Você quer ter razão ou quer ser feliz?

Existem coisas que só acontecem com a gente na madrugada. A insônia, por exemplo. Começo a escrever essas mal traçadas linhas às 3h29 da quinta-feira com uma taça de chá de caixinha que comprei sem querer dia desses, o Chico experimentou e viciou: jura que funciona tanto quanto um Stilnox na veia. Eu duvideodó, mas resolvi deixar de ser cética quanto às vantagens das propriedades soníferas de uma taça de chá em relação a um remedinho básico e estou aqui, como diz meu amigo David Coimbra, “sorvendo goles” dessa mistura de camomila, hortelã, capim limão, flores de tila, folhas de amora, flores de laranja, frutos do espinheiro e flores de rosa.

image001OI, BONITÃO!
Agora, olhando melhor para a embalagem, tenho certeza que nem li as propriedades do chá na hora de comprar. Gostei mesmo foi desse ursinho com essa cara zen, com esse camisolão, uma mesa de chás com geleias e torradinhas à disposição e pés quentinhos na frente da lareira. Dá vontade de dormir só de olhar, vai dizer?

Nas minhas leituras obrigatórias de final de semana – e leio mezzo por prazer mezzo por exigência do meu trabalho -, estão incluídas algumas revistas e jornais nacionais e internacionais. Confesso que às vezes não estou muito a fim de certos assuntos no meu sábado e no meu domingo. Mas é preciso. Caso contrário, teria cursado Oceanografia ou algo que exigisse menos conhecimento do que a profissão de jornalista.

+COLUNA DA MARI: Buzinar para o caminhão de lixo não fará de você uma pessoa melhor

Demorei mais do que o habitual em uma das reportagens, intitulada “A Arte de Ser Feliz”. Ela começou com a seguinte pergunta: “Você faria qualquer coisa para conquistar a felicidade?”. O texto gira em torno de um desafio proposto a estudantes franceses. A pergunta “deve-se fazer de tudo para ser feliz?” foi a escolhida para ser um dos temas da dissertação de filosofia do exame de conclusão do ensino médio na França e que dá acesso à universidade.

Um dos objetivos da prova de dissertação era colocar os estudantes diante de um dilema ético sobre as escolhas a serem feitas na busca da realização de ambições e desejos. Ou seja, sobre os limites das iniciativas a serem tomadas nesse sentido. A pergunta aos estudantes franceses “deve-se fazer de tudo para ser feliz?” trazia embutida uma segunda discussão: afinal, o que é ser feliz?

bento1QUER QUE EU RESPONDA?

Estava demorando para o animal me farejar, levantar de sua cama, onde dormia de pelotas sem precisar beber folhas de tila para ter uma boa noite de sono e vir me encarar com esses olhos esbugalhadas metendo mais uma vez esse nariz úmido em um assunto que não havia sido chamado.

bento1NÃO TEM ÁGUA NO MEU PRATO

586crazy-woman-calls-her-ex-boyfriend-65000-times-1050998-flash-1050998-flash3ANHÃÃÃÃÃ

No livro A Arte de ser Feliz, Franco Volpi compilou 50 regras que se encontravam esparsas pela obra do filósofo Arthur Schopenhauer (um dos meus preferidos). Na reportagem à qual me referia antes de ser interrompida pelo animal, foram selecionadas as três principais – e, das três principais, uma poderia viver estampada no meu peito com a hashtag “me sinto representada”. Postei no meu Instagram (@mari_kalil) e posto aqui de novo para quem não viu.

Espia só!

10499170_1530075160549308_1379864536_nSIMPLESMENTE PERFEITO

Poucas coisas são tão difíceis na vida quanto manter-se fiel a nós mesmos e aos nossos ideais, que muitas vezes não se encaixam dentro das digamos “regras” impostas por uma sociedade que estabeleceu suas próprias regras simplesmente porque sim. É o caso de sentir-se uma espécie de estranho no ninho, sabe assim?

Nessas horas, não há nada mais valioso do que o autoconhecimento. Só quando sabemos quem somos, o que queremos e para onde queremos ir nos vemos capazes de perseguir essa felicidade e desfrutar dela ao longo do caminho sem culpas, sem se preocupar em agradar a A, B ou C, sem andar feito boi em manada apenas porque todo mundo está indo na mesma direção.

Termino esta coluna com uma imagem deliciosa e uma história inspiradora ainda sobre a arte de ser feliz.

Olha!

brigadeiroO LIVRO DO BRIGADEIRO, de Juliana Motter

Li este livro na ocasião em que fui a São Paulo entrevistar a Juliana Motter, considerada uma das maiores especialistas em brigadeiros gourmet do país. Juliana é jornalista como eu, trabalhava em redação, como eu. Um belo dia, disse para sua mãe:
– Vou deixar o jornalismo para fazer brigadeiro, mãe.

