Momento de desespero

Aconteceu agora há pouco: bati meu dedinho na porta de entrada de casa. Nada que decapitasse meu pobre dedinho, já sofri batidas piores. Mas dessa vez eu chorei como uma iraniana condenada ao apedrejamento. Eu simplesmente atirei tudo no chão – bolsa, chave, celular, agenda. Eu própria me atirei no chão. E chorei, como chorei.

O Bento, coitado, ia começar a fazer uma festa com a minha chegada. Abanou o rabo pra esquerda, mas, quando ia abanar pra direita, escondeu o rabo entre as pernas e achou melhor se refugiar embaixo da mesa do escritório. Estávamos só nós: eu berrando e chorando feito uma condenada na porta de casa, atirada no chão com bolsa, celular, chave e agenda, e o Bento debaixo da mesa querendo chamar a equipe de resgate.

As lágrimas começaram a cessar e ficou mais o snif-snif mesmo. Sabe aquele snif-snif que faz a gente falar feito galinha com soluço? É, este mesmo. Me acalmei, sequei as lágrimas, levantei do chão feito uma galinha com soluço, recolhi chave, celular, bolsa e agenda, sentei na cadeira do escritório e fiquei pensando no motivo para o ataque histérico. Doeu a batida no dedinho? Doeu, mas nunca para um colapso emocional como este. O que foi então?

Esgotamento físico e mental, foi a conclusão a que cheguei. Não sei quanto aos outros, mas a minha cobrança comigo mesma beira o absurdo – e não sou eu que estou dizendo isso. Foi a minha psicóloga mesmo que já havia me alertado. Nas duas últimas semanas, me envolvi completamente com o lançamento de Peregrina de Araque no Rio e em São Paulo, tive que andar de avião, tive que fazer meu trabalho normal de edição do Donna, tive que me envolver com todos os preparativos para o Donna Fashion Iguatemi. Fora isso, tive que estar sem olheiras, tive que descobrir como arruinar com as formigas sem arruinar minha horta, como dosar a água dos podocaros sem o jardineiro olhar pra minha cara e dizer que estou afogando as plantas, tive que ir ao supermercado comprar Q-Boa, tive que escolher o cardápio para a Rosa deixar pronto para o jantar, porque tenho um marido que chega em casa e gosta de jantar, tive que voltar ao supermercado no mesmo dia porque acabou o tomate e eu não sabia, tive que achar tempo para ir à manicure para autografar com a mão bonita,  tive que levar o Bento para o banho e ouvir que ele tem umas verrugas que precisam ser retiradas, tive que atender uma mãe com síndrome do ninho vazio…

Tive que voltar ao superercado e comprar quatro galões de água de cinco litros cada um e descarregar cada um no calor de 40 graus da garagem… Tive que decidir se meu marido colocava calça ou bermuda porque ele sempre me faz essa pergunta, tive que arranjar tempo pra fazer pilates e ioga (porque, se não faço, aí sim me internem no manicômio), tive que estar com o cabelo bonito, o rosto levemente maquiadinho, tive que arranjar 5 minutos pra pensar que roupa botar, tive que arranjar tempo para assistir à estreia de Homeland no domingo e de Touch logo mais (porque amo e sempre vou amar Jack Bauer), tive que ler a Vogue, a Elle, a Marie Claire de março e as últimas Piauí que assino e vão se acumulando na frente da TV e me fornecem a dose de culpa diária, tive que comprar abacaxi, couve e cenoura para fazer o maldito suco verde desintoxicante de manhã e tive que tomar dois comprimidos de omeprazol pra exterminar a maldita gastrite que dá beber esse maldito sucoe verde de barriga vazia, tive também que beber umas caipirinhas a mais no fim de semana para desestressar e tive que curar a ressaca e a dor de cabeça do dia seguinte à fórceps, tive que comer uma pizza para compensar o desespero da falta de tempo e tive que me condenar ao enforcamento por engordar um quilo e duzentas gramas cravados na balança devido à série de queijos e funghis do recheio…

E pra terminar, tive (e estou tendo que ter) toda a paciência do mundo pra conseguir o visto americano. Juntar imposto de renda de 2012, achar o contador pra fazer o imposto de renda, fazer a maldita foto que acaba com a autoestima de qualquer um, responder quando ( dia, mês e ano) eu vou para os EUA, sendo que eu não vou a lugar nenhum no momento e só quero o visto mesmo, lembrar as cinco útimas vezes em que estive os EUA, sendo que a última foi em 1999 e as outras não faço ideia.

