Quem disse que devemos caminhar 10 mil passos por dia? Não foi a ciência!

Em plena ebulição das corridas de rua, os médicos andam debruçados em uma atividade menos olímpica e mais corriqueira, possível de ser feita por mais pessoas e que pode ser iniciada com simples mudanças de hábito: a caminhada. Santo remédio para contribuir para uma saúde em ordem, avisa Francisco Camarelles, integrante do Grupo de Educação sanitária da Sociedade Espanhola de Medicina de Família e Comunitária. Diz ele ao jornal El País:

– Não se trata de calçar o tênis e sair correndo feito loucos, mas de caminhar a um ritmo que nos permita perceber um aumento da frequência cardíaca, mesmo que passeando e conversando com amigos, e durante um tempo suficiente para produzir efeitos notáveis ao organismo.

Sobre os famigerados 10 mil passos por dia, tão incentivados por especialistas que promovem o uso de um pedômetro ou passômetro, ele alerta: não existe nenhuma comprovação científica neste sentido.

– Esta recomendação não se baseia em nenhum estudo médico, mas em uma campanha de marketing da marca japonesa de podômetros Yamada – esclarece.

caminhar10 MIL PASSOS POR DIA: CAMPANHA DE MARKETING SEM COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA

De fato, trata-se de uma eficiente campanha publicitária que data dos anos 1960 e que começou na época das Olimpíadas de Tóquio, em 1964. Segundo Catrine Tudor-Locke, professora que estuda o comportamento de caminhada no Centro Biomédico Pennington, da Louisiana State University, a empresa japonesa Yamada criou um “man-po-kei”, ou seja, um pedômetro.

“Man” representa 10 mil; “Po” quer dizer passos; “Kei” significa medidor.

De acordo com Theodore Bestor, pesquisador de Harvard e estudioso da sociedade e cultura japonesas, o número 10.000 é visto no Japão como muito auspicioso. Daí a confusão com 10 mil passos.

– Assim, me parece provável que a meta de 10 mil passos por dia tenha sido decorrência da escolha de um nome que venderia bem. Seja por que razão esse número específico foi escolhido, ele encontrou ressonância entre as pessoas na época, e elas passaram a caminhar por toda parte com o man-po-kei – explicitou Tudor-Locke ao site Huffington Post

podometroPODÔMETRO: DO TAMANHO DE UM CHAVEIRO, ELE MEDE AS PASSADAS

Dez mil passos seria equivalente a quantos quilômetros? Vale a mesma distância para homens e mulheres? Quanto tempo leva-se para andar esse percurso? As respostas são muito subjetivas, justamente por se tratar de indivíduos – e cada indivíduo, como sabemos, é único. Para alguns especialistas, 10 mil passos seriam aproximadamente 8 quilômetros ou 40 quarteirões, distância que, com passadas rápidas, cumpre-se em torno de uma hora – o dobro dos 30 minutos recomendado pela OMS.

caminhar-grupoCADA INDÍVIDUO É ÚNICO: O TEMPO DE CAMINHADA DEPENDE DA ALTURA, AMPLITUDE DA PASSADA E COMPRIMENTO DAS PERNAS

O Ministério de Saúde do Japão sugere andar de 8 mil a 10 mil passos por dia. O Fórum Nacional contra a Obesidade do Reino Unido recomenda entre 7 mil e 10 mil. Na Espanha, os especialistas estão satisfeitos com 6 mil. A conclusão disso tudo? Mexa-se.

– O importante é incentivar que as pessoas se movimentem. Se todo mundo sair a caminhar ao mesmo tempo, cada indivíduo dará uma quantidade diferente de passos. Mas uma coisa é certa: todas ganharão em saúde – conclui Tudor-Locke

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

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