Estou há pelo menos três dias em branco. Saí um pouco do blackout para comentar os vestidos do tapete vermelho da cerimônia do Oscar e voltei para o escuro total. Não consigo escrever. Paralisei. O pior não é isso: o pior é que deveria ter entregue ontem, segunda-feira, minha coluna para a revista Donna do próximo fim de semana. E quem disse que consegui? Passei o dia na frente do computador em um estado de confusão mental.
Esbocei umas quatro colunas e não passei da metade. Mandei para a lixeira. O relógio marcava 9h da noite quando o Chico entrou no bunker-escritório perguntando se eu queria jantar. Sim, eu queria jantar, mas eu não conseguia sair da estaca zero.
Achei por bem levantar e ir jantar e pedir um milhão de desculpas pelo atraso na entrega. Não sou disso e não gosto disso. Mas foi algo maior do que eu. Simplesmente minha cabeça deu um tilt. Calculei que hoje levantaria beeeem cedo e mais criativa. Levantei bem cedo, às 6h30min. Mas cadê a criatividade?
Não ter assunto, ser consumida por um branco criativo não é privilégio meu. Acontece nas melhores famílias. Só que dá um nervoso, uma ansiedade que só piora as coisas. Se eu consegui terminar a coluna? Sim, eu consegui. Há menos de cinco minutos. Mas ainda vou fazer um café para beber enquanto reviso, uma vez que estou em um tal estado de confusão mental que posso ter escrito as maiores bobagens e cometidos os maiores erros – como escrever uma grama no lugar de um grama, algo que adoooooro fazer!
Isso tudo sem falar que eu achei que tivesse ficado boa da maldita otite. Após uma semana de sofrimento, o antibiótico surtiu efeito e pensei que fosse conseguir abandonar as cartelas de Tylenol, de Alivium, desses analgésicos todos. E o que aconteceu então?
A DOR PASSOU PARA O OUVIDO DIREITO!
Eu acho que sou o único ser humano do planeta cuja dor de ouvido migra de um ouvido para o outro. Dá para acreditar que terei que voltar ao otorrino? Agora tem uma agulha de tricô fincando meu tímpano direito. Pode isso, Arnaldo? Então, meu espírito hipocondríaco toma conta de mim – e eu começo a pensar que posso estar com algo mais grave além de uma outra otite em outro ouvido. Daí eu fico enfiando o dedo dentro do ouvido, escarafunchando lá dentro, vendo se sinto algo diferente. E a dor só piora, óbvio.
Eu estou ansiosa e eu odeio ficar ansiosa – uma vez que a ansiedade não leva a lugar nenhum. Eu estou precisando levar mais a sério meus momentos de meditação, ioga e introspecção. Estou precisando me encerrar mais no meu quartinho e relaxar. Estou precisando aliviar a mente de leituras e notícias e acontecimentos e redes sociais e tudo isso que vai consumindo os neurônios da gente sem oferecer muito benefício em troca.
POR QUE TU NÃO FAZ UMA ENQUETE?
Como assim, menino?
PERGUNTA PARA A MARTHA O QUE ELA FAZ QUANDO DÁ BRANCO
Minhas amigas queridas Martha Medeiros, Claudia Tajes e Cíntia Moscovich, pelo amor de Deus! O que vocês fazem quando dá branco? Eu nunca pedi nada, só peço agora que me escrevam dizendo que vocês também sofrem de brancos e que eu sou uma pessoa normal, pode ser? Podem mentir também. Se vocês acharem que eu estou prestes a cortar meus pulsos com faca de serrinha, podem mentir que têm brancos e tal, inventem qualquer coisa. Mas digam para mim que vocês também sofrem brancos e esses brancos liberam um sentimento de aperto no peito que desencadeia uma crise de ansiedade.
Enquanto vocês não me respondem e enquanto o doutor Lavinsky não descobre o que aconteceu no meu ouvido direito, resolvi dar uma pesquisada nos motivos de ter a mente assolada por brancos e por que esses brancos geram essa ansiedade no peito da gente. Foi então que encontrei uma entrevista bem interessante sobre o assunto com o doutor Cleanto Rogério Rego Fernandes, pesquisador em psicobiologia e especialista em memória da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
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Responde o doutor Cleanto à pergunta “por que acontece de dar branco às vezes?”:
– O bloqueio geralmente ocorre em situações estressoras. Nessas situações, as glândulas adrenais (que ficam logo acima dos rins) liberam o hormônio cortisol na corrente sanguínea. Esse hormônio irá promover alterações no funcionamento de várias partes do corpo, inclusive o cérebro. Isso afeta as funções cognitivas e, no caso da memória, prejudica a recordação. É natural que tenhamos dificuldade de lembrar algo quando estamos numa situação de estresse. Isso faz parte do repertório de alterações fisiológicas e cognitivas que apresentamos nessas situações, as quais incluem também taquicardia (coração acelerado), boca seca e sudorese (especialmente na palma das mãos).
O “branco” costuma ter uma duração definida? Segundo o doutor Cleanto, sim. E pode demorar um pouco para passar. Diz ele:
– Na maioria dos casos, o bloqueio passa pouco tempo depois, mas, algumas vezes, a informação pode permanecer bloqueada por dias.
Então, fui tentar buscar soluções, sei lá… Tomar mais café, comer uma panela de brigadeiro, deitar na rede, mexer na horta… O que eu poderia fazer de simples que me ajudasse a ter a sensação de que voltei a respirar e de que minha mente voltou a trabalhar sem sobrecarga? Não achei nada nesse sentido. Só achei reportagens sobre como os estudantes devem evitar o branco antes da prova, o que, graças a Deus, não é meu caso, já que nunca gostei de ser estudante e sempre odiei prova.
Sem solução nenhuma para o meu problema, à espera da ajuda das minhas três amigas e sem mais para o momento, resolvi que vou sair da frente deste computador para o qual só voltarei amanhã. Vou parar de olhar redes sociais, vou parar de postar, vou tirar o dia de folga da escrita, vocês me autorizam?
Vamos aonde, menino?
Como assim, passear?
Mari, não te mata ainda! Comentei lá no FB. Mas, pelo que leio aqui, tens todos os caminhos das pedras. Relaxa. E bem melhor: lê. Ler relaxa e alimenta as idéias. Sabe associação de ideias? Pois então, a leitura promove foco e gera assunto, sabe assim? Loka pra saber se deu certo. Beijos!
Obrigada, Cintia amiga!!! Sentei agora de novo na frente do computador… A ver… Bjo! MK