Somos obrigados a escolher cedo demais o que queremos ser quando crescer – e lamento profundamente por quem depara com essa tomada de decisão sem certeza de nada. Felizmente, não foi meu caso. Se não tivesse tanta certeza desde criança de que queria ser jornalista, talvez tivesse optado pela medicina, a mais nobre das profissões. O problema seria passar no vestibular.
TEM COISAS QUE TU NÃO DEVERIA CONTAR
Se tivesse sido médica, teria optado pela geriatria, pois conviver com a terceira idade é algo que sempre adorei. Fui daquelas adolescentes que tomava chá da tarde com as tias avós para ouvir histórias e ensinamentos de vida. Conseqüentemente, me interesso bastante sobre assuntos relacionados ao envelhecimento – e uma de minhas últimas leituras foi “A Bela Velhice”.
A antropóloga Mirian Goldenberg começa seu livro mostrando que a harmonia, a alegria e o bem-estar podem estar presentes com muita intensidade no processo de envelhecimento. Casar, ter filhos e conquistar sucesso na carreira deixam de ter tanta importância. Ser jovem e bonito também. Começa a acontecer um sentimento de dar novo significado para a existência.
Dentre os depoimentos de 1.700 pesquisados por Mônica para a elaboração do livro, foi possível estabelecer os principais caminhos para uma bela velhice: ter um projeto de vida, encontrar coisas que se goste de fazer, aprender a dizer “não”, dar muita risada, enfrentar o medo. Outro ponto importante: liberdade.
Liberdade é a palavra central para todos os pesquisados, assim como a importância de cultivar a amizade, pois o papel das amigas é fundamental. As mulheres ouvidas por Mônica disseram que, com as amigas, elas têm a família escolhida, não a obrigatória. Há mais reciprocidade nessas relações. Uma das principais questões do livro é a diferença do envelhecimento masculino e feminino.
NÓS ENVELHECEMOS MELHOR DO QUE ELES
EU TENHO 13 E ESTOU MELHOR DO QUE A OLIVIA
Em todas as faixas etárias, homens e mulheres acreditam que o envelhecimento masculino é melhor. Talvez porque o homem não seja tão cobrado pela aparência e comportamentos. Somente um grupo discordou dessa informação: as mulheres de mais de 60 anos.
Elas sempre acreditaram que os cabelos brancos do homem eram um charme, bem como as rugas eram um sinal de maturidade. Mas quando chegam aos 60 anos, veem que não, que elas envelheceram melhor. São mais ativas em termos de saúde e de aparência física: se cuidam muito mais, vão com maior frequência ao médico, assim como cuidam da pele, pintam o cabelo, comem melhor, se exercitam mais, e então sentem mais livres – e é esta liberdade que desperta uma velhice bela.
Participei no ano passado de uma entrevista com Jane Fonda em que a atriz de 77 anos falou justamente sobre o processo de envelhecimento. Guardei muitos ensinamentos e compartilho cinco ótimas dicas de Jane.
1) “Quando você é jovem, não imagina que vai envelhecer. Uma das razões que me fizeram escrever Jane Fonda – O Melhor Momento foi para tentar mostrar que envelhecer não tem nada de assustador. A terceira idade nos faz viver com mais qualidade e menos estresse, e o papel de quem chegou lá, como eu, é mostrar que grande e boa época da vida é esta.”
2) “Você precisa ter senso de humor e não se levar muito a sério para conseguir envelhecer bem.”
3) Não tenho medo de envelhecer. Mas tenho medo de chegar ao fim da minha vida com lamentações. Não devemos deixar nada para depois, nada que faça com que a gente se despeça da vida com arrependimentos.”
4) ” Especialistas concordam comigo: o mais importante é manter-se fisicamente ativa. Não posso mais correr, pois tenho uma prótese no joelho e outra no quadril. Mas não é isso que vai me tornar uma pessoa sedentária. Temos que buscar outras atividades, porque a atividade física ajuda o cérebro a não encolher.”
5) O que você come também é muito importante. À medida que você envelhece, tudo o que você põe na boca tem que ser muito mais bem pensado e com um bom valor nutritivo. Você não tem mais a mesma capacidade de queimar calorias como antes. Por isso a importância de estar atento à alimentação. A qualidade daquilo que você coloca na boca torna-se muito mais importante ao envelhecer”.