Cada vez que paro para olhar tudo o que anda acontecendo na SP Fashion Week, me dou ainda mais conta que não tenho nada a ver com aquele mundo. Durante mais de 20 anos cobri semanas de moda. No começo, tudo era novidade e não havia esse frenesi e esse non sense fashionista. As coisas eram mais profissionais, as profissionais eram bem menos afetadas, tratava-se de moda com naturalidade – assim como tudo deveria ser tratado na vida, inclusive a morte.
Com o tempo, com a indústria da moda crescendo, com o advento das top models, com o furacão Gisele e agora com as blogueiras e suas selfies de look do dia, tudo virou de cabeça para baixo. Todo mundo deveria passar pelo menos um dia nos corredores, bastidores e salas de desfiles da SP Fashion Week para entender do que estou falando. Todo mundo deveria acompanhar os bastidores de um editorial de moda para entender do que estou falando. Todo mundo deveria entrar na fila dos profissionais de imprensa para adentrar as salas de desfiles para entender do que estou falando. Não há palavras para a falta de educação, a deselegância, a arrogância e a prepotência da grande maioria.
NÃO HÁ PA-LA-VRAS
O que decidi então? Não preciso mais passar por isso. Não preciso mais aguentar cara de nojo de quem não conheço, não preciso mais que me empurrem, não preciso que roubem meu lugar e digam que dali não vão sair, não preciso ser analisada de cima abaixo porque não estou com uma melancia pendurada no pescoço ou com uma bolsa que não cabe nem uma única chave dentro mas que custou o preço de um carro, não preciso dizer “com licença, por favor, obrigada”e ser vista como uma alienígena, não preciso de sorriso amarelo. Não preciso, sabe assim?
Minha amiga Claudia Tajes sempre diz que eu deveria escrever o livro “Fashionista de Araque” em alusão ao meu primeiro livro “Peregrina de Araque”. E não é que dá vontade mesmo? Eu enxergo a moda como qualquer outro tipo de atividade, com dinheiro e profissionais envolvidos. Ponto. Gosto de ver a moda como sinônimo de comportamento de uma determinada época, como reflexo do lifestyle de cada tempo. Gosto de tratar a moda como a extensão da personalidade de cada pessoa, de usá-la como ferramenta para o autoconhecimento. No momento em que sei exatamente quem eu sou, usarei as ofertas que a moda me apresenta como subsídio para me vestir, como forma de apresentar para a sociedade quem eu sou de fato e não o personagem que criei para mim. Isso é libertador. É o momento em que a gente transcende todas as ditaduras e regras impostas para usar só aquilo que nos faz bem e ser exatamente quem a gente é.
NÓS MESMAS
E por falar em nós mesmas, viram que a Globo Marcas lançou camisetas e protetores de celular com a frase de Gloria Pires que se tornou bordão nacional já no primeiro capítulo de Babilônia? Virou meu mantra também. Basta me incomodarem muito para fazer alguma coisa, que sigo o exemplo de Glorinha.
Fazer parte do mundo fashionista? Não estou disposta. Só se for deste, olha!
JÁ PARA O CLOSET!