Acabo de receber um email e não tive como não me manifestar. Até porque estou com este assunto engasgado desde o ano passado, quando levei o Bento para conhecer uma potencial namorada, a Sophie Valentine, e sofri uma patrulha (foi leve, mas sofri) de pessoas indignadas com o fato de eu querer tirar cria do Bento em vez de adotar um animal.
INFELIZMENTE, NÃO FOI DAQUELA VEZ
Em primeiro lugar, o cachorro é meu e cabe a mim o direito e o desejo de querer um filhote dele. É um desejo legítimo e não estou prejudicando ninguém com isso. Admiro demais quem pratica a adoção, tenho várias amigas donas de cães adotados, tenho o hábito de contribuir com donativos para animais necessitados, ainda não tenho bola de cristal para prever o dia de amanhã, mas não descarto a adoção de um animal.
É um lindo e generoso gesto. Ainda assim, defendo as pessoas que querem poder escolher a raça que desejam ter a seu lado como companhia. E essas pessoas não podem correr o risco de serem tratadas como vilãs de nenhuma história.
Falo isso porque no email que acabo de receber diz que o desfile de Ronaldo Fraga, que aconteceu nesta tarde na São Paulo Fashion Week, teve seu início marcado por uma participação especial. Capitu, uma linda vira-lata, fez seu début na passarela, transformando a catwalk em dogwalk e tendo como adorno em seu pescoço uma sacola de compras que carrega o mote de uma nova campanha: “ANIMAL NÃO É GRIFE. ADOTE, NÃO COMPRE”.
Tenho adoração pelo trabalho de Ronaldo Fraga, mas preciso discordar de uma campanha desse tipo, precisamente pelo que já afirmei acima: cada pessoa tem que ter o direito de escolher o seu melhor amigo. Acho absolutamente equivocado este slogan, porque acaba por fomentar a interpretação de que quem opta pela compra de uma raça, seja pelo motivo que for, é fútil. O ambiente (SPFW) leva tranquilamente a este tipo de interpretação.
Quando comprei o Bento, não fui atrás de uma grife. Fui atrás de uma raça que, depois de muito pesquisar, considerei que se adequaria sem sofrimento ou solidão ao estilo de vida que eu levo e que me faria extremamente feliz com seu temperamento. Nossa amizade e companheirismo há 13 anos está aí como prova fundamental disso.
A concepção da campanha é uma iniciativa da PEA – Projeto Esperança Animal em conjunto com a agência de propaganda Leo Burnett Tailor Made. Juntos, ONG e criativos pensaram em uma maneira diferente de chamar a atenção para a causa explorando a celebração dos 20 anos da SPFW.
Diz Estela Aragon, Coordenadora de Projetos da PEA: “É sem dúvida, o cenário perfeito para revermos nossos conceitos e lembrar que animal não é uma grife e sim uma vida”.
Quem convive e ama animais, sejam eles de raça ou vira-latas, está careca de saber que animal não é grife e sim uma vida. E não é pelo fato de eu, você ou nós termos um animal de raça que agora precisamos ouvir esse tipo de slogan. E sabe por quê? Porque é o tipo de slogan que tem tudo para fomentar essas manifestações raivosas e cada vez mais frequentes nas redes sociais de gente que gosta de dividir sempre a humanidade em dois grupos. Neste caso, os que adotam e os que compram. Bato palmas para as campanhas de adoção e participo de muitas delas, mas sem exclusão, por favor.
Antes que me apontem para o grupo que compra, antes que venham repetir que é um absurdo eu querer um filhote do meu cachorro, venho por meio desta afirmar que eu não pertenço a nenhum desses grupos. Sou partidária do amor pelos animais. E este amor, sim, pode ter raça definida. Ou não.