Aqui está o resultado da minha visita de Farroupilha por um Dia, publicada hoje em ZH. Não coube tudo em uma única página. A íntegra está no post abaixo.
Na tarde de terça-feira 10 de setembro de 2013, precisamente às 14h37, com sol alto e uma temperatura de 35ºC, pisei pela primeira vez no Acampamento Farroupilha sem nenhuma noção do que encontraria pela frente. Me vi sozinha no parque de 66 hectares, sem saber por onde começar a caminhar. Eu era uma espécie de turista em território desconhecido. Pensei como agiria um turista, e a conclusão foi óbvia: procuraria um guia. Encontrei a Prefeitura do Parque. O funcionário estava no telefone. Esperei que desligasse e perguntei.
– Boa tarde. Vocês oferecem serviço de visita guiada?
– Tem que perguntar lá no galpão do turista – ele respondeu.
FICA A 50 METROS NAQUELA DIREÇÃO
O galpão do turista vem a ser o Turismo de Galpão – e eu tive a sensação de ter alcançado o éden. Alguém falaria a minha língua. Fui extremamente bem recebida, inclusive com um copinho de água mineral sem gás. Logo fui informada que esta iniciativa existe desde 2009.
– Percebemos que o Acampamento Farroupilha é um ótimo produto turístico – contou Roque, o guia.
– Muitas pessoas têm procurado esse serviço de visita guiada? – eu quis saber.
– Tu é a primeira.
Nos reunimos em uma rodinha, eu, Roque e mais 10 funcionários do programa, todos devidamente pilchados. Roque pediu que eu me apresentasse para o grupo e logo explicou:
– Vamos conhecer três piquetes: Laços de Sangue, Rodrigo Cambará e Figueira do 35. Piquetes são locais que resgatam a cultura gaúcha. Esses três piquetes que vamos visitar têm projetos diferentes. Além do mais, contam com o selo Turismo de Galpão.
– O que isso quer dizer? – insisti.
– Há no parque 22 piquetes com esse selo. Quer dizer que todos foram submetidos a um programa de conscientização e precisam apresentar uma porgramação cultural para estar aqui – Roque explicou.
– Conscientização sobre o quê?
– Sobre coisas básicas, como, por exemplo, não preparar maionese nesse calorão. Este é o primeiro ano do trabalho de certificação. No ano que vem, há o projeto de fazermos um acampamento extraordinário, em junho ou julho, para quem vier à cidade assistir à Copa do Mundo.
– O Acampamento Farroupilha pretende ser um parque turístico então? – eu quis saber.
– O gaúcho sempre viveu sua cultura da porteira para dentro. Nossa ideia é que essas porteiras sejam abertas. Queremos mostrar a cultura do gaúcho para o mundo – ele esclareceu.
Chegamos ao primeiro piquete, Laços de Sangue. Roque me apresentou à senhora Gisa, a proprietária da casa que remete à uma residência da década de 1950, toda feita de barro e capim de Santa Fé e decorada com utensílios gauchescos.
– Pergunta sobre o colar dela, Mariana – cochichou o Roque.
– O que tem o colar dela? – eu quis saber.
– Foi encontrado em Restinga Seca e ela jura que tem 10 mil anos de idade.
– Dona Gisa, posso ver seu colar? – pedi
– E tem 10 mil anos mesmo? – perguntei.
Ela apenas sorriu, e eu achei a dona Gisa a maior fashionista do Acampamento Farroupilha. Inclusive, sou capaz de apostar que o estilista Ricardo Tisci, da Givenchy, veio de Paris diretamente para cá apenas para copiar a dona Gisa.
A segunda parada foi no piquete Rodrigo Cambará, também conhecido como o piquete do BBB. Mal sentamos para uma prosa e o proprietário, Renato Souza, já foi avisando:
– Vocês estão cercados por câmeras.
– Para qual finalidade? – eu perguntei.
– O gaúcho tem que olhar pra frente – ele disse. – O que as gerações passadas fizeram foi muito bonito, mas não podemos só lembrar das façanhas. O projeto das câmeras é no sentido de aproveitar a tecnologia para divulgar a tradição gaúcha. Nosso lema é “do harmonia para o mundo”. Qualquer pessoa em qualquer lugar do planeta que acessar o nosso site pode assistir online o que está acontecendo por aqui.
– E tem muitos acessos? – perguntei.
– No ano passado, foram 97 mil.
No caminho para o terceiro e último piquete da programação, Roque lembrou do poeta e folclorista Dimas Costa, autor do conhecido Parabéns Crioulo.
Parabéns, parabéns
Saúde e felicidade
Que tu colhas sempre todo dia
Paz e alegria na lavoura da amizade
Fomos todos caminhando e cantando o Parabéns Crioulo até a porta do piquete do senhor Dirceu, o Figueira do 35.
– Aqui vocês vão aprender sobre o chimarrão – informou o dono da casa, com a cuia e a bomba em punho.- Não esqueçam que nunca se passa o mate com a mão esquerda.
– E quem é canhoto? – perguntei.
– Ah, tem que dar um jeito de se adequar.
Em uma das paredes, lia-se os 10 Mandamentos do Chimarrão:
1º Não peças açúcar no mate.
2º Não digas que o chimarrão é anti-higiênico.
