Até os nove anos, fui uma aluna exemplar do Colégio Bom Conselho. Só tirava nota 10. Fiquei sabendo, anos mais tarde, que o amontoado de 10 não deixava meus pais tranquilos. Eu não podia ser feliz sem estudar e só passar por média. Fui trocada de escola.
FIQUEI COMPLEXADA
Ficou claro, já no primeiro semestre, no Colégio Farroupilha, que eu não era nenhum gênio superdotado. Foi o início do meu calvário e o começo do cultivo de uma gastrite nervosa. Em véspera de provas de matemática e física, eu não levantava da cama. Passava a noite me contorcendo de dor e, na manhã seguinte, jazia amarelada sobre os lençóis implorando pra mãe me deixar ficar em casa.
PELO AMOR DE DEUS
Eu não sabia estudar, eu não tinha aprendido a estudar, não fazia ideia por onde começar a estudar. Nesta época, iniciou-se a romaria de professores particulares na porta de casa. No último ano de colégio, enquanto o mundo refrescava-se no mar do litoral nos meses de janeiro e fevereiro, eu passava os dias sentada na frente do ventilador da biblioteca da casa do meu avô na companhia de um professor de física que ficava girando uma colher de sobremesa no meu nariz tentando me fazer entender a diferença entre côncavo e convexo.
ELA TIROU ZERO NO BOLETIM
ESCRITO POR EXTENSO
PRECISEI DE 9,5 NA RECUPERAÇÃO
CONSEGUIU, MARIANA?!!
CONSEGUI!!
Teve uma época, lá pelos 12, 13 anos, que dei uma bela engordadinha. Não cheguei a ser obesa, mas fiquei cheinha. Bochecha corada, sabe assim? Minha mãe teve um ataque. Suspendeu tudo que não viesse da horta e proibiu veementemente que eu tivesse direito ao lanche da tarde.
Enquanto meus irmãos pulavam na piscina depois de encher a boca com Nescau e bolachinhas, eu me encerrava no quarto com uma caixa de chocolate Lolo escondida embaixo da roupa e desfiava toda sorte de impropérios à minha mãe e ao mundo injusto nas páginas do diário que comecei a escrever naquela época e escrevo até hoje.
COMIA A CAIXA INTEIRA
Quando sentia o caminho livre, andava pé por pé até o banheiro com as cinco embalagens de Lolo devidamente amassadas e arremessava pela janela basculante a fim de que nunca fossem encontradas. Foi quando descobri que a basculante não dava no quintal do vizinho, mas na garagem de casa – mais precisamente em cima do para-brisa do carro de mamãe
NUNCA MAIS VI A CARA DA VACA DO LOLO
Era uma adolescente quieta e introspectiva – o que me levou a ser taxada de “peru embuchado”. Até hoje tento imaginar a cara de um peru embuchado. Sempre odiei piscina, mas quando minha prima vinha passar as férias de julho lá em casa, e jogava-se desenvolta na piscina a uma temperatura de 10ºC do inverno gaúcho, eu era arrancada da frente da tevê e obrigada a mergulhar junto com ela. Caso contrário, deixava de ser um peru embuchado para me tornar “um poço de antipatia”.
SEM FUNDO
Sempre tive a pele clarinha, o que rendeu o apelido, ainda na infância, de “pacotinho de algodão”. Bem mais simpático do que “bicho da goiaba”. Cada vez que me negava a ir à praia, e abria mão do bronzeado dourado, ouvia que estava parecida com ele.
QUE TAL?
Até hoje, sob a ótica de mamãe, podia estar mais bem vestida, meu cabelo nunca está hidratado como deveria, minha pele está sempre seca. Mas o bom da maturidade é que a gente consegue olhar pra trás e dar risada de tudo.
A gente agradece a preocupação e enxerga o quanto de amor, carinho e cuidado sempre existiu ali. Minha mãe preocupava-se que eu desenvolvesse minha inteligência, que fosse simpática, que tivesse boa saúde e um corpo em forma.
NÃO É QUE CONSEGUIU?
ELA SE ACHA
Bem assim! Hoje sou mãe de um casal, ja bem barbados, um de 40 e outra de 37! Lembro bem de todas as chatices de minha mãe e vejo q sou chata igual! Mas é sempre para o bem e xon todo amor! Como sempre tua coluna está formidável! Obrigada e ótimo finde! Bjjjjs
Adorei Mary , me divirto muito!’