Sem muitas pretensões

Sabe o que aconteceu esta noite? Hein? Hein?

HEEEEIN?

Adivinha!

Tive insônia DE NOVO!

Visão do inferno!

Só que agora, sweetheart, estou vacinada. Salto da cama direto para o escritório e pego um livro. Inclusive, eu ando desconfiada que meus livros estão fazendo um bolão na madrugada pra ver quem será o eleito da Mariana, visto que a Mariana resolveu ter insônia uma noite sim e a outra também.

Visão do inferno!

Esta noite, o escolhido foi “Amor, Perdas e Meus Vestidos”, de Ilene Beckerman.

Estava entusiasmada porque achei a ideia, a princípio, genial. Me deu até uma inveja branca, do tipo “por que não tive esta ideia antes?”. É o seguinte: Ilene resolveu colocar no papel lembranças de uma vida toda por meio de suas roupas favoritas. Ela conta a história de sua vida a partir das roupas que usou. Não é fantástico?

Não, não é.

Fiquei meio desapontada…

Achei que a Ilene perdeu uma baita oportunidade de fazer um livro envolvente e emocionante. Ficou só na superficialidade. Achei os textos meios simplórios…
– Ah, Mariana, dá um exemplo.
Dou.

“Blusa de malha de gola rolê preta, saia godê de retalhos cinza e cinto de couro largo do Greenwich Village. É assim que eu me vestia quando saía para uma badalação “normal” em lugares como Jimmy Ryan’s para ouvir Dixieland ou para ir ao cinema. Nós caprichávamos no visual quando íamos ao Rainbow Room no alto do edifício RCA, ou ao Persian Room no Hotel Plaza ou ao Columbia Room no terraço do hotel Astor.”

Jimmy Ryan’s, Dixieland, Rainbow Room, RCA, Persian Room, Columbia Room…
Hein????

Não tô entendennnndo…

Ok, pensei. Vai ver eu criei uma enorme expectativa e o que a Ilene queria apenas era fazer um livro sem muita pretensão. E por que não? Eu, pelo menos, tenho mania de querer ser perfeita em tudo o que faço – e isso me causa um sofrimento danado. Ou eu julgo minha ação perfeita ou terei perdido meu tempo em vão.  O tal do 8 ou 80, sabe assim?

E daí estou eu lá, na calada da noite, criticando o livro da Ilene, quase ficando de mau humor por estar perdendo minhas horas de sono com algo que não me disse a que veio, quando parei para ponderar quais teriam sido as reais intenções dela. Será que ela tinha a pretensão de fazer um best-seller, ou só queria mesmo escrever um livro e ilustrá-lo como forma de rever uma vida que para ela é muito importante?

Pretensão, pensei. Tudo é uma questão de pretensão. Taí uma palavrinha a ser estudada.

Por que eu preciso fazer o melhor molho de tomate do mundo?
Resposta: Porque tenho a pretensão de ser uma graaaaande cozinheira. E não sou.

Por que eu preciso escrever o melhor livro do mundo?
Resposta: Porque tenho a pretensão de ser uma graaaaande escritora. E não sou.

Por que eu preciso pesar 50 quilos e nenhuma grama mais?
Resposta: Porque não quero mais sofrer na hora de experimentar um biquíni. E nunca vou conseguir tal façanha.

Porque eu preciso trabalhar, cuidar da casa, pensar no jantar, passear com o cachorro, cuidar das plantas, ir ao supermercado, dar atenção à família, estar em dia com o salão, ter o cabelo brilhante, a pele lisinha, a barriga chapada, ser amável, cordial e nunca torcer o nariz para nada?
Resposta: Porque tenho a pretensão de ser a Mulher Maravilha. E não sou.

Nããããooooo tenho a forçaaaaaa!

E sabe o que a Ilene me ensinou com seu livro sem muita pretensão na minha noite insone?
Que fazer as coisas sem pretensão – algumas vezes e em alguns aspectos da vida – pode ser libertador.
E isso, cá entre nós, não é pouca coisa.

 

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

Sem comentários ainda.
  1. Até que essa insônia é genial porque ela faz ler um livro, coisa que não estamos com o tempo todo disponível para isso com nossas tantas atividades diárias de mulheres maravilhas. Vamos descobrir o lado bom das coisas, isso ajuda na vinda do sono. Leite sim, café nem pensar. Chá de camomila é fatal. Já sou meio notívaga, mas fiquei pasma quando minha irmã disse que maçã dá insônia…e eu que como uma sempre à noite! E tem mais… coisas de Porto Alegre…o sabiá definitivamente não tem insônia…e eu que achei que só acontece com a Sônia.

  2. Até que essa insônia é genial porque ela faz ler um livro, coisa que não estamos com o tempo todo disponível para isso com nossas tantas atividades diárias de mulheres maravilhas. Vamos descobrir o lado bom das coisas, isso ajuda na vinda do sono. Leite sim, café nem pensar. Chá de camomila é fatal. Já sou meio notívaga, mas fiquei pasma quando minha irmã disse que maçã dá insônia…e eu que como uma sempre à noite! E tem mais… coisas de Porto Alegre…o sabiá definitivamente não tem insônia…e eu que achei que só acontece com a Sônia.

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