3º Não digas que o mate está quente demais.
4º Não deixes um mate pela metade.
5º Não te envergonhes do ronco do mate.
6º Não mexas na bomba.
7º Não alteres a ordem em que o mate é servido.
8º Não durmas com a cuia na mão
9º Não condenes o dono da casa por tomar o primeiro mate.
10º Não digas que o chimarrão dá câncer na garganta.
QUANTO TEMPO TU FICOU ANDANDO PELO PARQUE, MARIANA?
A visita guiada durou cerca de uma hora e meia. Após a saída do terceiro piquete, nos despedimos, tiramos uma foto da turma reunida e cada um seguiu seu rumo. Caminhava em direção à saida do parque quando olhei para o lado e vi uma imensa máquina roxa, de estilo futurista, que destoava daquele ambiente campeiro. Trazia o seguinte letreiro: “Distribuição gratuita de camisinhas”.
PODE EXPLICAR MELHOR, MARIANA?
Peço que não me façam perguntas difíceis. O que sei é que todos os lugares têm lá suas lendas. No Acampamento Farroupilha, reza a lenda que existe, escondido em algum galpão ou piquete, uma filial do Sofazão – e que o clima esquenta depois que o sol se põe. Mas isso eu já não sei e não posso responder.
NÃO FIQUEI PARA JANTAR O COSTELÃO
Mariana, q legal!
Pelo jeito, não foi algo doloroso de ser feito.
Teu texto ficou ótimo, divertido como sempre.
bj e bom feriado!
Mari,estou no meio do expediente quando leio :
“- Muitas pessoas têm procurado esse serviço de visita guiada? – eu quis saber.
– Tu é a primeira.”
Peeensa numa gargalhada que dei…todos na sala em silêncio pararam de trabalhar para me olhar…. hahahahahahah
Não me entenda mal Mari, apenas achei engraçado porque me imaginei na situação…
Adorei a forma como retratou uma “turista” no acampamento farroupilha, PARABÉNS!!
Fez um trabalho maravilhoso!!
Mas bá tchê, que tri! Pensa que foi melhor no calorão do que pegar esse frio de renguiar cusco né? hehehehe…Adorei Mari! Beeeejoooo.
Oi Mari muito legal a tua matéria, não tinha a menor idéia que era assim, tudo tão organizado. Mas eu passei aqui rapidinho para dizer que lembrei de ti ao ver um lindo cashmere de camelo (lindo) no site da JCrew, muito parecido com o do livro! Beijos
PS: sorry, não sei colocar o link da página
Adorei Mari.
E viu só,não foi tão ruim como aqueles inumeros comentários maldosos do outro dia.
Imagino tua situação,toda perdida.
Tenho piquete lá e vou o todo ano.Já fico contando os meses quando acaba!
E sobre as camisinhas…morri de rir o dia que vi,pois foi a primeira vez que colocaram!
Sábado vi um cara tirando com um sacolão daqueles de lixo preto..só imagino a festa…festa que ele fez enchendo bexigas com as camisinhas ahahahaahahahaha
Bjinho.
Parabéns Mari por ter se saído muito bem no desafio! Me criei no harmonia, meu tio tem piquete lá há 17 anos e minha família tem essa cultura e tradição nas veias. Hoje em dia vou bem menos, mas é maravilhoso estar lá e sentir toda a nossa tradição tão forte nessa época!
Beijos
Hahahahaha! Ninguém consegue descobrir onde fica o Sofazão, mas que existe, existe! Conhecidos que costumam ir no acampamento afirmam… mas pode ser para manter a lenda…
Mas vamos combinar, que lenda bem ridícula!
Amei saber da máquina de camisinhas, pois dá para entender porque desce tanta Maria Breteira depois das 19h.
Tivemos nova chegada rápida de bombeiros. Onde há bombeiros apressado, há fogo! kkkk
Vc chegou até ao “mercado” de carnes?
Mariana, que legal a tua abordagem nesse texto, te colocando como “turista”. Excelente argumento (inteligente e pertinente, aliás). Não é o tipo de programa que me tira de casa, mas eu acho que depois dessa, pessoas como eu reconsiderariam uma visitinha para matar a curiosidade.
Agora, cá entre nós, estou achando que gostei mais do colar da dona Gisa do que o do Ricardo Tisci para Givenchy. O dela é mais versátil
Não, Simone. Essa do mercado vai ficar pra próxima. Bjo. MK
Adorei!!!! Estava aguardando ansiosa só para ver como tu iria te sentir no Acampamento! Achei sensacional!! Bjs!
MAS QUE BARBARIDADE, MARI!!
Não sabia dos 10 mandamentos do chima… Tô pecando em uns cinco! heheheh
Vou ter que cuidar a partir de agora!
bj bj
Muito bom Mariana!!!
Já viu o vestidete que a Andressa Urach usou no lançamento da revista? SOCORRO!
Beijos!
eu li na ZH de ontem Mari, e adorei! a tua reportagem foi a melhor (puxando o saco) mas como sou tua fã, sim a tua de todas elas foi e será a melhor hehe adorei.
mas que BAHrbaridade…e eu pensando que eram camisinhas pra bomba do chimarrão…isso explica muita coisa então…kkkkkkkkk…um baita “quebra costelas” guria, tu és flor de especial!