Quer saber?

Vou voltar ali pra porta de entrada e me atirar no chão de novo.

Cheguei à conclusão que chorei pouco.



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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

Sem comentários ainda.
  1. Genial! Queria enumerar as minhas ativities também e valorizar como fazemos coisas!!!! Mas esses dias bati meu dedinho do pé caminhando pro quarto, numa quina, olhei pra baixo pra ver se ele ainda estava ali e estava…só que sangrando. Doeu muito. Pensar também dói.

  2. Genial! Queria enumerar as minhas ativities também e valorizar como fazemos coisas!!!! Mas esses dias bati meu dedinho do pé caminhando pro quarto, numa quina, olhei pra baixo pra ver se ele ainda estava ali e estava…só que sangrando. Doeu muito. Pensar também dói.

  3. Hehehehe…tive que rir com esse teu post.
    Eu se fosse tu, me atiraria no chão novamente pois é de amargar.
    Mas calma, a vida ultimamente tem sido assim para todas nós que queremos abraçar o mundo com pés e mãos e ainda fazer tudo bem feitinho.
    Chora que faz bem, palavra de quem entende disso e palavra de madura que já passou por isso. bjs

  4. Hehehehe…tive que rir com esse teu post.
    Eu se fosse tu, me atiraria no chão novamente pois é de amargar.
    Mas calma, a vida ultimamente tem sido assim para todas nós que queremos abraçar o mundo com pés e mãos e ainda fazer tudo bem feitinho.
    Chora que faz bem, palavra de quem entende disso e palavra de madura que já passou por isso. bjs

  5. Mari, logo o desespero passa; inspira-expira – e, em seguida ficarão as ótimas lembranças das sessões (cujos registros demonstram o quanto tudo valeu), o riso fora de hora devido as loucas cenas que nos visitam o pensamento, e a saudade da pizza com muito queijo porque a dieta, esta sim, não nos liberta assim tão fácil! bj, pq agora vou ler peregrina …

  6. Mari, logo o desespero passa; inspira-expira – e, em seguida ficarão as ótimas lembranças das sessões (cujos registros demonstram o quanto tudo valeu), o riso fora de hora devido as loucas cenas que nos visitam o pensamento, e a saudade da pizza com muito queijo porque a dieta, esta sim, não nos liberta assim tão fácil! bj, pq agora vou ler peregrina …

  7. Nooossa muita coisa mesmo, imagina se vc tivesse filho. Eu tb não tenho e ás vezes quase enlouqueço, fico pensando que não daria conta se tivesse rsrs. mas tem épocas que é assim mesmo, tem que pensar que vai passar, uma hr há de aliviar. bjs

  8. Nooossa muita coisa mesmo, imagina se vc tivesse filho. Eu tb não tenho e ás vezes quase enlouqueço, fico pensando que não daria conta se tivesse rsrs. mas tem épocas que é assim mesmo, tem que pensar que vai passar, uma hr há de aliviar. bjs

  9. Mari:
    na boa ou tu é virginiana como eu e acha que controla o mundo ou tá de tpm. Volta pra yoga, faz o asana do cadaver e esquece (e se o Bento lamber teu rosto enquanto estiver lá deitada desestressa, diz que saliva de cachorro é ótimo pra evitar rugas!!!)

  10. Mari:
    na boa ou tu é virginiana como eu e acha que controla o mundo ou tá de tpm. Volta pra yoga, faz o asana do cadaver e esquece (e se o Bento lamber teu rosto enquanto estiver lá deitada desestressa, diz que saliva de cachorro é ótimo pra evitar rugas!!!)

  11. Muito bom! Ri horrores rsrs mas não pq é bom rir da desgraça alheia, viu?! Ri, por me ver seguido nesta tua situação. Como ser mulher dá trabalho! rsrs

  12. Muito bom! Ri horrores rsrs mas não pq é bom rir da desgraça alheia, viu?! Ri, por me ver seguido nesta tua situação. Como ser mulher dá trabalho! rsrs

  13. Oi queridinha!!!

    Qdo acabei de ler o teu blog, já estava hiper cansada igual qdo estou na esteira correndo.Tive que beber muita água e respirar fundo.Imaginei toda a cena,cruz credo!!!!!!bjs

  14. Oi queridinha!!!

    Qdo acabei de ler o teu blog, já estava hiper cansada igual qdo estou na esteira correndo.Tive que beber muita água e respirar fundo.Imaginei toda a cena,cruz credo!!!!!!bjs

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