Imagina encontrar a Valesca num supermercado fazendo compras e sentar para tomar um longo café com ela, bater um papo sobre diversos assuntos, desde os cuidados com o filho adolescente até a relação carinhosa com os fãs, passando pelas histórias de bastidores dos seus shows e da indústria musical, o último modelo de sapato que ela comprou, a amizade com os artistas que admira. Ou ainda sobre temas tidos como mais sérios, como as humilhações que a mãe sofreu no trabalho de faxineira e dentro de casa, onde enfrentou violência doméstica; a sua defesa da comunidade LGBT, o seu posicionamento sobre educação sexual ou o papel da mulher na sociedade?
Sou Dessas: Pronta para o Combate é mais ou menos como esse encontro hipotético com a artista, que começou a sua batalha profissional como frentista em um posto de gasolina, depois atuou como dançarina de funk num grupo de mulheres até se tornar a cantora que mandou um “Beijinho no ombro” para a sociedade e agora está lançando um livro para compartilhar a sua visão sobre os assuntos que a movem e contar histórias, de forma leve e divertida, sobre a sua vida. O lançamento está marcado para a próxima sexta-feira, 26 de agosto, na Bienal do Livro de São Paulo.
“SOU DESSAS: PRONTA PRO COMBATE”
Preço: R$ 29,90; Páginas: 192
Editora BestSeller | Grupo Editorial Record
Valesca não deixou de fora do livro nenhum assunto polêmico. Ela fala sobre aborto, liberdade sexual, os funks proibidões que cantava no início de carreira, as desavenças com as mulheres-fruta, a sua experiência num reality show da TV, as decepções com artistas que a ignoraram em bastidores de programas de TV e o preconceito que enfrentou para se estabelecer como cantora independente, sem gravadora, numa sociedade extremamente machista. Com a mesma elegância com a qual evita citar nomes de quem a destratou, ela conta que adora fazer caridade e ajudar mulheres e pessoas da comunidade LGBT que a procuram, mas não faz disso propaganda.
VALESCA: DEPOIMENTOS DE UMA MULHER DE VERDADE
A Valesca do livro é aquela que adora fazer compras e achar promoções no supermercado, mas que não pode mais se dar a esse luxo (luxo, sim!) porque são muitos os fãs que pedem para tirar foto e conversar e ela não deixa de atender ninguém, sem exceção. É a filha que chora ao lembrar do dia em que uma patroa se recusou a fornecer duas marmitas, para ela e para a mãe, num dia de trabalho. É a mãe que liga para o ex-marido de madrugada quando o filho não chega em casa no horário combinado e pede socorro para encontrar o rapaz. No livro, ela confessa que fuça o celular do filho e faz tudo o que pode para tentar saber se ele está fazendo alguma coisa errada.
Valesca diverte, emociona, faz pensar e provoca. Quando fala das letras de funk conhecidas como proibidões, ela conta que ajudou muita mulher a se libertar de maridos opressores ou a ver que elas podem sim gostar de sexo e exigir respeito. A diva manda recados para os meninos, ao condenar a cultura do estupro e as cantadas abusivas nas ruas, mas também alerta as garotas para o cuidado com a gravidez precoce e as doenças sexualmente transmissíveis.
ICÔNICO CARTAZ QUE INSPIROU A CAPA DO LIVRO
O jornalista Pedro Bial deixou seu depoimento no livro.
– Engana-se quem acha que o poder de Valesca está no popozão ou na pussy – a moça tem cabeça pensante. Provocando os homens, Valesca inspira as mulheres, dá exemplo de coragem e inconformismo – escreve.
A orelha da obra leva a assinatura da atriz Susana Vieira. Diz a atriz:
“Encantamento. Essa é a palavra que traduz o que senti por esta mulher desde que a vi pela primeira vez no palco do baile funk na comunidade de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro. Fiquei impressionada com a força e a beleza demonstradas por ela através da dança. Eu fico muito feliz, porque vi esta grande artista iniciando a sua carreira e desde então nos tornamos amigas e admiradoras uma da outra. E foi com muito orgulho e prazer que numa entrevista no Domingão do Faustão eu a homenageei cantando Beijinho no Ombro. Qual não foi a minha felicidade ao saber que, na trilha sonora da novela A Regra do Jogo, minha personagem teria como tema a música Sou Dessas, que, por ordem do destino, empresta o título a este livro. Um livro que conta um pouco da história desta guerreira e querida Valesca.”
MUSA LGBT, SÍMBOLO DO FEMINISMO E DIVA POP NACIONAL
Valesca Reis Santos nasceu no Rio de Janeiro, no bairro do Irajá. Ao longo de sua trajetória, trabalhou como frentista e em uma borracharia, até que, em 2000, iniciou como vocalista do grupo Gaiola das Popozudas. Em 2013, lançou-se em carreira solo com a música Beijinho no ombro e explodiu nas paradas de sucesso, tornando-se uma das responsáveis por disseminar o funk no Brasil e no mundo. Outros de seus hits são Eu Sou a Diva que Você Quer Copiar e Sou Dessas. De origem humilde, Valesca quebrou várias barreiras sociais e venceu preconceitos, sendo hoje considerada a rainha do funk, musa LGBT, um dos ícones do feminismo e diva da música pop nacional.