Dois dias de dedicação canina e as delícias da Fazenda Barbanegra

Olá, há quanto tempo, hein? Desde sexta-feira não nos falamos, desde o dia divino em que minha calça jeans voltou a fechar. O que vocês têm feito? Trabalhado bastante? Procurado mamão que preste no supermercado? Acompanhado a semana decisiva do Impeachment? Saturadas de ouvir que Impeachment é “golpe”? Em busca da vacina contra o vírus H1N1? Festejando mais um salafrário preso na Lava Jato? Chamando a Sabatella de Mortadela? Eu tenho feito tudo isso e mais um pouco – menos a questão da vacina. Gestantes, idosos e crianças devem ter preferência.

Também tenho um fone de ouvido enfiado dentro dos meus dois tímpanos. Estou ouvindo um álbum do Spotfy que chama-se “La Mejor Musica Instrumental de Todos los Tiempos”. Música de consultório médico, sabe assim? KennyG e essas coisas. É que divido o bunker-escritório com meu respectivo marido e, em dias em que ele precisa usar a devida parte do bunker que lhe cabe, fica desenfreadamente falando pelo Skype e pelo celular. Só que ele não fala. Ele berra. Gesticula, senta, levanta. Eu chego a pensar que o divórcio seria um ótimo negócio nesses momentos, mas daí eu penso em todas as qualidades do meu querido marido, levanto, vou até a cozinha, faço um café e tento voltar mais calma.

woman-looking-crazy-feature-280x1253SÓ QUE NÃO

Tentei escrever alguma coisa ontem neste amado e famigerado blog, mas fiquei 48 horas às voltas com a Papaqui. Explico: domingo, estávamos no Parcão, eu fotografava todos os deputados do PT e do PDT que figuram naquele Muro da Vergonha do Impeachment, quando, de repente, olhei para a Gorda e ela estava numa posição estranha. Sentada, resmungando, olhando para o chão. Chamei. Nada. Chamei de novo. Nada. Cheguei perto, me abaixei, chamei de novo. Ela chorava. Fiz menção de que ia embora para ver se ela levantava e me seguia. Graças a Deus, levantou. Não estava paralítica, como aventei, desesperada em um primeiro momento. Mas logo sentou de novo e continuou olhando para baixo e chorando. Raspava a bundinha no chão. “Vermes!”, pensei.

thinking-woman12-499x499SERÁ QUE ESQUECI DE DAR VERMÍFOGO PRA GORDA?

“Não pode ser”, pensei. “Eu tenho todos os controles de remédios colados na porta da geladeira”, continuei pensando. Chico começou a ficar nervoso com a situação e a me fazer uma série de perguntas. Uma atrás da outra. Não sei por que homens, quando ficam nervosos, atolam a gente de perguntas. Como se eu fosse uma doutora em veterinária. “O que pode ser? Será que é vermes? Tu deu remédio para vermes? Ela está chorando muito, não acha? Levamos no veterinário? Onde?”.

hysteria11SILÊNCIO, POR FAVOR!

Então, comecei também a ficar nervosa. Porque Papaqui chorava e reclamava bastante.

bento1123A GORDA É ESCANDALOSA

Nisso Bento tem razão. Papaqui chora e reclama mais do que o necessário. Para tomar vacina, então, é um fiasco. Bento nunca abriu a boca para se queixar de nada. A Papaqui parece porco indo para a tosquia. Resolvemos ir embora do parque. Papaqui sentou atrás do carro e seguia choramingando, muito ofegante e esfregando o traseiro. Vou resumir a história: passei a tarde de domingo indo a três atendimentos de urgência. No primeiro deles, tomei um chá de banco de quase uma hora. Não tinha ninguém na clínica, detalhe. Mas ficamos sentados mais de 50 minutos porque o “veterinário estava fazendo uns exames de emergência em uma gatinha”. O tal veterinário passou umas três vezes pela recepção, conversou qualquer coisa com as duas recepcionistas, olhou para a nossa cara e deu as costas. Até que, na terceira vez, Chico resolveu perguntar para as mocinhas recepcionistas se aquele rapaz era o tal veterinário que aguardávamos ansiosamente.