O pai da Juliana quase surtou (o meu surtaria):
– Mas, minha filha, onde é que já se viu largar uma carreira de jornalista para fazer brigadeiro pra fora?”.

Juliana escreve no livro:
“Podia não fazer muito sentido, é verdade, mas descobri, numa aula de filosofia, que coerência demais nem sempre é bom. ‘Você quer ter razão ou quer ser feliz?’, questionou o professor quando eu ainda estava no primeiro ano de jornalismo. Respondi à pergunta 10 anos depois, vibrando em silêncio, quando entreguei minha primeira encomenda de brigadeiros: ‘Quero ser feliz’.

Compartilhar
Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

19 Comentários
  1. Mari!
    Já estavas achando que seria madrugada de Quarta-feira?! Hoje é recém terça! =)
    Também sofro com insônia quando estou em fechamento de edição (também trabalho numa revista), mas aí, só Rivotril resolve.
    Mesmo assim, vou procurar esse cházinho nas prateleiras do super!

    Um beijo

  2. Fui olhar o reloginho do computador pra ver que dia é hoje! Hahahaha pelo visto estamos todas no mesmo barco da insonia e do acumulo de tarefas que nos tiram o sono…

    Mari, ja lestes A Arte da Felicidade do Howard Cutler? É como uma série de entrevistas com o Dalai Lama a respeito do tema. É bem denso, traz muita reflexão… Estou lendo e até acho que tem contribuido pra minha falta de sono!

    bjo

  3. E eu, que além de ter amado o urso, amei o gato no colo do urso? Vi esse chá dia desses, mas como prefiro beber chá durante o dia, pensei que poderia ser perigoso quebrar o nariz ao bater na mesa do trabalho, hahaha.
    Outro detalhe que me chamou a atenção: Dissertação de conclusão de disciplina de ensino médio: aqui os alunos reclamam de escrever uma simples redação de 20 ou 30 linhas.

  4. Mari, tudo bem?
    Acredito que a pior coisa do mundo é a insônia, mas pior do que a insônia, é o prédio inteiro estar em silêncio, todos dormindo e eu ali, fazendo mil coisas no pensamento: planejo a semana, penso que tenho que organizar meus livros, meus discos, meus sapatos.
    Tudo, e o pior é que dá vontade de arrumar as unhas, pentear os cabelos, limpar a casa, ir na cozinha preparar alguma coisa para comer, enfim…fazer mil coisas, e o sono? nada dele…Mas graças a Deus, estou há semanas dormindo bem!!! hehehe…
    Um beijo da sua fã ansiosa por um livro novo seu!

  5. #conectadaporaí…estou com um problema na mão direita, fica difícil digitar mas logo me recupero. Quando olhei a caixa de chá lembrei da história dos três ursinhos. Alguém contando uma história antes de dormir dava sono…. e um chá de camomila também tem seu valor. Boa noite!!

  6. Perfeito! Espero que vc durma bem, mas dei graças a esta insônia. Do contrário, não teria lido um texto que me trouxe ótimas reflexões! Beijo Mari!

  7. Mariana, adorei!
    Em muitas ocasiões me deparo com esse dilema: quer ter razão ou quer ser feliz?Confesso que, às vezes, chuto o “pau da barraca” e o mais importante é comprovar que tenho razão, independentemente das consequências! Noutras ocasiões, continuo pensando da mesma maneira, mas opto por não discutir e egoisticamente penso: por que emprestar meu conhecimento, minha certeza, a quem não quer???
    O mais irônico é que quando escolho a felicidade tenho certeza que tinha razão (e um pouquinho de prepotência)… Shirley Dilecta Panizzi Fernandes

  8. Oi Mariana!
    Sempre leio tua coluna, nem sempre me manifesto porque termino esquecendo…
    Amei esta sobre “ A Arte de ser feliz” . Só com a maturidade se alcança a serenidade, que é o que nos traz a felicidade. Muitos beijoss !!!Que tenhas um ano de muitos sucessos pela frente ,muita saúde junto a tua família e que continues sempre brilhando !!!!❤️❤️❤️

  9. Maravilhoso. Nunca é tarde para se descobrir ou se aceitar. Eu já fiz isto a algum tempo e aos poucos. Não é tão fácil, mas se descobrindo e se aceitando, com pessoas legais ao teu redor, tudo dá certo.

Deixar uma resposta Cancelar Resposta

Seu endereço de email não será publicado

Utilize as tags HTML : <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>

Facebook

InstagramInstagram has returned invalid data.