Morar em Portugal não é tão fácil e barato para as mulheres, sobretudo solteiras

Uma reportagem publicada na edição portuguesa da revista Máxima deste mês traz à tona um problema que as mulheres independentes em Lisboa têm vivido. O que a publicação se refere como aumento “pornográfico” do custo de vida tem a ver com as facilidades que o governo português oferece aos estrangeiros e, é claro, com o turismo aquecido no país. Os rendimentos dos assalariados, em contrapartida, não acompanham a subida dos preços dos imóveis à venda e para locação. E isto afeta estrangeiros ávidos a aproveitar o bom momento do turismo em Portugal e, consequentemente, os moradores das cidades.

Não é difícil escutar dos portugueses que vivem em Lisboa, para quem sobrevive dos salários praticados no país, que a realidade está cada vez mais complicada. Conforme a reportagem, mulheres que optam por não dividir as contas com companheiros, amigos ou colegas de profissão são as mais afetadas pela situação.

lu-fotoSOLTEIRAS EM LISBOA: NADA É TÃO FÁCIL QUANTO PARECE
A Máxima ouviu o sociólogo e investigador do Centro Interdisciplinar de Estudos de Género (CIEG), Bernardo Coelho, que esclarece que isto ocorre porque não apenas os salários em Portugal são os mais baixos da Europa, como, segundo ele, as mulheres são as mais mal pagas em todas as fases da vida profissional.

E isso não é exclusividade de Portugal. A reportagem aponta que em 2015, segundo dados da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, os homens ganhavam em média 990 euros, enquanto as mulheres recebiam 825 euros, o que corresponde a uma diferença em torno de 16,7%. No Brasil também as mulheres ganham, em média, menos em relação aos homens nas corporações.

O aumento do turismo em Lisboa provoca o aumento na oferta de imóveis para alugar em plataformas como o Airbnb. Muitos donos de imóveis residenciais na cidade preferem ganhar mais ao alugar casas e apartamentos para turistas a locar para moradores, porque a renda mensal é muito maior.

O Airbnb é um negócio que representa boa parte da renda de famílias portuguesas.
Situações como esta, que fazem pesar no bolso dos portugueses que alugam habitações para morar, desenham a parte sombria do boom do turismo em Lisboa, tão comemorado por profissionais que tratam diretamente com hospedagem, transporte, entretenimento e o comércio.

– O turismo nos empurra para zonas afastadas. Quem depende do salário mínimo complementado por algum trabalho a mais não consegue alugar um apartamento bem localizado em Lisboa – lamenta Filipa Reis Pereira, 28 anos, alfacinha solteira, funcionária da indústria farmacêutica.

Perguntei a Filipa como viver com um salário mínimo de 580 euros (cerca de R$ 2.600) em Portugal. Ela me conta que há um ano e meio, quando divorciou-se, trocou um apartamento T0 (que no Brasil equivale a um studio quarto e sala) que vivia com o marido em Lisboa, que custava 300 euros por mês, para alugar um quarto a 120 euros em Odivelas, cidade ao lado de Lisboa.

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É claro que dividir as despesas com alguém faz pesar menos a alta no preço dos aluguéis. Entretanto, a escolha por não voltar a casa dos pais e seguir a vida sozinha requer abrir mão de outras coisas importantes como o investimento em cursos de qualificação, viagens e o divertimento.

– Hoje preciso escolher entre sair com os amigos e fazer um workshop que vai acrescentar skills na minha vida profissional. É triste, mas é a nossa realidade – diz Filipa.

Mariana Paes, 35 anos, é brasileira, webdesigner, aterrissou em Lisboa em agosto do ano passado para estudar. No primeiro mês viveu em um quarto alugado no Airbnb até conseguir encontrar um apartamento na cidade. Contratada por uma empresa, Mariana tem salário fixo e a sorte de ter economizado ainda no Brasil, onde morava com os pais.

“Moro em um quarto e sala, onde pago 400 euros por mês porque o dono é conhecido da minha família. Isso é um privilégio. Minha vida aqui é muito mais simples, mas vivo com mais qualidade. O dinheiro que ganho dá para pagar as despesas e não sobra”

Situação diferente é a da brasileira Adriana Oliveira, 25 anos, jornalista, que vive em Lisboa com o marido português Rui Dias, 35 anos, advogado.

– O Rui ganha bem mais do que eu, então conseguimos alugar um T1 (apartamento de um quarto) em Campolide e dividimos as despesas. Recentemente compramos um carro usado, que facilita o nosso deslocamento aos finais de semana. Se tivesse que viver sozinha e apenas do meu rendimento, nem sei como seria.

Vem ler também a coluna da Lu Bemfica sobre um roteiro de charme pra fazer em Lisboa:
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E a Pati Lima visitou a confeitaria Amo-te Lisboa, em Porto Alegre. De ajoelhar e chorar de maravilhosa! Clica aqui!
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Luciane Bemfica

Luciane Bemfica

Luciane Bemfica é jornalista no mundo corporativo que foi escolhida pela profissão. Em 2015 decidiu fazer MBA em Negócios Digitais para arejar as ideias. Foi aí que descobriu sua paixão pelo branding pessoal. Fez cursos e criou um site para ensinar que o nome e a imagem são o patrimônio mais valioso de qualquer profissional - estagiário, tia do café, chefe, dono de empresa ou do seu próprio nariz. É a número três de quatro irmãs, e a dinda da Vic e da Manu.

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