– É ele, sim – uma delas respondeu.
– E não dá para perguntar para ele se ainda vai demorar muito? – Chico quis saber.
A mocinha riu e seguiu fazendo algo no computador.

mulher-desconfiadaPODE UMA COISA DESSAS?

Se eu já não ia com a cara desse lugar, visto que uma veterinária fez um diagnóstico muito errado do Bento certa feita, mas em casos menos graves ainda frequentava por ser perto de casa, desta vez bastou.

mulher-nova-gritando-feliz-thumb89432484-199x300NUNCA MAIS

Fomos para outra veterinária 24 horas. Lotada. Fomos até uma terceira. Diagnóstico: vermes. A veterinária receitou um vermífogo, deu um antialérgico e mandou embora. Eu não fiquei convencida, apesar de a Gorda, na noite de domingo, ter parado um pouco com os resmungos. Pois bastou amanhecer a segunda-feira para o drama recomeçar. Choradeira e bunda no chão. Fui atrás da doutora Neusa Pacheco, em quem confio de olhos fechados. Ela virou a Papaqui de barriga pra cima e, em dois minutos, matou a charada: sarna. A sarna demodécica dela voltou. Está morrendo de coceira, a pobrezinha… Aplicou-se um corticoide, voltou-se com o Bravecto e a Gorda recuperou-se. Está lépida e faceira nesta terça-feira.

manaMAIS OU MENOS

Na verdade, a Gorda está pesando 11 quilos, precisa perder ao menos dois – e a doutora Neusa aproveitou para receitar a ração Obesity, da Royal Canin.

Olha!

Ração-Royal-Canin-Obesity110 GRAMAS DE MANHÃ; 110 GRAMAS À NOITE

bento1123GORDA SE FERROU

A Gorda é muito menos comilona do que o Bento. Ela gosta da comidinha dela na hora certa, mas não é chegada a ossinhos e toda essa sorte de porcarias que o Bento vive exigindo. Só que a Gorda é castrada, o que contribui para o ganho de peso. E preguiçosa também. Pelo menos ganhei companhia na reeducação alimentar. Agora somos eu eu a Gorda de dieta.

manaELA ACHA ISSO LEGAL

Legal é o trabalho acumulado depois de 48 horas envolvida com a coceira da Gorda incrementada pelas sessões de fisioterapia do Bento. Isso que são dois cachorros, não estudam, não fazem natação, não têm aula de inglês… Dão só um e outro trabalhinho de vez em quando. Fiquei imaginando dois filhos em casa. Mães de crianças pequenas  realmente merecem um busto em sua homenagem que deveria ser colocado no meio da sala de estar e reverenciado diariamente.

+MARI KALIL: Xavier260, o restaurante de comida catalã e a etiqueta na prática

Fiquei devendo o local onde fomos naquela noite de sábado retrasado quando Chico queria beber uma caipira no restaurante que só servia vinhos, lembram? Para quem não lembra, o post é este logo aí acima, em letras grandes e rosadas. Pois bem, fomos ao Fazenda Barbanegra. Somos clientes há anos – e a caipirinha é ótima.

Olha!

caipaOOOOOOOOHHHHHHH!
Esta é a de limão siciliano com gengibre e hortelã! Divina! Também tem a caipira tradicional, só com limão

caipa1OOOOOOOOHHHHHHH!!!!
Este foi meu pedaço de entrecot mal passado naquela noite!

