Dia desses, me vi imobilizada em frente à prateleira de mostardas e pastas de dente do supermercado. Sim, era um daqueles dias de rancho em que se compra de tudo – de mostarda a pasta de dente. O que era para ser algo aparentemente simples (comprar um tubo de mostarda e outro de pasta de dente) tornou-se uma experiência aterrorizante. Simplesmente travei diante de tantas possibilidades.
No primeiro minuto, até achei divertido ter aquela infinidade de opções à mercê. Afinal, desfrutava de tempo livre (era fim de semana), já tinha almoçado (não estava desesperada) e não havia qualquer compromisso para depois. Fiquei ali, lendo um rótulo, lendo outro, admirando as embalagens, comparando os preços.
Mas os minutos foram passando, e eu continuava parada no meio do corredor feito um dois de paus sem saber o que colocar no carrinho. Fui ficando tensa.
Logo, a brincadeira perdeu a graça. Passei a sentir uma espécie de ansiedade fóbica, a pensar comigo mesma: “Não acredito que estou há 15 minutos encarando esses tubos de mostarda e não consigo decidir qual deles colocar neste maldito carrinho!”.
QUAL FOI A ESCOLHIDA AFINAL, MARIANA?
Então, o destino colocou no meu caminho os sábios ensinamentos do psicólogo americano Barry Schwartz. Naquele mesmo dia, li uma entrevista maravilhosa com ele que girava em torno de como é melhor reduzir o número de escolhas racionais a ser feitas na vida e seguir mais o instinto.
Barry é autor do livro O Paradoxo da Escolha e nele disserta sobre como o crescimento assustador do universo de escolhas tornou-se, paradoxalmente, um problema e não uma solução.
O Paradoxo da Escolha trata das escolhas com que nos deparamos em quase todas as esferas da vida: de educação, filhos e carreira a compra de tubos de mostardas e pastas de dente. Ele deixa claro que não está dizendo que a escolha não melhora nossa qualidade de vida, mas que muitas vezes ela pode, sim, gerar aquela ansiedade fóbica que eu senti no corredor das mostardas e uma certa insatisfação (será que comprei a melhor mostarda que tinha ao meu alcance?)
O livro apresenta prováveis razões que podem gerar insatisfação, com toda essa diversidade de escolhas. Algumas delas:
1) Examina como aumentou o conjunto de escolhas com que as pessoas se deparam diariamente.
2) Analisa o modo como escolhemos e mostra como as escolhas inteligentes são difíceis e o quanto exigem de nós.
3) Aborda o modo e o motivo pelo qual a escolha pode nos fazer sofrer.
4) Indaga se o aumento das possibilidades de escolha realmente torna as pessoas mais felizes, concluindo que isso geralmente não acontece.
5) Identifica diversos processos psicológicos que explicam por que um número maior de opções não melhora a situação das pessoas.
6) Apresenta uma série de recomendações para aproveitar o que é positivo e evitar o que é negativo na moderna liberdade de escolha.
AINDA BEM QUE CÃES SÃO SERES IRRACIONAIS
Esse assunto é tão interessante que escolhi para minha dissertação de mestrado. Além do Barry Schwartz (http://www.ted.com/talks/barry_schwartz_on_the_paradox_of_choice) a pesquisadora Sheena Iyengar (https://www.ted.com/talks/sheena_iyengar_on_the_art_of_choosing) é amplamente citada neste tema. Porém, na pesquisa que fiz, não encontrei a ‘sobrecarga de escolha’ que ela menciona. 🙂