Por que eu não pratico natação? Porque há o vestiário no meio do caminho”

Foi a Chris Abbott, minha amada tia, madrinha de casamento e uma das maiores autoridades neste esporte no sul do País que lançou a provocação:

– Mary, por que tu não faz natação? A natação é um esporte completo, sem impacto, trabalha todos os músculos do corpo e a gente sai da água se sentindo em outra dimensão.

Chico, meu respectivo marido, nada quase todos os dias –  e eu sou testemunha de que ele realmente sai da piscina usufruindo de uma paz de espírito que não tinha quando entrou. Mesmo sabendo que não gosto de água e que não sou muito chegada a piscina, banheira, jacuzzi ou qualquer outra coisa dessas de água parada, sobretudo quando é espaço público, resolvi experimentar a bem de não ser chamada de turrenta.

Comprei maiô, touca e óculos e fingi que não vi a desgraceira no espelho do vestiário. Deveria ser proibido uma mulher ser obrigada a colocar maiô de natação, touca de látex e óculos e ainda topar com um espelho pela frente.

mulher-hysteria3VISÃO DO INFERNO

Se nadar seria o caminho para conhecer essa tão falada outra dimensão, então eu deveria sublimar esses detalhes mundanos de aparência e me jogar de corpo e alma dentro da piscina. Foi o que fiz durante 50 minutos e confesso que saí da água sentindo na pele e no espírito essa outra dimensão. Só que entre eu e a piscina havia um vestiário.

mulher-hysteria3VISÃO DO INFERNO

Foi uma espécie de déja vu. Imediatamente me veio à memória a razão de ter deletado a natação da minha vida. Me diga com toda a sinceridade do mundo se pode existir viagem para outra dimensão que dure mais tempo do que o caminho de volta ao vestiário. Me diga se pode existir desgraceira maior do que chegar ao vestiário molhada em cima de um par de chinelos molhados, com o cabelo todo desgrenhado, com o rosto todo marcado dos óculos e ainda ter que pegar a sacola, botar a sacola em cima de um banco, abrir a sacola, retirar os saquinhos plásticos para guardar o maiô encharcado junto com a touca e o óculos, pegar a nécessaire, sair equilibrando toalha, xampu, sabonete e condicionador até o box, sempre pisando naquele chinelo nojento molhado, tomar banho na companhia de fios de cabelos de terceiros, recolher sabonete, condicionador e xampu, secar um por um com a toalha, se enrolar na tolha, voltar pingando até o armário em cima daquele chinelo nojento molhado, abrir o armário, abrir a sacola, guardar o xampu, o condicionador e o sabonete dentro da nécessaire, retirar o pente, desembaraçar o cabelo cuidando para não deixar fios caírem no chão, passar hidratante na volta dos olhos, sérum facial, creme com proteção solar, hidratante corporal, vestir a roupa toda amassada dentro da sacola, sentar no banco com o pé ainda molhado em cima daquele chinelo nojento com fio de cabelo de terceiros grudados na sola, secar dedinho por dedinho, colocar o sapato, secar o chinelo, ensacar o chinelo e terminar a maratona botando os bofes para fora do calorão que sai daquela quantidade de chuveiros quentes e secadores ligados.

Eu só preciso de uma breve resposta: há alguma sensação de plenitude que dure depois disso?

mulher-hysteria3HEIN?!!

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Mari Kalil

Mari Kalil

Sou escritora, jornalista, colunista da Band TV e Band News FM e autora dos livros "Peregrina de araque", "Vida peregrina" e "Tudo tem uma primeira vez". Sou gaúcha, nasci em Porto Alegre, vivo em Porto Alegre, mas com os olhos voltados para o mundo. Já morei em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Barcelona. Já fui repórter, editora, colunista. Trabalhei nos jornais Zero Hora, O Estado de S.Paulo e Jornal do Brasil; nas revistas Época e IstoÉ e fui correspondente da BBC na Espanha, onde cursei pós-graduação em roteiro, edição e direção de cinema na Escuela Superior de Imagen y Diseño de Barcelona. O blog Mari Kalil Por Aí é direcionado a todas as mulheres que, como eu, querem descomplicar a vida e ficar por dentro de tudo aquilo que possa trazer bem-estar, felicidade e paz interior. É para se divertir, para entender de moda, de beleza, para conhecer lugares, deliciar-se com boa gastronomia, mas, acima de tudo, para valorizar as pequenas grandes coisas que estão disponíveis ao redor: as coisas simples e boas.

9 Comentários
  1. Faço minhas as suas palavras. Adoro banho de mar, piscina, etc., mas o vestiário é insuportável. Tu dão fica seca nunca por cauda da umidade do ar. Vestir-se é um tormento com a roupa grudando no corpo. É a visão do inferno!

  2. Ai Mariana, tu é engraçada mesmo… adorei, vou repensar se recomeço esse esporte que tanto amo. Desanimei um pouco, mas dei boas risadas… Tu é ótima!!! Bjs e bom final de semana111

  3. Tens total razão ao descrever a volta ao vestiário. A descrição do próprio é perfeita! Fiz aula durante 1 mês mas já no segundo dia provinciei um roupão e da piscina já ia direto para meu carro. Foi assim que consegui permanecer 1 mês. A visão do vestiário é dantesca!!!!

  4. É quando além de tudo isso as portas dos boxes, inclusive dos casos sanitários são de vidro transparente tendo apenas alguns detalhes jateados permitindo a “visão do inferno”?
    Sim, tentei fazer natação aqui na minha cidade, mas depois do vestiário desisti.

  5. Amei Mari… concordo totalmente contigo. Se eu pudesse tomar banho em casa certamente faria natação todos os dias… E o cabelo??? Ninguém me convence que aquela toca ridícula protege os cabelos… os meus ficam uma desgraça…

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