A Fazenda Barbanegra fica ali na rua Tenente Coronel Fabrício Pillar, quase em frente à Padarie. Na minha opinião, junto com o Vermelho Grill, oferece a melhor carne de Porto Alegre. Não é churrasco, é parrilla! No Barbanegra, há o acompanhamento que é de comer de joelhos e que eu peço sempre: Arroz Antônio Chaves Barcellos, com cogumelos frescos e funghi secchi. Desculpem, antes que me peçam, aviso que não tenho foto do arroz. Sempre que lembro de registrar, já me servi, já comi e já era.

bento1123QUANDO EU DIGO QUE ESSE BLOG É UM DESSERVIÇO, ELA BRIGA COMIGO

Tudo que eu comi lá até então sempre foi muito bom. A linguicinha calabresa de entrada, o arroz, a salada mista, o queijo parrillero, o pimentão parillero com queijo, o entrecot, o Prime Rib (este corte é maravilhoso!), a batata com alecrim… E o pudim da Dada? O que dizer do Pudim da Dada de sobremesa, Jesus?

Olha!

pudimOOOOOOOOOHHHHHHH!!
Denso, sabe assim? Puro pudim de leite!

O Pudim da Dada é um dos pratos mais pedidos do Barbanegra – e também indicado pelo Bebeto, que é o fundador e assador do restaurante. Outras duas indicações do Bebeto são o Arroz com Creme de Limão e Abobrinha (juro que vou experimentar da próxima vez) e o Oriental da Barbanegra (entrecot grelhado suculento, coberto com geleia de pimenta Koh Pee Pee, queijo e orégano).

Olha o arroz!

abobrinhaOOOOOOOOOOOOOOHHHHHHHH!!!

Olha o entrecot!

Apresentação1OOOOOOOOOOOOHHHHHHHH!!!!!
Só achei uma fotinho e deste tamanho, mas dá pra ter uma ideia da preciosidade!

Sempre costumamos sentar na varanda; há o salão e a varanda, mas nossa opção é sempre a segunda.

Aqui ó!

internaNOSSA VARANDA!

Sempre somos atendidos pelo mesmo garçom. Eu nunca lembro o nome dele, porque ele é a cara do ator John Malkovich, e eu sempre digo para o Chico chamar o John.

Olha!

malcoMUITO PRAZER, JOHN
Se você topar com ele, vai me entender na hora!

Óbvio que uma vez puxamos essa conversa.
– Cara, já te disseram que tu é a cara daquele ator? – Chico falou.
– O John Malkovich? – ele respondeu, rindo. – Sim, todo mundo me diz isso.

Paulinha e Goerginho costumam almoçar às sextas-feiras no Barbanegra. Paulinha diz que já comeu um salmão na parrilla que é divino. O restaurante faz algumas promoções e eventos. Toda terça-feira à noite, por exemplo, no consumo do primeiro entrecot, o segundo sai de graça. Toda quarta-feira é a noite do cordeiro. E da última vez que estivemos lá, o John nos contou que o cliente pode levar seu vinho. Durante a semana, ele paga apenas a rolha (R$ 25). No final de semana, bebe o próprio vinho sem pagar nada. Vamos combinar que sair para jantar assim ajuda bastante no orçamento em tempos de crise, vai dizer?

bento1123EU POSSO IR?

Não, Bento não pode ir. O Barbanegra não é pet-friendly – até porque não dispõe de espaço para tal. Mas o Chico prometeu que até sexta-feira vai fazer um corte Prime Rib especialmente para ti na nossa grelha.

bento1123EU AMO O CHICO

Eu apenas acho que tu tem que parar de lamber e coçar as patinhas porque, além do Chico berrando aqui do meu lado, e eu com esses fones de ouvido tendo que aguentar KennyG instrumental, ainda sou obrigada a sentir esse odor fétido de zorrilho azedo que sobe até as minhas pobres narinas por debaixo da mesa.

bento1123NÃO SEI COMO O CHICO AGUENTA ELA

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

2 Comentários
  1. “A Papaqui parece um porco indo pra tosquia”? Mariana, tu conhece alguém que já tosquiou um porco ou um porco que tenha sido tosquiado? Kkkkkkk. Imagino que você quisera dizer “indo pro abate”.
    Foi bem engraçado.
    Bjs

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