pra suas casas! Lidar com toda a novidade e a vontade de dormir imperiosa, é um absurdo, na vida da nova mãe! Tenham piedade e só visitem muitos dias depois!! Mamãe e bebê agradecem comovidos!!

  3. Super concordo contigo, Mari. Minha primeira filha nasceu em janeiro de 2015 e eu optei por não receber visitas de amigos no hospital. Muita novidade, desconforto pós parto (muito desconforto, por sinal) e muito cansaço para ter de ficar fazendo sala. Meus amigos compreenderam a minha decisão (acho que sim, pelo menos!) e foram conhecer a minha filha aos poucos quando já estávamos mais acostumados com a nova rotina em casa. Não me arrependo e farei de novo se tiver um segundo filho.
    Parabéns pela tua sensibilidade.
    Um beijo pra ti.

  4. Mari, concordo contigo em tudo! Gênero, número e “degrau”. Coisa mais chata essa vida de falsidades que as pessoas levam!
    Mas, onde mais concordei foi na visita da maternidade. Depois de 2 gestações, onde tive visitas completamente sem “simancol”, que ficaram até as 2h da madrugada do dia em cheguei em casa com meu bebê, ou que ficaram no quarto do hospital até às 22h, aprendi! Aprendi que, se tivesse mais filhos, enxotaria todo mundo. Confirmei uma coisa que já fazia: só visito depois de um mês, pelo menos!!
    E me valho muito dessa máxima: pros outros, só o que quero prá mim! Porque tem que ser sempre assim, em tudo! Sempre!!
    Beijo grande!

  5. Amiga Mari, tens toda razão. As pessoas tem uma necessidade enorme de mostrar que são felizes e amadas e que o mundo se restringe a “ Amor maior”, “ gratitude”, “ lindas”, etc….. Fazem questão que todos saibam que vivem em um mundo “ cor de rosa”!!! Quando na verdade não existe esse mundo de “contos de fada”. E concordo plenamente que hospital não é local de visitas, muito menos no pós parto e crianças não deveriam ser expostas em redes sociais. Um abraço. PS – Adoro teu senso de humor.

  6. Boa tarde Mariana!

    Estas cheia de razão. Ou melhor, concordo inteiramente contigo. Acho que que além de muita falsidade, estamos muito individualistas. Vou visitar minha amiga no hospital e pronto. Não interessando as condições da criança e familiares. O que interessa é que depois vou poder postar e receber muitos likes. Enfim queridona, desculpa a ousadia, mas te sigo sempre e nos identificamos muito contigo, não tá fácil pra muitas de nós.
    Bjsss
    Margareth Kraemer

  7. Então Mariana, uma ex aluna muito querida teve nenê faz pouco. Eu não estava gripada, mas logo que ela me avisou do nascimento minha reação foi dizer a ela que quando estivesse se sentindo disposta e tranquila e quisesse receber em sua casa que eu adoraria conhecer seu pequeno. Pensei no desconforto que deve ser para uma mãe ter que receber em um momento tão frágil e intimo… não sou mãe também, mas se fosse não gostaria de ter que me envolver em dar atenção as pessoas no momento em que as energias são para a constituição de uma nvoa familia. Adorei a coluna.

  8. Muito bem. Hospital não é lugar de visita. Se alguém está lá é pq necessita atenção e repouso.Visitas em hospitais,qd . Improrrogaveis
    não devem passar de 5 minutos. Sem beijinhos ou apertos de mão no paciente e se houver recem nascido ele é intocável.
    Visitas incomodam o paciente e atrapalham a movimentação da equipe de saúde.
    Infelizmente muitas,mas muitas pessoas não se dão conta disso. São INCONVENIENTES.

    Parabéns pelo alerta. Att. Felipe Giollo

    P.S. Como a tua escrita melhorou. Agora com concordância verbal.
    Então sabias mas fazias tipo cidade baixa. Kkkkk. Abraço

  9. Perfeito, como sempre. Cada dia te admiro mais.
    Também decidi não ter filhos, adoro minhas sobrinhas, mas as pessoas não entendem isso, que foi uma escolha. Adoraria que escrevesse mais sobre isso.
    Já li um texto teu sobre esse assunto e adorei. Onde posso encontrá-lo?
    Obrigada.

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