Há duas frases que há anos foram escritas em meu diário de citações (sim, guardo cadernos e mais cadernos recheados delas) e com as quais tenho bastante identificação (do contrário, não teria reproduzido em meu cadernos de citações).
Uma dessas frases é atribuída ao ex-presidente americano John Kennedy: “Sou capaz de perdoar; esquecer, jamais”. A outra é dita e repetida com aquele sotaque forte de Bagé pela Alemoa, minha amiga de décadas, cada vez que ela considera que suas amigas de décadas passam um pouco do ponto: “Tem paciência! Tudo tem limite!”, brada a Alemoa, dedo indicador em riste.
Acho esta frase de uma simplicidade e de uma sabedoria incríveis: tudo tem limite. Baderna tem limite, desgoverno tem limite, roubalheira tem limite, violência tem limite, falta de respeito, de educação e de vergonha na cara tem limite, mentira tem limite, fofoca tem limite, cirurgia plástica, dieta e botox têm limite, intolerância tem limite.
Poderia preencher facilmente o restante em branco deste post apenas listando tudo o que há neste mundo e que exige doses cavalares de limite. Alguns limites deveriam advir da ação de quem elege-se para olhar por nós, como prender quem mata inocente e destrói patrimônio público. Outros limites cabem única e exclusivamente a nós. Paciência, por exemplo.
Nem eu, nem você, nem ninguém é obrigado a conviver com quem nos faz mal, com quem ofende gratuitamente. Já diz o sábio ditado popular “quem bate esquece; quem apanha não”. Nenhum ser humano está livre de causar dano ao próximo – e para isso existe o pedido de desculpas.
“A vida é feita para ser vivida, não suportada”, alerta o professor Marcel Camargo, Mestre em História, Filosofia e Educação pela Unicamp (SP). “Quando nos sentimos obrigados a perdoar tudo, ignorando nossos sentimentos, ignorando feridas ainda abertas, impomos a nós mesmos uma espécie de tortura psicológica”.
Não devemos confundir gentileza com inércia ou omissão. Não somos obrigados a engolir e a conviver com quem passou por cima de nós feito uma patrola, atropelando sentimentos sem dó. Não precisamos aguentar tapinha falso nas costas nem sorrisinho amarelo nos lábios. Fingir o que não somos e aparentar que não sentimos adoece corpo e espírito. Paciência tem limite para quem rouba a nossa energia. Hoje em dia está ainda mais fácil se ver livre de gente assim.
Verdade, Mari. Um excelente dia para ler isso! <3